blog do escritor yuri vieira e convidados...

A Brave New World

Um filme que marcou muito minha infância foi “O Vingador do Futuro”. Nele, Schwarzenegger tem uma experiência de imersão total numa máquina de realidade virtual e vive uma aventura hollywoodiana, em contraponto à sua vida monótona. Já em “Matrix”, outro filme que enreda na mesma pergunta – “O que é a realidade e o que é fantasia?” -, Neo já nasce e vivencia diariamente uma ilusão, de onde terá que lutar para escapar e salvar a humanidade. São, enfim, dois filmes de ficção com visões hipotéticas de para onde a tecnologia poderá nos levar.

E independentemente de se para um futuro dramático como em “Matrix”, ou cômico como no caso de “O Vingador do Futuro”, a questão que merece consideração é que a tecnologia é a vedete dessa transformação e ela está mais próxima do que parece. No mundo dos Games.

Um aspecto que me chamou a atenção nestes filmes foram as máquinas geradoras de realidade virtual. Ainda de forma embrionária, os game designers e programadores de simuladores de RV, com seus enredos e tecnologias em hardware e periféricos, estimulam e retro alimentam esses mundos virtuais. Atualmente fazem os jogadores imergirem cada vez mais e por mais tempo nestas fantasias. O nível de realismo não é apenas ditado pelos gráficos mais rebuscados que utilizam as placas de vídeo mais poderosas do mercado, óculos 3D e som surround, mas também pela criatividade em elaborar enredos cada vez mais complexos e que atendam agora também à necessidade de convívio social, como é o caso dos MMORPG´s “The Sims” e “City of Heroes”, entre muitos outros.

A realidade é que independente da “máquina”, pc, ou console, o conteúdo tem se desenvolvido paralelamente e, dentro desses mundos virtuais, já é possível assimilar conceitos e idéias que não poderiam ser aprendidos em uma única vida, na vida real. Mas, de certa forma, a existência de uma vida digital, ou muitas, dependendo do número de jogos em que se participe, permite que um garoto possa desenvolver habilidades políticas, administrativas, sociais e intuitivas. Muitos desses rpg´s online destacam valores que na nossa sociedade real se encontram nulificados pelo cotidiano moderno sempre ocupado pelo binômio trabalho-recompensa. E dentro dos games é possível encontrar oportunidades para mostrar o melhor de si fora dessas amarras, ser Schwarzenegger ou Neo.

Nestes mundos virtuais, onde há regras econômicas e de conduta – mas não há hegemonia de um único modelo econômico-social, cultural ou religioso – existe uma profusão de ideologias que se refletem nos “clãs” que se formam dentro dos jogos e, mesmo que de forma superficial, como é na maioria dos casos (muitas vezes apenas no sentido visual), já demonstram as possibilidades futuras, pois o cerne destes universos virtuais é compartilhar a experiência das aventuras ou “quests”, respeitando e convivendo com seres tão diferentes quanto possibilitem as combinações e a liberdade própria do jogo. E talvez seja essa habilidade específica de permitir a livre-imaginação-interação que atraia cada vez mais pessoas para dentro desses mundos. E sem dúvida as experiências obtidas nestes mundos virtuais tem respaldo e podem ser aplicadas no cotidiano. Isso já é ou não é matrix?

Imagino que a evolução do conteúdo dos Games e a seriedade com que venham a ser tratados possam, um dia, mantendo a característica inerente da diversão, ajudar a moldar o curso da história assim como grandes obras literárias ou filosóficas fizeram anteriormente, reinventando seu status de cultura “geek”, ou no melhor dos casos “pop”.

Anteriores

Pão em coreano

Próximo

Zeste Szego de Zeveja

3 Comments

  1. Meses atrás, aí em SP, li o conto do Philip K. Dick de onde saiu o roteiro desse filme. É uma história bem maluca, mas sem todas aquelas peripécias do filme. É tudo mais mental, uma viagem mais interior. Nela, o escritor prefere criar um clima de grande estranhamento, com uma certa pitada de humor. Comprei o livro no sebo do Messias…
    {}’s

  2. Caralho, eu nunca tinha pensado nos games desta maneira… Fiquei imaginando como seria o correspondente nos jogos ao “Werther”, de Goethe.

  3. Max Sander

    Olá
    Muito interessante mesmo. Mas é preciso que essa galera pare de vez em qundo pra poder digerir a experiência. Me parece que são tão viciados que fora dali só sabem gaguejar.
    Um abraço do
    Max

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén