blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Mais Monteiro Lobato

Nos últimos dois meses já li “Miscelânea”, “America”, “Na antevéspera”, “Onda verde”, “Mundo da Lua”, “Prefácios e entrevistas”, “Problema vital”, “A barca de Gleyre” e “Idéias de Jeca Tatu”, todos do Monteiro Lobato, uma verdadeira overdose de leitura, livro sobre livro, algo que costumo fazer sempre que me apaixono pelas palavras dum escritor. E já fazia tempo que não me apaixonava literariamente. Todos esses títulos fazem parte da “obra para adultos” do José Renato – ele passou a assinar José Bento apenas para usar a bengala do avô, cujo castão trazia as iniciais JBML. E estou chocado: o cara é certamente o maior escritor da primeira metade do século XX e só falam nele como se fosse “apenas” o pai da Emília. O cara foi um gênio incansável, um visionário, e metia o bedelho em tudo: política, economia, indústria, ciência, comércio, filosofia, artes, literatura, etc. e isso não apenas pela palavra como também pela ação, tendo lançado a primeira grande editora do país, procurado petróleo e estimulado a mineração de ferro, a construção de estradas e o saneamento. Perto dele, a obra do Mário de Andrade é uma sujeirinha sob a unha do dedão do pé da cultura local. E olha que a li quase toda, a obra do Mário, isto é, seus dois únicos romances: Macunaíma e Amar, verbo intransitivo.

Do “blog” do Monteiro Lobato

Trecho do livro Mundo da Lua, no qual Monteiro Lobato reuniu anotações de seu diário (estou mantendo a grafia do autor, sem acentos “inúteis” e outras coisinhas mais):

Quadros da vida

Tarde linda ontem. Conversamos á janela, eu e o Quim, sobre a ação ideologica de Rui neste país e sobre a ascenção ininterrupta da grande figura nacional.
– Sobe sempre…
– Já aquele desce sempre, observou Quim.
Referia-se ao Pedro Inchado, mendigo habitual da nossa rua. Lá vinha ele, todo farrapos, imundo. Ha mendigos decentes, que guardam a compostura da miseria. Este perdeu tudo e é no moral tão roto como no fisico. Sem camisa – um trapo de paletó sobre o couro gafeirento; sem ceroulas – vêem-se-lhe pedaços de perna pelos buracos da calça imunda. Passou por nós e apanhou uma ponta de cigarro.
– Desce sempre. Ha meses pilhei-o querendo apanhar um cigarro; olhava para os lados a ver se era observado. Perdeu já este ultimo pudor…

Loterias

Contou-nos um velho vendedor de loterias coisas curiosas de sua vida de bufarinheiro de esperanças. Desde mocinho só fez aquilo: vender a esperança da riqueza. Já deu duas sortes grandes e varias pequenas. Uma vez…
– Uma vez aconteceu um caso interessante. A sorte andou por cá procurando quem a quisesse. Ninguem a quis. Vendi todos os bilhetes que tinha, menos um, o premiado. Para não ficar com esse encalhe, dei-o a um compadre meu que seguia para S. José. “Venda-o por lá.” Assim foi. Um sitiante comprou-o no caminho, mas achou feio o numero e vendeu-o a um guarda-livros de lá, muito boa peça, rapaz serio, trabalhador, pai de tres filhos. Nesse mesmo dia saiu-lhe a sorte – cem contos.
O moço foi ao Rio receber o dinheiro e lá ficou meses, a meter o pau no cobre.
Voltou um perdido, um bebado, e hoje anda por aqui, rolando…
– Por aqui? Como se chama?
– Pedro. É o Pedro Inchado, não conhece?

Bye bye, eBooksBrasil.com

Quarta-feira fui à festa do Digestivo Cultural no Public Pub (sobre a qual falarei assim que acabar a ressaca) e lá, enquanto conversava com seu editor, o Julio Daio Borges, me veio à lembrança o Teotônio Simões, idealizador e mantenedor do site eBooksBrasil.com, que esteve na rede por mais de cinco anos distribuindo ebooks gratuitamente e nos deixando a par das últimas novidades tecnológicas ligadas à revolução dos livros digitais. O Teotônio foi um herói da resistência, resistência esta que acabou neste mês de Outubro de 2005. Veja sua mensagem de despedida:

NOJO

A mulher mais linda do Brasil já foi um homem. O maior macho do Congresso é uma mulher. E o líder intelectual do Brasil é um semi-analfabeto. Temos que formar uma geração de analfabetas de nascença para que as luzes cheguem ao nosso país. Livros? Deus nos livre deles!

Ele também dá uma explicação mais detalhada em seu blog.

Fiquei chateado com a novidade. Além do meu livro o Teotônio contribuiu inclusive na divulgação do único ebook da Hilda Hilst que circulou pela internet – O Caderno Rosa de Lori Lamby – feito a partir do projeto original do Massao Ohno. O site tinha centenas e centenas de livros em diversos formatos. Quem estava ligado, se deu bem, montou sua própria biblioteca digital. (Eu tenho um CD cheio deles.) Quem bobeou, dançou. A começar por este país que ainda segue atrás do Mula…

Livro esgotado

Depois de a página do meu livro, neste site, ter sido visitada 764 vezes desde Julho e a página da Livraria Cultura, referente ao mesmo livro, ter recebido outras tantas visitas, o dito cujo se esgotou. Obrigado aos que o adquiriram. Infelizmente, não sei quando sairá uma nova edição d’A Tragicomédia…, pois estou sem editora no momento. (E portanto sem nenhum exemplar aqui comigo.) Vou acender uma vela pro Monteiro Lobato e ver o que rola.

