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Mirisola, o demônio

Veja abaixo o futuro encontro do escritor Marcelo Mirisola com o Senhor Yama, o Plutão dos hindus, senhor da morte, que encaminha as almas para seus devidos lugares(loka)… 😉
Mirisola diante do Senhor Yama
A convite do Wilson Neves e do Claudinei Vieira, fui a uma palestra do Marcelo Mirisola (do qual só conhecia um conto e alguns artigos publicados na internet) na Casa das Rosas (Av. Paulista) e lá – além de mil conversas fiadas onde ele explicava, entre outras coisas, como costuma “comer” em seus contos mulheres que não conseguiu comer na vida real (que chato, né, coitado) – ouvi o “causo” em que ele descobriu ser um demônio hindu, desaparecido há alguns milhares de anos, tendo sido perseguido por Ganesha ou coisa assim por todo esse tempo. Claro que, com razão, ele não acredita em nada dessa bobajada, principalmente se dita por um guru Hare-Krishna dos mais suspeitos. (Afinal ele só estava com os hare naquela praia de Florianópolis porque queria comer a mulher do guru, claro. Que não comeu, óbvio.) Mas a tiração de sarro do Mirisola, via-se claramente, era daquelas oriundas de um desprezo por qualquer tradição religiosa, seja hindu, cristã, muçulmana ou sei lá eu. Não era uma simples sacanagem com um surtado que se achava avatar. Além disso, o prazer que ele encontrou ao ser confundido com o tal demônio era mais que um fato ostensivo – era uma vaidade exibida. (Por que será que os mudernos gostam tanto de preferir o inferno a qualquer outra esfera(loka)? Se desprezam tanto a possibilidade da imortalidade da alma – como ele deixou bem claro – por que querem levar essa inexistente senhorita para os Quintos?) Lembrei-me inclusive do episódio que a Hilda Hilst adorava contar aos amigos e visitantes ocasionais.
Na UNICAMP, durante um seminário em que ela discorria sobre uma possível conexão entre ciência e poesia, um certo fulano, na primeira fila do auditório, não parava de se coçar e rebolar na cadeira. A certa altura, ele, todo empáfia, perguntou: “Peraí, a senhora acredita mesmo nesse papo furado de imortalidade da alma?” E ela: “Na imortalidade da MINHA alma eu acredito. Agora, se o senhor não parar de esfregar esse SEU saco, não terá tempo de constituir uma que sobreviva à morte do seu corpo…” A Hilda não tinha muita paciência com cabotinos.
Já eu, sabendo que o Mirisola é um cara inteligente, que apesar de tudo escreve bons artigos, e que debates sobre questões improváveis são infrutíferas, não iria comprar uma discussão com ele ali, em seu próprio seminário, e estragar o “faz parte do meu show” do ego dele. Depois de ouvir a leitura de dois ou três de seus contos pentelhos – leitura bastante capenga, vale dizer, pois ele parecia de saco cheio -, limitei-me a levantar a mão, assim que ele buscou por indagações, e fiz uma única pergunta: “Mirisola, você permite que eu acredite nesse tal guru e que veja em você o demônio do qual falou?” Ele riu, um tanto surpreso: “Acredite no que quiser”. Então tá, tenho a permissão para dizer: quem está dentro do horizonte delineado por Nietzsche – aquele que delimita onde estão e quem são os niilistas – vai gostar dos contos que Mirisola, o demônio, leu na Casa das Rosas. Eu não curti. Prefiro me colocar, à maneira de Mário Ferreira dos Santos, ao lado dos Homens da Madrugada. Mirisola escreve bem, mas ainda é um Homem da Tarde

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3 Comments

  1. daniel

    Atualizei o blog.

  2. Yuri,

    Gostei da sua crítica, e até achei educada, tendo em vista que vc ainda consegue achar literatura nessa geração nojenta. Eu , ainda fico com Campos de Carvalho…

    abraços,

    Foca

  3. Ana

    Então. Nossa literatura vem sendo representada por isso. A única profundidade que propõe, é a do interior da vagina.
    Viva Hilda!
    Agora, me diz: porque Hilda relacionou a ciência à poesia? E qual, exatamente era a relação?
    Ainda: o demônio que habita um ego não precisa crer em si mesmo. Ele só brinca que sim e que não. E os outro crêem.
    Beijo,
    Ana

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