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Woody Allen: mestre dos mestres

Ponto Final é o melhor filme de Woody Allen desde Desconstruindo Harry – e um dos melhores já feitos por este mestre do cinema. Talvez o melhor de seus filmes sérios. (Para mim, não necessariamente nessa ordem, seus cinco melhores filmes são: Ponto Final, Desconstruindo Harry, A Rosa Púrpura do Cairo, Zelig e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa).

Pouquíssimos diretores, muito poucos mesmo, talvez nenhum outro, além de Woody Allen, têm a capacidade de dirigir uma comédia de fazer o espectador arrastar no chão de tanto rir, e uma tragédia profunda e universal. Quem mais? Qual dos grandes mestres tinha esse talento? Talvez Almodóvar se aproxime, mas seu estilo é, digamos, muito mais mesclado, quando faz filmes que fazem rir – eles são ao mesmo tempo dramáticos e engraçados e têm algo de fantásticos na crueza com que mostram a realidade.

Esse talento de Woody pode ser conferido de forma mais direta no ótimo, embora não genial, Melinda e Melinda, que antecedeu a Ponto Final. Nele, uma mesma história é paralelamente contada sob a forma de drama e como comédia.

Não deixa de ser irônico que, acuado por dívidas e cada vez mais desprezado pelos estúdios americanos, Woody tenha aceito o convite da BBC para transplantar seu roteiro, originalmente ambientado em Nova Iorque, para Londres, e que daí tenha surgido essa obra-prima; mais que irônico, deliberadamente sacana, o fato de que o pivô da história, a aspirante a atriz e estranha no ninho da aristocracia britânica, interpretada por Scarlett Johansson, seja americana. Se não viu, veja e entenda por quê.

Ser genial é pegar uma história simples, trama universal já mil vezes filmada, e refazê-la com sutileza e profundidade dostoievskianas (aliás citado aqui e ali no filme). Ponto Final é muito cínico e espetacular.

Pensar em Woody Allen me lembrou o texto sanguíneo da Hilda Hilst que o Yuri publicou há alguns dias neste blog:

“Bizarro? Põe bizarro nisso, bicho! E como é que vocês queriam que fosse, esse que escreve coisas geniais? Certinho, arrumadinho, abstêmio, fino, dissimulado, pactuando com elegância com todos os ignóbeis donos da miséria e do Poder?”

Ave, Woody!

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2 Comments

  1. Max Sander

    Caro Pedro
    Incrível vc esquecer justamente de “Crimes e Pecados”, unico que pode ser comparado a esta última obra prima.
    Um abraço do
    Max

  2. Também estranhei a ausência de “Crimes e Pecados”. Acho o melhor dele, embora me falte muitos (“Melinda” e “Harry”, por exemplo), porque andei perdendo a paciência com o Mr. Allen. Particularmente, gosto também de “Alice” (simples e divertido) e “Tiros na Broadway” (hilário). “Zelig” eu achei bem bobo, mas sei que muitas pessoas gostam. Mas sobre “Ponto Final”, que (ainda) não vi, o que mais tenho ouvido falar é uma frase bem particular. Algo assim: “É Woddy Allen, mas é bom, é diferente”… Abraços. R.

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