blog do escritor yuri vieira e convidados...

Mês: novembro 2005 Page 2 of 4

Professorinha querida

Ronaldo Roque tem toda a razão: essa é realmente a professora dos nossos sonhos adolescentes. Condená-la à prisão equivale a prender o Netinho por distribuir “dias de princesa” às meninas pobres.

Vaquinha pra comprar o Ronaldinho

Ontem, num boteco de Goiânia, reencontrei o François D’Herbolez, francês de Toulouse, marido de uma amiga, a Gel. Ele é professor de tênis na França – está se transferindo pro nosso centro oeste – e me disse que seus alunos adoraram uma idéia que tive da última vez que nos encontramos: fazer uma vaquinha pra comprar o Ronaldinho Gaúcho. Segundo ele, os alunos já queriam contribuir com seus euros. (Poxa, se eu soubesse teria lhe dado o número da minha conta.) A justificativa eu dei tempos atrás: ter o passe do Ronaldinho seria ótimo, poderíamos tê-lo conosco para ensinar a nós, pernas de pau, a jogar nos finais de semana. Jogaríamos altas peladas. Com ele também poderíamos conhecer garotas (altas e peladas), entrar em festas, restaurantes, tocar um sambinha nas feijoadas, vê-lo pagar a conta do boteco e assim por diante. Durante a semana, ele poderia ser o motorista da nossa (dele) Ferrari e nos levar por aí. Acho que seria um serviço bastante leve. Claro, teríamos de fazer um rodízio, afinal, o número de sócios seria grande. Quanto será necessário para adquirir tal passe? Quem quiser contribuir, clique aí no link do meu PayPal, no site principal. Aceito cartões de crédito. E, caso sobre alguma bufunfa, um troco, talvez a gente também possa dar de entrada para comprar o Roberto Carlos, que parece ser um sujeito bom de papo.

A inveja do Père-Lachaise

Tudo bem. O cemitério Père-Lachaise possui os “indícios” de Apollinaire, Balzac, Sarah Bernhardt, Chopin, Delacroix, Saint-Hilaire, Ingres, Kardec, la Fontaine, Méliès, Molière, Édith Piaf, Oscar Wilde, Proust, Pissarro, Yves Montand, Jim Morrison, Rossini, etc. e tal — até Abelardo e Heloísa estão ali, imagine — mas… mas… ele, o Père Lachaise, está morrendo de inveja do cemitério da Consolação, sim, o cemitério paulistano. Simplesmente porque este o impediu de abrilhantar ainda mais sua coleção de figurinhas fúnebres. Talvez seja porque o dono do defunto em questão, isto é, o espírito que o habitou, tenha combatido a influência opressiva da cultura francesa nas letras e nas artes brasileiras do princípio do século XX. Claro, também ele bebeu dela, mas sabia que a monotonia francesa enfraquecia nossa expressão. Quem é a figurinha que o Père-Lachaise perdeu? Ora, quem…

Fui ao Cemitério da Consolação pela primeira vez, creio, no carnaval de 1998. Eu acabara de chegar duma viagem que fizera a São Tomé das Letras com M.C., minha então namorada, e, naquela manhã de carnaval, acordei com a figura novamente arrumando as malas.

“Onde a gente vai agora?”, perguntei.

“A gente não – eu!”. Fiquei aliviado. Eu, tão escorpiano quanto ela, também estava intoxicado com a relação. Muitas risadas, muito papo, muito prazer, mas, claro, ferroadas em excesso. Só havia um problema: estávamos no apartamento dela e eu não estava nem um pouquinho interessado em sair da cama. Deixar o apartamento e voltar para minha casa naquela hora então? Nem pensar.

“Eu vou pra Serra do Caparaó”, disse ela. “Você pode ficar aqui se quiser. Vou deixar a chave. Se trouxer alguém aqui, por favor, não deixe vestígios.”

