Se ela entrasse agora, se ela rompesse o silêncio deste quarto e seu riso enchesse a casa com a graça de mil borboletas desgovernadas, não haveria choro esta tarde. O carinho morno, espesso, quase explosivo, que brota do meu peito, encontraria um pouso feliz no frescor dos seus ombros nus. Mas ela mora longe, ela tem de chegar cedo, ela não vai entrar por esta porta e espalhar o brilho das suas mil borboletas. E o meu carinho, já pálido e desamparado, vai escorrer vagaroso, com o suor, e deixar no lençol molhado apenas a marca efêmera de mais uma solidão.