Outro dia, topei num prédio público com um congressista notoriamente corrupto do meu estado. Fontes fidedignas e bem informadas já me afirmaram se tratar do “homem mais corrupto que se conhece; um ladrão de fazer corar ao Marcola ou ao Ronald Biggs”. Comprando seu lanche – na verdade até me espantou que pagasse pelo salgado -, ao receber o troco do balconista deixou cair sem notar uma moeda de R$ 0,25. Eu, muito escoteiro, me abaixei, apanhei-a e a estendi de volta a ele, evidentemente não sem me debater internamente, primeiro com minha própria subserviência, segundo com o desejo de pegar de volta ao menos parte do naco dos meus impostos garfado pelo desgraçado.
Voltei para casa remoendo o mal humor consequente deste episódio e fazendo contas. Ora, esse desgraçado, pasmem, é parlamentar desde as eleições de 1986. Desta forma, concluirá seu quinto mandato, ou 20 anos de gatunagem nos corredores da Câmara, ao final deste ano. (E provavelmente se reelegerá para continuar com a quadrilhagem).
Para o Orçamento da União de 2007, cada parlamentar tem direito a R$ 5 milhões em emendas individuais (sem contar as emendas de bancada), uma das maiores excrescências de nosso sistema político. Num cálculo hipotético, projetando este valor sobre o passado, são R$ 100 milhões em emendas durante estes 20 anos de poder – recursos públicos destinados segundo os critérios de um indivíduo e posteriormente pela boa vontade do Poder Executivo para com este parlamentar.
Como se trata de um parlamentar que sempre anda de bem com os manda-chuvas no Palácio do Planalto, suponhamos, num cálculo realista, que 80% de suas emendas tenham sido de fato atendidas pelo Ministério da Fazenda, o que nos deixa com 80 milhões de reais efetivamente destinados às suas bases. Em um cálculo conservador, suponhamos que ele seja um corrupto modesto – coisa que não é (é dos mais vorazes, segundo minhas fontes) – e que cobre simbólicos 10% de propina – ou comissão de agenciamento, para sermos elegantes – sobre todas as obras ou serviços contratados com os recursos de suas emendas. Temos aí portanto uma tunga de R$ 8 milhões em nosso bolso neste período.
Não se deve esquecer, entretanto, que as emendas são apenas uma das fontes em que mamam estes larápios. Em mais um cálculo conservador, suponhamos que isso represente um terço do que rouba este safado. Chegamos assim a um montante de R$ 24 milhões batidos em 20 anos, o que me parece ainda pouco diante diante de quem se trata, mas tudo bem.
No final das contas, somos todos contribuintes porque, embora nem todos paguemos Imposto de Renda, todos contribuímos com este larápio e com o caixa do PT através do ICMS e de impostos como o IPI embutidos nos preços dos bens de consumo. Portanto, dividindo R$ 24 milhões por 180 milhões de brasileiros, chega-se à conclusão de que apenas este safado já me roubou R$ 0,13, o que, com juros e correção mais do que justificava eu ter ficado com aqueles R$ 0,25.
Multiplicando o valor de R$ 0,13 por 594 parlamentares, entre deputados e senadores, temos um roubo per capita em 20 anos de R$ 77,22 subtraídos a cada cidadão. É aproximadamente isso o que foi tirado do meu e do seu bolso apenas pela corrupção parlamentar neste período, sem contar todo o resto.