Há uma excelente safra de documentários musicais no circuito de cinemas. Aliás, em minha opinião, alguns dos melhores documentários da safra nacional recente enquadram-se neste gênero: no front aberto por Meu Tempo é Hoje, dirigido por Isabel Jaguaribe, sobre Paulinbo da Viola, surgiram mais recentemente Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, o já premiadíssimo Fabricando Tom Zé, de Décio Mattos Jr., e ainda Pedrinha de Aruanda, do Andrucha Wadington, e Brasileirinho, dirigido pelo finlandês Mika Kaurismaki. O mais recente da leva é o doc de Patrícia Pillar sobre Waldick Soriano, um de nossos reis do brega.

Ainda não tive a oportunidade de assistir ao Fabricando. Por estes dias, entretanto, finalmente vi Pedrinha e Brasileirinho. Dois filmes diferentes e maravilhosos. Pedrinha, sem a preocupação de ser exaustivo ou biográfico, abre, de maneira sutil e envolvente, uma parte do universo de Maria Bethania. É um documentário extremamente simples e despretensioso, o que me parece sua grande virtude. Andrucha deve se ter dado conta de que não caberia a ele aparecer, tentando construir uma estética diferente ou rebuscada para alguém que não precisa de nada disso. Bethania se sustenta por si mesma – basta ligar a câmera. Mais de metade do documentário se resume a uma mesma sequência, em que Caetano, Dona Canô e a filha cantam juntos na varanda da casa de Santo Amaro da Purificação. É muito bonito.

Brasileirinho, diferentemente, não é um documentário sobre alguém, mas sobre um gênero de música, talvez o mais genuinamente brasileiro: o choro. Para tanto, percorre o universo do centro e dos subúrbios cariocas e exibe perfomances memoráveis e monumentais de grandes nomes como o Trio Madeira do Brasil, Joel Nascimento, Yamandu Costa, Paulo Moura, Zé da Velha, Silvério Pontes, Jorginho do Pandeiro, Guinga e outros. Memorável. Também sem pretensão de malabarismos estéticos, que são deixados a cargo das perfomances musicais. O CD da trilha está a venda. Vale à pena.