Sobre aquela tal democracia:
Pela chatice
Luis Fernando Verissimo, no Caderno 2
“Curiouser and curiouser”, dizia a Alice a cada nova surpresa do país das maravilhas em que caíra. Nosso país também fica cada dia mais curioso.
É curiosíssimo, por exemplo, que se chegue simultaneamente a um descrédito quase total da classe política e a uma maturidade política inédita. Que se valorize como nunca a prática democrática e ao mesmo tempo se desespere como nunca dos praticantes. Você pode ter a explicação que quiser para o fato desta campanha eleitoral estar sendo, assim, tão chocha – resignação com a vitória já anunciada do Lula, candidatos insípidos com exceção da Heloísa Helena, etc. além de, claro, o próprio nojo com os políticos – mas o principal significado do aborrecimento generalizado é que, aleluia, o processo democrático se banalizou entre nós. Não é mais uma ruptura da normalidade, é a normalidade.
É curiosíssimo que alguém como o Fernando Henrique, que – vamos ser justos com o homem – foi um dos responsáveis por esta normalidade atingida, se mostre agora um nostálgico da política como deflagração, como embate menos de idéias do que de retóricas, ao lamentar a falta de um Lacerda na campanha. Não sou eu que vou ensinar história do Brasil ao professor, mesmo porque sei que seu desabafo foi mais um compreensível lamento pelo Alckmin não ser mais brilhante do que qualquer outra coisa, mas na era Lacerda, além da brilhatura, havia a constante pregação golpista, e você lia ordens do dia de quartel como os antigos liam as entranhas dos pássaros, para saber o que ia nos acontecer.
Era excitante, sim. Prefiro o aborrecimento.
Mas a Alice, se caísse no Brasil, acharia o mais curioso de tudo estes sentimentos que deveriam se anular num país menos estranho e aqui coexistem: a certeza finalmente sacramentada pelas denúncias de cada dia que os políticos são todos iguais, e todos safados, e a aceitação da política como um fato corriqueiro, e insubstituível. A pregação golpista ainda existe, às vezes vindo de quem diria? Mas o País parece ter feito uma opção preferencial pela chatice democrática.
yuri vieira
Desde quando o seqüestro das consciências pelo adjetivo “social” é mera chatice democrática? “Justiça social”, “desenvolvimento social” e quejandos, hoje, não passam de palavras de ordem para implantar o “social-ismo” petista. Os políticos não são todos iguais. Foram é moldados pela hipocrisia do politicamente correto, esse diversionismo que torna a população cega ao perigo que nos ronda. A Venezuela e a Bolívia já dançaram. Vamos ver quem será o próximo.