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O Genial Bennio

Para mim, outro dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos é quase que absolutamente desconhecido (outro dos melhores porque há alguns dias fiz um post dizendo que LavourArcaica era um dos melhores filmes nacionais já feitos). Trata-se de O Diabo Mora no Sangue, realizado em 1967. É essencialmente um filme do genial cineasta mineiro-goiano João Bennio, pai de seu roteiro, produtor e também ator principal. Digo essencialmente porque, por motivos que desconheço, Bennio à época convidou Cecil Thiré para dirigir o filme, também estrelado por Ana Maria Magalhães.

Rodado em preto e branco nas maravilhosas praias do Rio Araguaia, o filme conta a história de dois irmãos caboclos (Bennio e Ana Maria Magalhães) e a transformação e realização de seu desejo incestuoso diante da chegada de valores e comportamentos novos trazidos por turistas que começam a afluir para as praias do Rio.

O filme é genial pelo roteiro impecável (feito em parceria com Hugo Brockes) e, portanto, limitadíssimo em diálogos, pela fotografia espetacular aproveitando essa numinosa luz oblíqua que inunda a paisagem do Cerrado nos meses de seca, e sobretudo pela capacidade de abordar temas universais essenciais a partir de uma história absolutamente regional e goiana. Tudo está ali: o incesto, a violência contida e, sobretudo, o embate entre tradição e modernidade. É um Grande Sertão Veredas da película.

Não entra na minha cabeça o porquê desse filme ser quase absolutamente desconhecido em termos nacionais. Ele é absolutamente genial. Uma obra-prima. Assisti-lo não é fácil, mas há algumas cópias aqui e ali. Entre outro lugares, no Museu da Imagem e do Som de Goiás.

Fica aqui a sincera e saudosa homenagem ao Bennio, a quem tive, moleque, o privilégio de conhecer. Além de seus filmes, ele fazia inesquecíveis pratos no restaurante de que era proprietário em Goiânia, escondido em sua chácara num bairro então afastado. Me lembro de, em sua companhia, coletar centenas de casquinhas de cigarra que eu guardava em caixinhas.

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2 Comments

  1. O incesto simboliza a união com seu próprio ser; significa individuação ou transformação no Self. (Jung)

  2. Felix

    olá…trabalho com pesquisa e divulgação do cinema nacional e gostaria de saber como e onde posso adquirir filmes de cineastas com trabalhos alta qualidade e obscurecidos pelo formato enlatado estrangebiro desde o início da década de 70. Já tive oportunidade de assistir J. Bennio em Tempos de Violência, com Glaucy Rocha e Raul Cortez, mas também é outro filme que não consigo acesso. Gostaria de ajuda. felixav@pop.com.br / felixav@gmail.com

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