Durante minha infância e pré-adolescência, passei praticamente todos os feriados de carnaval no Rio de Janeiro, na casa dos meus avós paternos. Mas eu nunca ia aos desfiles das escolas de samba. Meu carnaval se limitava às brincadeiras de rua e a fugir do Clóvis, o famigerado bate-bola. Além, é claro, de jogar futebol de botão com meu primo André – ele era sempre Flamengo e eu tinha de me contentar em ser Botafogo (nunca havia São Paulo) – e de comparar gírias e costumes paulistas com os cariocas. Era bom à beça

Mas foi em 1999 que finalmente acabei indo ao sambódromo. Bem, ao sambódromo paulistano. Dei um escapada da casa da Hilda Hilst e fui acompanhar meu então sócio, Dante Cruz, que iria fazer umas fotos dos desfiles. O desfile que mais me impressionou foi o da Vai Vai, cujo tema não era outro senão Nostradamus. (Poxa vida, o mundo podia acabar dali a cinco meses!) E, pra completar, o próprio Zé do Caixão desfilou na escola. Nesta foto do Dante, vemos o “Rei do Terror” – originário duma tradução equivocada das Centúrias – que chegaria pelo no Sétimo Mês:

Nostradamus

Tudo bem, foi tudo muito interessante. Mas não fiquei com vontade de repetir a dose não. Bom, talvez com amigos, com uma namorada, sei lá. Mas eu, que em anos precedentes já havia derretido o cérebro além do necessário, nunca faria o mesmo que certo grupo de conhecidos que encontrei nesse mesmo dia: estavam todos roendo as unhas porque um carro alegórico do desfile anterior havia quebrado e estava impedindo a entrada da sua escola na avenida. Até aí, tudo bem. Só que todos haviam tomado ácido e seus cérebros já estavam fervilhando. E o tal Rei do Terror lá, de olho neles. Egrégora dos infernos! Que nóia, Deus me livre.