blog do escritor yuri vieira e convidados...

A Brave New World 2

Meu primeiro texto foi inserido aqui pelo Yuri na sexta de madrugada e no fim de semana como não tive tempo pra acessar a página também não obtive a oportunidade de me apresentar e agradecer, o que aproveito pra fazer agora. Enfim, saudações a todos que aqui escrevem e lêem e espero compartilhar idéias e aprendizados com todos.

Essa continuação de meu primeiro texto é uma compilação de emails que troquei com meus amigos do curso de Ciências Sociais da USP – onde estudamos juntos e onde conheci o Yuri – e acho que explica um pouco melhor de onde tirei essas idéias, já que responde a algumas dúvidas e críticas quanto ao game ser uma ferramenta de transformação, em especial aos MMRPG´s (Massively Multiplayer Role Playing Game). Estou há anos estudando este tema por conta de meu trabalho, mas uma de minhas paixões também é a ficção científica e me baseei muito no Livro “A Cidade e as estrelas“, de Arthur C. Clark, que acredito ter influenciado o roteiro de Matrix mais do que qualquer outra fonte, porém também creio que a tecnologia seja apenas uma ferramenta poderosa, um meio, e não uma solução. Neste livro a tecnologia que contém todo o conhecimento do universo é usada para dar aos homens diversos tipos de experiências de vida através das “sagas”, mas Alvin, o protagonista, eleito como “Neo”, deixa de livre-arbítrio “Diaspar” em busca de conhecimento verdadeiro. Aproveito para postar também uma poesia de Carlos Drummond chamado “O homem; as viagens“, a qual apresenta como único destino do homem o retorno para dentro de si, e talvez neste caso a tecnologia apresse ou retarde essa busca. De qualquer maneira ela está aí…

Compilação de emails

E aí Chun, beleza? Só uma pergunta: tu não achas que essa diferença entre a liberdade possível (e relativa) de se alcançar no mundo virtual, pela falta desse sistema hegemonico que vc fala, e a realidade em si, com um sistema opressor e hegemonico, não pode gerar um enorme frustração nessa galera? Será que eles têm as ferramentas para lidar com essa frustração de maneira positiva, ou seja, empreendendo algo novo e novas formas de se relacionar (à margem do sistema, mas não fora) ou será que a reposta a isso é a violência contra os outros e contra si (alienação)? Outra coisa: tem Monkey em Santarem (PA)? Eu fui para lah no fim do ano passado e existem varias lan houses na cidade, todas lotadissimas. É engraçado, aquele puta calor, o rio e a galera com roupa de banda de rock (preta, claro) jogando video game ou na Internet.
Beijo

Oi Ana e biscuit, show de bola vcs terem lido, existe muita frustração sim pela falta de paridade entre os dois mundos, apesar de que no meu ponto de vista são complementares…o principal problema que existe é a ansiedade pela falta de respostas rápidas no mundo real, enquanto que no mundo virtual as situações e momentos são vividos quase instantaneamentes….o maior problema segundo um psicologo americano é que a geração “gamer” está perdendo a capacidade de enxergar a longo prazo, eles querem tudo agora e são extremamente hostis (ansiosos) em relação a trabalhos e situações da vida que requeiram paciencia e visão a longo prazo (mas particularmente acho que isso sempre fez parte da adolescencia, em qq epoca, mas pode ser um pouco mais agora….). Por outro lado, e estamos falando de games online com até 100.000 pessoas jogando simultaneamente o mesmo enredo e até mesmo influenciando-o, elas compartilham experiencias que provavelmente só poderiam vivenciar quando chegassem na idade adulta, como habilidades sociais, politicas e administrativas, além é claro do fator que eu julgo o mais importante que é a fantasia na vida das pessoas, isto é, li um texto que diz que qto mais fantasias a sociedade tem, seja atraves de mitos ou lendas e superstições, menos violenta (violencia gratuita) é uma sociedade, melhores são os mecanismos de “controle” social ( o controle não é de cima pra baixo e sim nivelado pois o mito é comum a todos) e melhor a relação entre os indivíduos desse grupo que entendem o mundo de uma forma uniforme, com regras e leis comuns.

Biscuit, uma coisa muito interessante que vejo nesse universo dos games online (que não são os games que costumavamos jogar onde tinhamos que seguir uma historinha basica e nao podiamos fugir daquilo…), são os clans, ou agrupamentos de individuos que se unem dentro dos jogos para atingir um objetivo ou simplesmente por afinidade (social, economica, ideologica, etc). Eles assumem uma identidade, muitas vezes um nome que traduz sua habilidade e que eles proprios escolhem, e apesar de alguns preferirem ser lobos solitários, a maioria prefere se agrupar ou se juntar a um grupo social, e como eu já vi, esses agrupamentos até assumem uma bandeira ideologica factual como por exemplo “os comunistas” que são um clan que joga um desses mmog (massively multiplayer online game) e usam a bandeira e as cores dos bolcheviques. Por natureza e ideologicamente são avessos aos americanos, se organizam em uma estrutura proto-comunista, mas na realidade não entendem a ideologia nem nunca a estudaram, são garotos ou adultos que apenas acharam legal se juntar a este clan para combater os clans dos americanos por batatas. Mesmo a realidade economica é bem diferente pois os escambos e a livre negociação são altamente estimulados, e de certa forma não existe a mais valia e sim a capacidade e o trabalho de cada um conseguir o que quer pelo esforço pessoal, pois os itens que o jogador quer não estão a venda, mas devem ser conquistados (uma coisa legal é que neste caso em muitos jogos já existe uma relação com o mundo real, alguns itens são vendidos no ebay por até 15.000 dólares).

Td isso é um campo fertil pra imaginação e se o jogo hj é só entretivo, ele pode se tornar uma ferramenta de libertação tb, pois ninguem impediu esses garotos de criarem seu clan, suas regras de conduta, seu modelo economico, ideologia e tb ninguem foi obrigado a entrar nestes clans. Acho que o sucesso desse tipo de entretenimento é na verdade um “grito” contra nosso modelo social e que existe muita gente inteligente que não encontra lastro nessa realidade atual, mas pode extravasar dentro desses mundos paralelos “abrir a mente” e até eventualmente influenciar outras pessoas com suas ideias.

[]´s chun

__________

Carlos Drummond de Andrade

O homem; as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

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1 Comment

  1. Olá Chun!

    Aqui é o Cebola! Que engraçado… andando pela blogosfera encontrei este blog, sem nenhuma pretensão… e, quase saindo dele, surpresa! O Chun escreve aqui! Legal!

    Esse seu texto em duas partes discutindo os MMOG’s é muito interessante. Eu particularmente acho que essas realidades virtuais, ou mesmo as redes sociais, tão na moda hoje me dia, acabam tendo os mesmos fenômenos sociais, econômicos, culturais que ocorrem no correspondente mundo real. Trata-se apenas de um meio diferente. Já discuti temas como o Second Life ou ainda coisas malucas de ficção científica em meu blog (sim, agora tenho um blog!) todas relacionadas à tecnologia e à cultura geek, hehehe!

    Falou!

    Cebola

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