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Não somos malvados

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A briga é feia. De um lado as grandes gravadoras, defendendo seus lucros milionários. De outro artistas em início de carreira, ou nem tanto, criticando as gravadoras por não dividir o bolo. No meio, programas p2p (peer to peer) para download de milhares de músicas piratas, retirando o lucro de ambos.

Enquanto as forças em jogo tencionam o cabo-de-guerra, surge o Magnatune, idéia genial de um pacato californiano de Berkeley, John Buckman, cuja pretensão não é pequena. “Acreditamos que toda música deve ser compartilhada. Assim como um software, você deve ser capaz de experimentar, avaliar e passar adiante para os outros música de qualidade – no processo de comprá-la”, escreve Buckman em seu site. Em essência, o site quer eliminar os atravessadores do processo de comercialização de música no mundo. “Quando minha mulher assinou um contrato com uma gravadora britânica, ficamos muito animados. Ao final ela vendeu 1000 CDs, perdeu os direitos sobre todas as suas músicas por 7 anos e recebeu um total de 137 dólares em royalties. E eles eram um dos mocinhos”, explica.

Buckman resolveu criar uma estrutura de comercialização de músicas totalmente baseada na Internet e no conceito de shareware. Assim como podemos baixar uma versão limitada de um software qualquer, só para experimentar, e depois, se quisermos, comprar o pacote completo, no site do Magnatune pode-se ouvir, pelo sistema de web-radio (basta ter o winamp instalado), um álbum inteiro e só então comprá-lo (o pagamento dá acesso a uma área restrita do site onde você pode fazer o download). Além disso, 50% do valor pago vai direto para o artista, sem burocracia, sem pedágio. Todo o comércio é feito on-line e, por fim, o consumidor pode escolher o quanto quer pagar. O lance mínimo é de US$ 5,00 mas o recomendável é US$ 8,00. Para o consumidor brasileiro, isso significa comprar um álbum por R$12,00 sem sair de casa.

O Magnatune, porém, não é apenas uma loja virtual. Para oferecer este tipo de preço, o projeto foi obrigado a tornar-se um selo alternativo, capaz de lançar seus próprios músicos. Eis mais um dos trunfos do projeto: a qualidade. Segundo Buckman, atualmente é possível encontrar músicos capazes oferecer qualidade digital de gravação em ambientes alternativos, graças ao desenvolvimento da tecnologia e, claro, do funil criado pelas gravadoras tradicionais, cujos critérios de seleção estão baseados mais no volume de vendas do que na qualidade artística. A aposta do Magnatune é simples: há música de qualidade circulando fora da grande indústria fonográfica, o necessário é torná-la acessível.

E ele não está brincando. Atualmente estão cadastrados no projeto cerca de 228 artistas de todo o mundo, 488 álbuns completos, o que equivale a mais ou menos 6435 músicas, abrangendo desde o clássico anterior ao século XVI até a mais moderna música eletrônica mundial. E é coisa exclusiva.

Entretanto, o maior apelo do projeto é mesmo político. Num ambiente dominado pelas grandes gravadoras, o mote escolhido por Buckman para divulgar o site é cristalino: “we are not evil”.

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7 Comments

  1. bruno costa

    Genial! Obrigado pela dica, Daniel! Pessoal, dêem uma escutada nas suítes pra cello do Bach com um dos maiores violoncelistas da atualidade, o pernambucano Antonio Meneses. E tem Trevor Pinnock também, que fez minha cabeça e a de muita gente com a interpretação dos concertos de Brandenburgo, só equiparada hoje a do Jordi Savall. O que será do mundo quando todos possuírmos computadores e internet? A internet é hoje o único bastião da liberdade e da democracia: ponto.

  2. Meu instinto paranóico básico tem uma pergunta diferente, Bruno: o que seria de nós se essa turma que deseja controlar a Internet lograsse seu intento? Me refiro à ONU, China, Coréia do Norte, Paquistão, Irã, Cuba, PT…

  3. bruno costa

    Pois é, meu velho, é um chute meu, bem entendido, mas acho que a internet nunca poderá ser controlada totalmente, e, quem sabe, nem mesmo de longe. Assim como hoje todo e qualquer programa, formato proprietário, proteção etc etc pode ser quebrado. Se foi escrito por um homem, pode ser quebrado por ele. Se foi escrito por um alienígena, talvez um DVD Jon possa quebrá-lo. Não acredito nem na suposta infalibilidade da criptografia quântica. Mas vai saber… abração

  4. Bom, Bruno, o melhor controle da internet que conheço é o de Cuba: nenhuma residência tem internet. Não é assim que o PT queria controlar as armas? Tomando-as e proibindo-as? Pois é, quero ver um hacker, em Cuba, quebrar uma senha sem dispor dum PC, duma conexão, dum…

  5. bruno costa

    hahaha! è vero… e se nós mandássemos um notebook com uma conexão superwirelesssateliteProPlus pra um hermano de Cuba? 🙂

  6. Paulo Paiva

    Fantástico, fantástico! Fico impressionado com a capacidade de renovação do capitalismo de que os EUA são capazes. Não é à toa que é de lá que vem quase tudo de novo, pois é onde o nível de liberdade e oportunidade atinge o mais alto grau no mundo. Fico imaginando o monte de gente que deve ter criticado os “porcos capitalistas” da indústria fonográfica (antigo isso, hein?) enquanto tomavam cerveja no bar! He, he, he, he! Foi preciso que um americano (é claro) propusesse algo totalmente diferente, que está funcionando simplesmente porque é uma boa idéia! “Mas e a indústria vai deixar?”, pensa o ressentido, “Mas eu sempre pensei e disse que as grandes gravadoras esmagariam qq iniciativa que ameaçasse seus lucros!”,”Não, não! Eu não posso ver a luz!!! Arrrrrgh!”

  7. daniel christino

    Por isso gosto do mote deles Paulo: “Não somos malvados”, ou seja, somos os capitalistas do bem!!! Você compra o CD da Shakira porque quer. Se não quiser, ou quiser outro tipo de música, vá ao Magnatune. E você ouve TUDO antes de levar pra casa. As gravadoras, por outro lado, são atravessadores (lembra do que aconteceu à mulher do cara?). É como se você fosse comprar milho direto na fazenda e o cara ainda te desse uma espiga cozida para experimentar. O capitalismo se reinventa.

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