Embora a maioria dos ministros do Supremo neguem que o debate travado pela liberação das pesquisas de células-tronco embrionárias seja sobre aborto – e insistem que essa discussão é pautada pela Igreja – um deles, Celso de Mello, aprofunda racionalmente a questão e levanta a dúvida:

Vocês sabem, resisti muito a ligar uma coisa a outra. Para mim, no próprio voto de Britto havia uma manifestação antiaborto, quando ele lembrou que o embrião, no útero, sem intervenção, resulta num novo ser. Estava enganado. O aborto, para alguns, está em votação!

A questão agora é sobre as restrições propostas pelos ministros. Segundo os cientistas que desejam a liberação das pesquisas, tais restrições as inviabilizam. E por quê? Porque propõem-se liberar as pesquisas, desde que os embriões não sejam destruídos.

Assim, admitindo que há dúvida quanto ao início de uma vida, que não faça nada, então. Porque na dúvida entre a possibilidade de matar ou não alguém, o que você faria?

Enfim, é um avanço no debate de idéias no Brasil, discutir o assunto claramente. Discute-se, em questão, o aborto, não o estudo de células-tronco. E isso não tem nada a ver com religião, mas de princípios do Direito Constitucional.