blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: pedro novaes Page 20 of 33

Infância paulistana ou O cano e a chupeta

O Cano e a Chupeta

By Diogo Padgurschi/Folha Imagem

O fundo buraco da violência

Desnecessárias, em minha opinião, quaisquer teorias conspiratórias para a explicação da tragédia paulistana. Não consigo não ler psicanaliticamente essa necessidade infantil de achar um culpado, discernir o bem e o mal, numa complexa situação em que há muitos responsáveis (quase todos nós e nossos antepassados aqui nesses trópicos) – uns mais e outros menos, diga-se de passagem. Não adianta apontar o dedo, chorar e ranger os dentes. O buraco é muito fundo. É a falência de um projeto de sociedade. Eu não vejo luz no fim do túnel brasileiro. E isso não é só culpa do PT. É também. Mas também é minha e sua.

Aqui está uma visão equilibrada sobre o assunto: o comunicado público emitido pela Justiça Global. Para outras opiniões inteligentes, vale clicar também no sempre sábio Cláudio Weber Abramo.

A Justiça Global, organização não-governamental de direitos humanos, expressa sua mais veemente condenação aos atos de violência que tiveram lugar no estado de São Paulo nos últimos dias, e também à resposta das autoridades estaduais a esses atos.

Para cultivarmos nossa raiva

Élio Gaspari, na Folha de hoje:


ELIO GASPARI


A diplomacia do trivial delirante

É do chanceler Celso Amorim o qualificativo “nosso guia” para designar a clarividência diplomática de Lula. Bajulá-lo, elevando-o à condição de líder mundial, faz parte do ritual de oferendas-companheiras. O senador Aloizio Mercadante, por exemplo, escreveu que “não há líder no planeta que não queira se reunir com ele para trocar idéias e percepções sobre a construção do futuro”. “Em nossa região, a maioria dos chefes de Estado busca seu conselho.” Será que foi o caso de Evo Morales?

Informação sobre os safados

Mais uma da Transparência Brasil: o mecanismo Multibusca, que realiza buscas de informação sobre pessoas ou empresas (um político ou uma certa empreiteira, por exemplo) em vários bancos de dados disponíveis na Internet:

  • Supremo Tribunal Federal;
  • Tribunal Superior Eleitoral e Tribunais Regionais Eleitorais;
  • Comissão de Valores Mobiliários;
  • Senado Federal;
  • Câmara dos Deputados;
  • Projeto Às Claras;
  • Projeto Deu no Jornal;
  • Projeto Desempenho em Licitações nos Municípios de Santa Catarina;
  • Ministério Público Federal;
  • Também está disponível a página de Emissão de Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral da Receita Federal (para pesquisa situação de regularidade cadastral de empresas a partir de seu CNPJ).

Parabéns à Transparência uma vez mais.

O Desejo II

Você viu o que fizemos com o tempo? Viu o temporal que despencou sobre a cidade, derrubando árvores e alagando essas casas da periferia? Viu o caos, a falta de luz e os transformadores explodindo em grande clarões no crepúsculo de chumbo? Viu também como, apesar das pesadas e inesperadas nuvens, o Sol insistia em penetrar por certas frestas numa luminosidade amarela densíssima que revelava o perfil dos fios de água em seu trajeto entre o céu e a terra? Tudo porque fomos nos apaixonar.

Feia, feia, feia

Feia

E tem mais…

(Via Alexandre Soares Silva)

O Desejo

O que me espanta e angustia é toda a calma. Toda essa calma, enquanto sob nossos pés ruge essa corrente violenta, veloz e ameaçadora. Eu olho para os quadros, parados e em pleno esquadro na parede e sinto o tremor sob a planta dos meus pés. Olho para os livros na estante, comportados e, com o canto do olho, vejo o turbilhão lamacento sobre o qual flutuamos no vazio. Os copos, as facas e os garfos, em seu insuspeito toque frio, e o rio. O rio, sempre o rio. Ai de mim. Outro dia, me deixei distrair e, inadvertido, mergulhei o pé na corrente vermelha e espumosa. Fui tragado instantaneamente. E não sei nadar.

Borges sobre o Barraco

Sigo em minha grande cruzada contra o barraquismo deste blog e em dia de escritores argentinos. De Jorge Luís Borges:

“… la idea de que alguien gane en una discusión es un error, porque, qué importa; si se llega a descubrir una verdad, poco importa que salga de “a”, de “b”, de “c”, de “d” o de “e”. Lo importante es llegar a esa verdad o es indagar esa posible verdad. Pero, en general, se ve a la conversación como una polémica, ¿no?; es decir, se entiende que una persona pierde y otra gana, lo cual es un modo de estorbar la verdad o de hacerla imposible. Esa mera vanidad personal de tener razón; por qué tener razón. Lo importante es llegar a la razón, y si alguien puede ayudarnos mejor.”

Sábato e o mal da razão

Outro dia publiquei aqui um excerto de Ernesto Sábato, meu escritor favorito, embora não seja o autor de meu livro favorito, que é, de longe, Grande Sertão Veredas.

Sábato me fascina pelo conjunto da sua obra, pela especificidade de cada uma, pelos territórios que explora – trevas e angústia, desespero e loucura, impotência – e pelo ser humano que é, desesperado e apaixonado, racional e absolutamente descrente da razão.

Entre Nagasaki, Chernobyl e a Rua 57 em Goiânia

Completam-se hoje 20 anos do maior acidente nuclear da história, a explosão do reator da Usina de Chernobyl, na Ucrânia, à época parte da URSS. Pouco mais de um ano depois, deflagrava-se o maior acidente radiativo já ocorrido no Brasil e quiçá também um dos maiores do mundo: a tragédia latino-americana do Césio 137, em que catadores de sucata romperam a cápsula com material radiativo de um aparelho radiológico abandonado, levando à morte de quatro pessoas e à contaminação de milhares de outras bem aqui, a alguns quilômetros da minha casa.

Vinte anos depois, a humanidade se vê às voltas com a possibilidade da retomada da opção nuclear e de nova corrida armamentista. Aquela para a geração de energia, em função do aquecimento global fomentado pela queima dos combustíveis fósseis; esta, em função da loucura fundamentalista.

O dia enseja uma reflexão. Por isso, acho que vale publicar um texto meu escrito há cerca de um ano e meio atrás, após um passeio de bicicleta passando pela famigerada Rua 57 num feriado de finados. Assim como vale à pena assistir ao filme The Last Atomic Bomb, do americano Robert Richter, sobre as vítimas da bomba atômica de Nagasaki, um triste e bonito manifesto pelo fim das armas nucleares, selecionado para o VIII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que acontecerá entre 6 e 11 de junho na Cidade de Goiás (GO) (há uma cena
muito impressionante do encontro e diálogo entre um sobrevivente de campo de concentração nazista e uma velhinha japonesa sobrevivente da bomba de Nagasaki – de arrepiar).

VIAGEM URBANA NO DIA DE MORTOS
(Texto escrito em dezembro de 2004)
Neste feriado de mortos, tive uma viagem urbana.
Tenho duas pessoas que moram dentro de mim. Por isso, gosto da cidade, da urbanidade, assim como gosto do mato. Sou cético e, ao mesmo tempo, profundamente esperançoso.
Duas coisas me atraem na cidade: a decadência em toda a sua humanidade, assim como a humanidade em toda a sua decadência.

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