Trocamos um beijo e ela saiu. Voltei a dormir. Mais tarde, já de pé, fui à janela: o que poderia fazer sozinho em São Paulo numa manhã de carnaval? Depois da viagem, eu queria tudo, menos badalação. Vi então, logo adiante, os ciprestes do Cemitério da Consolação. Pensei: dizem que São Paulo é o túmulo do samba. Bom, vou verificar… e saí. Circulei por quase duas horas ali dentro. Mil ex-presidentes, políticos ilustres, ricaços tradicionais, gente de livro de história. Parei, pois, para descansar nessa caixa de mármore: Monteiro Lobato 18/04/1882 – 04/07/1948. Fiquei um bom tempo ali, matutando. Eu não sabia que o cara havia deixado a “roupa” em São Paulo. Pensei que fosse em Taubaté ou algo assim. Lembrei então da primeira escola em que estudei: Jardim Escola Visconde de Sabugosa. Quando criança, eu sentia orgulho de estudar numa escola homônima de um dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Lembrei dos livros, claro. Graças ao anjo do filme “A felicidade não se compra” (Frank Capra), anjo este que fala sobre o mais recente livro de Mark Twain escrito “lá em cima”, fiquei imaginando: o que o cara não estará escrevendo agora? Ao contrário dos demais “mortos”, que faziam parte da história do país ou de São Paulo, aquele cara fazia parte da minha história. Foi um ótimo primeiro dia de Carnaval…
Eu no túmulo do Monteiro Lobato 1882-1948
Esta semana, voltei ao local. Passei dois meses lendo vários livros do sujeito, precisava ir até ali prestar minhas homenagens. Agora eu tinha um novo Monteiro Lobato em mente. Era não o autor infantil, mas o autor de “Miscelânea”, “America”, “Negrinha”, “Na antevéspera”, “Onda verde”, “Mundo da Lua”, “Prefácios e entrevistas”, “Problema vital”, “A barca de Gleyre”, “Mister Slang e o Brasil”, “O escândalo do Petróleo e do Ferro”, “Urupês” e “Idéias de Jeca Tatu”. Alguns destes livros deveriam ser obrigatórios em todas as escolas. Atualíssimos. Reveladores da nossa história, do nosso país, desse grande vulto, Monteiro Lobato – um desses escritores com quem agora me sinto irmanado. Aliás, um cara a ser emulado, posto que se esforçou tanto pela Arte e por esse país de Jecas… Fiquei feliz por ver tantas flores sobre seu túmulo. Morra de inveja, Père-Lachaise.

Garapa de limão

Aprendi com minha falecida avó materna – uma camponesa até a raiz dos cabelos, destas que falam “em riba” (em cima), “duda” (dúvida), “pousar” (dormir, pernoitar) – que “garapa” não era outra coisa senão caldo de cana. Mas minha avó paterna acaba de me dizer que no interior da Bahia, sua terra natal, garapa é praticamente sinônimo de suco, refresco. Por isso, lá, pode-se chamar limonada de “garapa de limão”. E também o maluco da rua era garapa. Segundo minha avó, em Valença, quando não passava duma menina, havia um doidinho que perambulava pelas ruas do seu bairro fazendo sabe lá Deus o quê. As crianças o chamavam de garapa, o que o deixava furioso, levando-o inclusive a distribuir umas palmadas nos pequenos que conseguia alcançar nas inúmeras perseguições de saída de colégio. Portanto inventou-se um sistema. Quando a molecada via o tal doidinho, separavam-se e cada qual recitava seu aparte. Dizia um: “Água!” Outro: “Limão!!” E um terceiro: “Açúcar!!!” Berrava então o doidinho: “Vai, seus descarados! Junta tudo que eu quero ver!!” Finalmente alguém arriscava um “Garapa!!!!” e saíam todos em disparada.

902 membros

E a comunidade orkutiana Comédia da Vida Universitária, que criei para meu livro A Tragicomédia Acadêmica, está agora com 902 membros. Meus agradecimentos aos novos integrantes e obrigado a todos pelo apoio.

Grandes homens

Um trecho do artigo “Artur Neiva”, de Monteiro Lobato, a respeito do cientista de Manguinhos que pôs em prática suas idéias na chefia sanitária de São Paulo:

Certo dia, na universidade de Leipzig, um estudante japonês abordou o eminente Ostwald com esta pergunta estranha:

– Haverá meios de distingüirmos cedo os homens que um dia se notabilizarão nas ciências?

