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O Encontro com o Outro

A amizade é, para mim, meio e fim da condição humana. É no seu exercício, exemplo maior da doação ao outro, que nos fundamos como merecedores da designação “humano”. Tudo o mais é anterior, é perdição narcísica. Espero que esse blog conjunto possa ser um humilde, porém eloqüente, exemplo das possibilidades do exercício da amizade. E para falar de amizade, nada melhor que invocar e homenagear os quatro mineiros – Hélio Pellegrino, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Rezende -, grandes provas precisamente de que a amizade é o centro de tudo e de que a doação a ela desvela e liberta o potencial mais bonito das pessoas. Afinal, os quatro eram amigos desde jovens (no caso de Hélio e Fernando, companheiros de jardim de infância), não se cansaram de exercer esse vínculo e de se dedicar a ele – inclusive em textos belíssimos – e o resultado foram quatro dos maiores talentos literários e intelectuais do século passado em nosso país.

Agora, que com a partida de Fernando Sabino (“nasceu homem, morreu menino” é o epitáfio cunhado por ele e gravado em seu túmulo) os quatro amigos se reuniram novamente no céu, nada melhor que invocar a epígrafe de seu romance “O Encontro Marcado”, exatamente uma mensagem de Hélio Pellegrino, de quem eu tenho a honra de ser afilhado, falando-lhe justamente sobre a tarefa sem termo do encontro com o outro como missão humana:

“O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome.”

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1 Comment

  1. Tati

    Pedro li seus textos sobre amizade, e posso dizer que penso parecido, mesmo que possa vir a me magoar e me decepcionar com as pessoas, ainda assim, continuo acreditando nelas (loucura, né), se mudasse não seria a Tati que sou, e particularmente adoro ser quem sou.

    Pedro acredito verdadeiramente que a doação ao outro é extremamente necessária para alimentar nosso crescimento e nossa alma . “Ela se faz sendo humano, sendo generoso, sendo terno e principalmente sendo Gente” (palavras de Lya Luft).

    Pedro no meu ponto de vista, as relações continuam as mesmas, mas a correria da vida moderna faz com que muitas pessoas esqueçam de se relacionar emocionalmente, quer seja por amizade ou em um relacionamento afetivo, pois para isso é exigido da gente doação, dedicação e paciência.

    O problema é que encontramos quase tudo pronto. Comida congelada, fast-food, roupas, carros, e bebidas de todas as partes do mundo. Mas como encontrar uma amizade em um balcão de conveniência ou até mesmo um amor?

    Os hábitos do mundo moderno estão nos iludindo sobre a essência de uma relação afetiva, e por esse motivo acabamos desperdiçando oportunidades de desenvolver a amizade no amor, pois nos próximos anos, a palavra chave para o relacionamento amoroso será a amizade.

    Por outro lado, vejo a vida como um processo de mudanças, em que temos a opção de mudar ou não, para decidirmos se vamos direcionar as mudanças ou se vamos ser levados a elas pelas circunstâncias.

    Acredito que o sonho de ver o que esta do outro lado é que nos faz em determinado momento experimentar experiências novas, a fim de rever novos conceitos que podem transformar nossa vida de uma maneira que nem imaginamos. E percebi que somos livres, que não existem âncoras, que o tempo para fazer as coisas é agora e que ser é melhor que ter e que essa realidade mundial em que vivemos é realmente interessante.

    .E a amizade no meio disso tudo é a maior responsabilidade de nossas vidas. Acredito que o mais importante é aceitar, trocar e retribuir. Isto sim nos torna grandes.

    Beijinhos

    Tati

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