Sobre patrulha ideológica, há pouco mais de um ano, tive a oportunidade de participar de um seminário em Manaus, cujo tema era “A Dimensão Internacional da Amazônia”. Haja tema polêmico e discussão ideologizada. Na mesa, o Subchefe do Estado Maior do Exército na Amazônia, General Villas Boas, e um camarada do Greenpeace Amazônia.
Ninguém pode ser bobo de achar que não há uma dimensão internacional na questão amazônica, para o bem e para o mal, mas teorias conspiratórias e sandices do tipo “livros de geografia americanos mostram a Amazônia como área sob controle internacional” não ajudam em nada. Na verdade, este tipo de coisa, em geral, é exatamente contra-informação nefasta usada por grupos que querem por fogo no picadeiro para desacreditar o trabalho de organizações sérias – o que também não significa que não haja um punhado de ONGs picaretas fazendo tráfico de animais, biopirataria e roubo de conhecimento indígena disfaçados de trabalho ambiental e/ou científico.
O Exército, como se sabe, é ultraparanóico com a questão. Conforme nos explicava o General, aliás um camarada muito simpático, inteligente e preparado, as Forças Armadas identificam quatro questões centrais sobre as quais atuam naquela região: as atividades ilícitas (extração ilegal de madeira, minério e tráfico de drogas), a guerrilha colombiana, a biopirataria e as ONGs.
Ninguém entendeu muito bem essa paranóia com as ONGs, de maneira que pedimos esclarecimentos. O General então pede a seu ajudante-de-ordens uma bolsa de lona, da qual saca um fichário, e começa a disparar: “Vejam só, sicrano de tal, do Conselho Indigenista Missionário, em tal dia, a tal horas, num evento assim e assado, disse que…e fulaninho, do Greenpeace, no dia tal, à hora tal, falou que…”, e se seguia uma transcrição literal das palavras do cidadão. Sempre na direção de confirmar a idéia de que as ONGs na Amazônia são uma ameaça à soberania do país sobre aquela delicada porção do território.
Eu, meio impensadamente, fui o primeiro a levantar a mão e questionar. O General foi muito educado, cortês e discutiu tudo em altíssimo nível, mas acho que infelizmente fui parar numa das suas fichinhas…
yuri vieira
Pois é, não seria ótimo se aquelas fichinhas estivessem na Internet? Deveria haver um Google Earth das conexões políticas como há esse de mapas geográficos via satélite…