Esta pergunta, encomendada pelo governo nipônico, embaraçou deveras o grande professor alemão e ficou a verrumar-lhe os miolos por muitos dias. Mas ao cabo de longo matutar ele apreendeu finalmente o traço característico dos futuros grandes homens, o primeiro a revelar-se em anos verdes: horror à escola! Os alunos mais bem dotados nunca se mostram satisfeitos com o que lhes oferece o ensino, conformado sob medida para a mentalidade e o caráter do maior número, isto é, dos medíocres. As criaturas de exceção, essas sofrem a asfixia do ambiente estreito e revoltam-se. Passam a constituir a classe dos maus alunos, dos vadios, dos indisciplinados, e acabam, não raro, expulsos da escola.

Discutindo… Deus!

No blog do Janer Cristaldo andou rolando um desses debates inúteis entre ateus, agnósticos e crentes, dos quais já estou mais que cansado, tendo participado de inúmeros justamente nas três posições citadas, aliás, migrando duma a outra nessa mesma ordem aí descrita. Vale dizer: me sinto melhor hoje… Bem, a questão é que o Olavo acabou aparecendo na discussão com um texto excelente: Discussões vãs. Não deixe de ler.

Cabrera Infante e Fidel Castro

O Alex Cojorian me enviou o link dessa entrevista com o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante, na qual há um comentário que justifica os três milhões de dólares que Lula ganhou de Fidel:

GMN: Entre suas admirações, alguém lhe decepcionou quando visto pessoalmente ?

Cabrera Infante: “Uma das pessoas com quem tive uma enorme decepção depois de vê-lo pela televisão e pelos jornais foi Fidel Castro. Tivemos contato íntimo. Em abril de 59, fomos a Washington, Nova Iorque, Montreal e ao Brasil, antes de seguirmos para Montevideu e Buenos Aires. A intimidade de estar num avião para apenas vinte pessoas em companhia de Fidel Castro durante tantos dias me convenceu de que aquele indivíduo era um horror. Era um avião de hélice. Em direção ao Rio, o avião baixou para que víssemos a floresta amazônica. O piloto disse : “Comandante, estamos voando sobre a floresta!”. Eu estava sentado no banco logo atrás de Fidel Castro. O que foi que aconteceu? Fidel ficou olhando a floresta não sei por quanto tempo. De repente, disse : “Que grande país!”. Eu pensava que era admiração pelo Brasil. Mas ele disse: “Aqui é que deveríamos ter feito a nossa Revolução!”. Neste momento, entendi que Cuba era pequena para ele. Fidel se achava um lider tão grande que necessitava de um continente, não de uma ilha…”

GMN: Se, num acaso digno de uma das páginas de Garcia Marquez, o senhor se encontrasse com Fidel Castro hoje, num saguão de aeroporto, o que é que o senhor diria a ele ?

Cabrera Infante: “Eu só diria uma frase : ‘Você não acha que já chega?'”.

(Fonte: http://www.geneton.com.br)

A língua

Como já disse dias atrás, tenho me debruçado, aqui em São Paulo, sobre a obra de dois grandes escritores: Rubem Braga e Monteiro Lobato. Este leio quando na casa do Dante e da Joana, aquele quando no apê do Rodrigo Fiume. Tanto como Lobato, Rubem Braga também tem altos causos, alguns muito engraçados. Veja este, intitulado A língua:

“Conta-me Cláudio Mello e Souza. Estando em um café de Lisboa a conversar com dois amigos brasileiros, foram eles interrompidos pelo garçom, que perguntou, intrigado: – Que raio de língua é essa que estão aí a falar, que eu percebo tudo?”

Monteiro Lobato contra os impostos

Ouça agora, em meu podcast, uma crônica do escritor Monteiro LobatoNovo Gulliver – na qual ele discorre, de modo atualíssimo, sobre o sanguessuga que é o Estado brasileiro…

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  • [audio:http://karaloka.net/audio/audio/lobato1.mp3]

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