Amigos e bibliotecas

Sempre que me hospedo com meus amigos acabo por também visitar e revirar suas bibliotecas. No apê do Rodrigo Fiume “bati um papo” com o Caio Fernando Abreu, com o Nélson Rodrigues e, principalmente, com o Rubem Braga, que muito me agradou. Fiz questão de ler esse último – do qual conhecia muito pouco – depois que o Alex Cojorian e o Bruno Borges me disseram que sou um bom cronista. Se o sou, devo me remeter a um mestre, pensei, para voltar a me sentir ruinzinho e ter um motivo para continuar melhorando. Dei muita risada com o Rubem Braga, principalmente com as crônicas da borboleta amarela (dica do Rodrigo) e a da viagem a Casablanca. É como ler um irmão mais velho cheio de gênio e humor. É o tipo do cara que, num futuro que fatalmente virá, valerá a pena encontrar do outro lado para saber das novidades do universo.

Na casa do Dante, voltei a curtir um Emerson – seu Homens Representativos, seu relato do encontro com Wordsworth e Carlyle – e as Obras Completas do Monteiro Lobato, da qual escolhi um volume de entrevistas e introduções que ele escreveu para livros alheios. Eu não tinha noção da importância do cara para a indústria editorial brasileira. Antes dele, não havia edições com mais de mil exemplares e as livrarias de todo o país não passavam de quarenta. Essas edições levavam anos e anos para escorrer por aí, num ritmo de conta gota. E o Monteiro Lobato, indignado com essa situação das mais primitivas – sua editora não conseguia crescer – teve uma idéia das mais cibernéticas: escreveu para quase duas mil agências de correio de todo o Brasil, a solicitar endereços das respectivas casas comerciais locais, não importando se fossem livrarias, papelarias, quitandas ou açougues. Redigiu então uma carta (quase um manifesto) na qual propunha a consignação de livros, sublinhando o aspecto de mercadoria do mítico objeto. Assim, em menos de dois meses, as livrarias passaram de quarenta para mil e duzentas e ele chegou a publicar uma tiragem de cinqüenta mil exemplares de “Reinações de Narizinho”, que esgotou em menos de um ano. Daí para frente, o mercado livreiro, no Brasil, nunca mais foi o mesmo.

Limite

Ana agora cursava uma escola de línguas na Inglaterra. Falou, “Eu queria escapar da língua portuguesa. Sentia que era isso que fazia do meu avô um homem tão limitado. Ele não tinha uma verdadeira idéia do mundo. A única coisa em que podia pensar era em Portugal, África portuguesa, Goa e Brasil. Na sua cabeça, por causa da língua portuguesa, todo o resto do mundo foi filtrado, excluído. E eu não queria aprender o inglês da África do Sul, que é o que as pessoas aprendem por aqui. Queria aprender o inglês inglês”.
(Meia Vida, V.S. Naipaul.)

Os livros do Coronel Kurtz

Alguém notou quais eram os livros lidos pelo Coronel Kurtz no filme Apocalipse Now? From the ritual to romance, de Jessie L. Weston, The Golden Bough, de James G. Frazer e, claro, a Bíblia…

Inveja do intestino preso

O chato de se ter um intestino que funciona corretamente, na hora certa, com movimentos peristálticos britânicos, é que nunca consigo ler mais de um parágrafo por cagada. Eu mal me sinto entrado no texto e… pronto, acabou. E olha que tenho sete livros sobre a pia do meu banheiro, dois deles com mais de 450 páginas, a saber: Palmeiras Selvagens, de William Faulkner; Alexandre e César – vidas comparadas, de Plutarco; Física e Filosofia, de Werner Heisenberg (relendo); Lições das Parábolas de Jesus, de Ellen G. White; Tabu – o que o impede de saber quem você é, de Alan Watts (relendo); O Pensamento Artificial – Introdução à cibernética, de Pierre de Latil; e finalmente O homem eterno, de Pauwels e Bergier. Quando terminarei tal leitura? Será que terei de transferir esse leque de livros para minha escrivaninha? Mas lá já estão outros nove à minha espera, todos já iniciados… Que inveja desses intestinos presos que duram dez páginas! Segundo meus cálculos precisarei defecar no mínimo mais duzentos e cinqüenta anos para dar conta de tantos parágrafos. Mas ninguém caga com tal longevidade. Trocar por poesia não rola, o processo é todo muito prosaico. Hum, acho que vou trocá-los por livros com aforismos. Ótima idéia. O negócio é voltar à Gaya Ciência. Há lugar melhor para ler Nietzsche do que o banheiro? Talvez os demais não mereçam…

Meu livro na Cultura

Só nesse começo de semana já foram vendidos, através do site da Livraria Cultura, oito exemplares do meu livro, um número incomum. (Segundo me informaram pelos recados do Orkut, alguém comprou cinco exemplares para presentear seus ex-professores. Um presente de grego dos mais irônicos, devo acrescentar.) Vale a pena lembrar que essa edição já está próxima do fim. Para quem ainda não comprou meu livro A Tragicomédia Acadêmica, eis sua última chance. A editora que o publicou fechou as portas há algum tempo e, no momento, não tenho a menor idéia de quando ou quem irá reeditá-lo.

Google e sua biblioteca virtual

A Google está enfrentando resistências em sua empreitada de escanear TODOS os livros das bibliotecas de Harvard, Michigan e Stanford, incluindo os protegidos por Copyright. Adiaram até Novembro a retomada dessa tarefa que poderá durar cinco anos. Pretendem botar tudo na internet, sem esquecer, é claro, de acrescentar seus conhecidos anúncios publicitários. As editoras, com razão, não estão gostando da idéia de serem excluídas da partilha dos lucros. Espero que façam acordo. Seria um upgrade e tanto à internet. Já imaginou? Poder consultar os livros de uma das maiores bibliotecas do mundo? Puts.

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