A graça está no fim do texto. Do Locutório, por Simone Iwasso

Isso porque a empresa é de comunicação…

O repórter recorre à secretária: faz mais de um dia que meu celular do jornal não dá sinal. Tem como trocar o aparelho? Precisa ver com o setor lá de baixo que cuida dos equipamentos. Vejo isso pra você, ela responde. Vai, volta e dá o recado: a responsável falou que é pra você tirar o chip e a bateria e ligar de novo. Já fiz isso, argumenta. Aproveita que alguém ia para o mesmo local e pede para dar o recado à tal responsável. A pessoa vai, volta e solta: olha, ela disse que é pra tirar o chip e a bateria e ligar de novo. Já sem paciência, liga ele mesmo. Ela, meio crédula, fala então deve ser então algum problema com a operadora.

O dia passa e nada. Na outra tarde. Tenta de novo com a secretária. Tem de comprar outro então, diz. E quanto tempo isso demora? Ah, um mês mais ou menos, precisa fazer o pedido, esperar aprovação para depois fazer a compra. E o que eu faço enquanto isso? Posso pegar outro celular da editoria? Não, não pode. Por que não? Porque não pode. Irritado, vai procurar o editor no dia seguinte. Por fim, consegue usar outro que estava sobrando.

Ao colocar o chip e finalmente voltar a ter acesso à sua linha, checa mensagens e recados acumulados. Entre coisas pessoais e profissionais, retornos de entrevistas, aparece três mensagens de voz da responsável do setor lá de baixo. Na primeira, ela dá o retorno: estamos verificando com a operadora se o problema é do aparelho ou da linha. Na segunda, ela comunica que não há nada de errado com a linha e então deve ser do aparelho. Na terceira ligação, com voz ofendida pela falta de retorno, ela pede, por favor, para que ele retorne e assim eles vejam o que é possível fazer.

É surreal, mas aconteceu com um amigo.
Escrevi, com autorização, porque fazia parte da série crônicas prontas da vida real.