blog do escritor yuri vieira e convidados...

Tropa de Elite vence em Berlim

Pronto, agora já posso me aposentar enquanto advogado de defesa (de boteco) do filme Tropa de Elite: esse filmaço acaba de receber o Urso de Ouro em Berlim, de um juri presidido pelo Costa-Gavras. (Hehehehehe!!) Qualquer hora irei descrever a hilariante discussão que tive, durante um festival de cinema em 2007, com o curador de um festival carioca, um desses ranzinzas anti-Tropa de Elite. (Discussão essa que, desconfio, acabou afastando a até então, segundo me disseram, a até então “garantida” participação do meu curta no festival dele. Sim, meu curta, no qual o protagonista reclama dos filmes que “só fazem a gente achar bandido gente boa, saca?”)

E neguinho ainda estava impressionado com a crítica boba da Variety! O otário do jornalista estava tão ideologicamente azedo que, com seu senso estético politicamente ofuscado, chegou a detonar a ótima fotografia e a excelente câmera do Lula Carvalho. Incrível.

Conforme discutíamos eu e o Pedro no Google Groups do Garganta, onde temos escrito muito mais do que no próprio blog:

Eu: “neguinho ideologizado só vê ideologia no comportamento e na opinião alheia. lembra do que conversamos no Mercado, durante o show de jazz? o Bope tortura e mata de fato. puxar a sardinha pro Bope teria sido não mostrar que fazem isso. mas o filme mostra, logo, não há heróis de verdade no filme, apenas gente perdida em diferentes níveis. o problema da crítica esquerdista, no fundo, é a narração em off que gera empatia pelo Capitão Nascimento. se essa empatia é colocada pelo público acima da razão — essa razão que nos diz que torturar e executar sumariamente é um mal — isso não é culpa do Padilha. é culpa, sim, dos próprios revolucionários, uma vez que sempre acusaram a consciência moral de mera frescura “burguesa”. foram eles que relativizaram a questão moral, difundindo em seguida, no ambiente cultural, tal ponto de vista. ou seja: para eles, vale executar e torturar pela causa esquerdista, não pelos princípios e valores tradicionais, quais sejam, no caso, a ordem e a família. e não percebem que torturar e executar sumariamente é errado em qualquer das situações. do contrário, por que não falam sobre as arbitrariedades cubanas, chinesas, coreanas? apenas a tortura de direita é do mal? o filme é muito bom. tomar no culo esses caras. ”

E o Pedro
: “É o que falamos aquele dia tb, Yuri. No fundo acho que as pessoas se borram de pavor ao depararem consigo mesmas, all of a sudden, sentindo empatia pelo Capitão Nascimento. Como posso empatizar com um torturador? Logo, ele é humano, logo eu tb poderia ser um torturador. Resultado, pavor. Conclusão, melhor negar.”

Anteriores

Os cartões do Füher de Brasília

Próximo

Metrô — 7

3 Comments

  1. Eu acho que o prêmio foi merecido, é um puta filme.

    Mas eu tava comparando Tropa de Elite com Meu nome não é Johnny – no que eles têm em comum, ou seja, a figura do traficante classe média. O preço que o tropa de elite pagou por adotar a perspectiva do capitão nascimento foi a impossibilidade de um retrato mais humano dos traficantes. A construção da figura do “herói” não admitiria isso. Cap. Nascimento é um herói sob pressão – um herói possível num contexto de guerra (como o Rambo I, também um bom filme). A galera se indentifica com o Nascimento porque, na mesma situação, agiria de forma igual. A coisa só fica patológica quando te oferecem a oportunidade entre ser ou não o Cap. Nascimento. Se o cara diz sim, então ele tem tendências meios nazistas com certeza. Como os babacas que querem ser Rambo ou John Maclain ou Cobra ou Dirt Harry.

    Eu acho que nada iria deixar mais claro a merda da vida do Cap. Nascimento do que a morte de um inocente. Imagina o Cap. Nascimento pegando a 12 pra fazer uma cirurgia plástica no João Estrela? Acho que daria um bom roteiro.

  2. filipe

    não discordo muito de vcs dois, yuri e daniel, mas na minha opinião o tropa de elite não chega nem perto do there will be blood. o filme brasileiro é muito bom, mas não seria exageiro comentar que só ganhou o prêmio máximo do festival de berlim por conta do costa-gravas. talvez isso fosse até motivo de maior orgulho, se eu nao soubesse do gosto do grego pelo tipo de polêmica abordada no tropa.

    o filme do anderson é excelente e o day-lewis está impecável. arrisco dizer q é o melhor trabalho do cara. aliás, somente o fato dele ter perdido o prêmio de melhor ator pro iraniano reza najie me deixou louco pra conhecer o the song of sparrows.

    se o daniel achou a perpectiva do cap. nascimento muito intrigante, precisa conferir (se é q não já o fez) o seu chará irlandês. é foda!

  3. Cara eu sou fã do meu chará. Quando assisti a Gangues de Nova York pensei: “putz! sem esse cara o filme seria uma merda”. Ele carregou o filme do Scorcese nas costas. A cena dele no teatro e, depois, sentado à beira da cama do Leonardo Dicaprio são fodas. Ele é muito, muito bom.

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén