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O provincianismo neo-ateu

A revista Época voltou a publicar mais uma matéria baseada nas “teses” desses cientistas bobos e pretensiosos que acreditam poder refutar a existência de Deus: “Não vejo, logo Ele não existe”. (Nunca vi esses cientistas, talvez eles também não existam.) Bem, a questão é que, no meio dessa matéria tão pegajosa e melequenta quanto uma ostra, veio junto uma pérola escrita por Marcelo Cavallari, que tomo a liberdade de reproduzir logo abaixo.

O provincianismo neo-ateu

por Marcelo Cavallari

Richard Dawkins, Daniel Dennett e os demais autores que se dedicam ao recente ateísmo militante parecem figuras saídas do século XIX. Naquele tempo, o método científico que havia conseguido tanto sucesso na teoria física ensaiava se expandir com igual sucesso para todas as áreas do conhecimento e prometia tornar a religião, e de quebra a filosofia, a literatura, a arte e todas as outras formas de conhecimento, obsoleta.

Foi precisamente desse espírito ultracientificista que nasceu o século XX, o mais cruel da história da humanidade. Nunca se matou tanta gente. Nunca antes tantas atrocidades foram cometidas. Nazismo e comunismo, engendrados como sistemas de engenharia social destinados a reorganizar a sociedade segundo critérios científicos, foram os responsáveis pelos maiores massacres de que se tem notícia. Não era religião – antes a perseguição a ela – que movia Stálin, Mao Tsé-tung, Pol Pot. Os últimos baseavam-se na tese do socialismo científico de Karl Marx, que supostamente havia descoberto as leis de funcionamento da história. O primeiro, na eugenia racista, que foi ciência respeitada durante boa parte do século XIX até resultar no nazismo.

Costumam-se pôr de lado esses problemas adicionando o termo pseudo a teorias descartadas. Pseudocientíficas seriam as teorias racistas do nazismo ou o socialismo científico. E, atenção, o fato de que ambas as teses tenham se mostrado erradas não as torna não-científicas. Científico não é igual a verdadeiro, como o éter no qual se supunha que a luz se propagasse ou qualquer outra teoria descartada mostra. Científico é o que segue determinados padrões metodológicos aceitos pela comunidade científica.

A desconsideração desse simples fato por Dawkins, Dennet e pelos demais neo-ateus é o que mais enfraquece seus argumentos. Eles escrevem como se a filosofia da ciência não existisse. Como se a ciência ainda pudesse reivindicar para si o papel de descobrir a verdade. O método científico é uma pequena área em que a razão pode ser usada. O poeta americano T.S. Eliot disse em seu livro Em Busca de uma Definição de Cultura que o pior tipo de provincianismo é o provincianismo no tempo, a crença de que só a maneira de pensar de nossa época faz sentido.

Os neo-ateus são piores. Argumentam, a partir de um provincianismo metodológico: só a ciência e seu método valem. Dawkins chega a citar uma piada do filósofo Bertrand Russell, segundo a qual a existência de Deus é tão impossível de provar pela ciência quanto a hipótese de que há uma xícara em órbita do Sol, entre a Terra e Marte. É um fato. E é um problema da ciência. Mostra um limite sério dela, a menos que se considere que a existência de Deus, o sentido do Universo e da vida sejam problemas tão importantes quanto a existência de uma xícara na órbita de um planeta distante.

Dawkins e Dennett descartam atabalhoadamente as provas medievais da existência de Deus sob o argumento de que não são aceitáveis como provas científicas. É claro que não. São provas metafísicas. Foram descartadas por causa de filósofos, como Hume e Kant, que o fizeram ao preço de estabelecer limites estreitos para a razão humana. Dawkins, Dennett e os neo-ateus querem o melhor de dois mundos: reivindicam para a ciência uma capacidade quase ilimitada da razão humana. Para a religião, admitem no máximo o papel de uma consoladora ilusão para o vulgo.

Se os neo-ateus são sérios em sua tentativa de tirar a religião do cenário, vão precisar discutir mais a fundo, mais informadamente e com menos provincianismo. Há muito mais entre o céu e a terra que o limitado método científico pode tomar em consideração.

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2 sofás

5 Comments

  1. Desculpe, mas dizer que essa materia eh uma perola eh um pouquinho de exagero.

    Culpar o avanco cientifico pelas atrocidades cometidas (por homens publicos, nao cientistas) no seculo XX beira o absurdo. Serah que o autor sugere que deveriamos ter permanecido na pacifica e pacata Idade Media ??

    Alem disso, gostaria que o autor citasse um soh exemplo de “teoria” sobre o nazismo, por exemplo, que usasse “determinados padrões metodológicos aceitos pela comunidade científica”. E, cah entre nos, socialismo cientifico??? Que exemplo mequetrefe… (pergunta pro Olavao se socialismo cientifico eh ciencia)

    Isso sem falar que cada um acredita (ou nao) no que bem entender. O que nao impede ninguem de emitir opiniao ou “fundar uma igreja” (seria a IURJ menos prejudicial do que os neo-ateistas?).

    No fim, acho que eh uma boa para combater os “criacionistas” . E que cada um decida acreditar no que melhor lhe aprouver.

    A proposito, ha uma materia sobre o assunto na Wired deste mes:

    http://www.wired.com/wired/archive/14.11/atheism.html

  2. A natureza e o universo inteiro proclamam a existencia do universo,a vida surge da vida,Deus foi o criador do big-bang,o cérebro humano é uma maquina superior ao computador,quem criaria algo tão incrivel se não uma Mente Viva e Superior,um Ser existencial metafisico ao qual chamamos DEUS!

  3. Leo

    Marcelo Cavallari quen e? ninguem conhece ele Dawkins e o maior intelecual da epoca…

  4. Que eu saiba, Leo, Dawkins tem formação científica (isto é, em ciências naturais), o que é muito diferente de se ser um intelectual. Seus livros ou são de divulgação científica ou de demonstração do seu provincianismo mental – quando querem medir o transcendental com uma régua. Agora, cá entre nós, ignorar um texto porque não se conhece o autor é de uma burrice e arrogância monumental. Vc não sobreviveria um ano numa editora.

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