blog do escritor yuri vieira e convidados...

Mova a câmera!

Movimentos inesperados e surpreendentes de câmera, sobretudo planos sequência bem feitos, são um dos componentes fundamentais da magia do cinema. Aliás, aqui um belíssimo texto sobre grandes planos sequência com links para alguns deles no You Tube. Na tela acima, um excerto de Soy Cuba, de Mikael Kalatozov, uma pérola da produção comunista, com alguns dos mais espetaculares planos sequência já realizados (a história deste filme é retratada em “O Mamute Siberiano”, do brasileiro Vicente Ferraz).

Muitos de nós, jovem cineastas, entretanto, talvez influenciados por uma certa valorização do experimentalismo que confunde inovação estética com pobreza técnica e operação de câmera porca, parecemos achar que enquadramentos bizarros e câmeras tremidas a ponto de causar enjôo no espectador são coisas desejáveis em nossos filmes.

Talvez isso se deva também ao fato de acharmos que movimentos de câmera elaborados demandam necessariamente gruas, dollies e steadicams de milhares de reais. Na verdade, com criatividade e alguma habilidade manual, é possível improvisar movimentos de câmera que agregam enorme valor a nossos filmes, ou ainda construir equipamentos que fazem praticamente o mesmo que suas contrapartes caras.

Um exemplo disso é o Steadycam de 14 dólares, que qualquer um que saiba o endereço de uma ferragista pode construir em casa. O essencial é compreender o princípio de funcionamento de um steady, nada mais do que simplesmente fornecer um contrapeso à câmera, evitando que ela rotacione em seu eixo horizontal (em movimento indesejado de tilt). Vejam, por exemplo, este filme demonstrativo e comprovem a eficácia da traquitana.

Steady

Outra peça genial é o livro “Killer Camera Rigs that You Can Build”, que detalha projetos relativamente simples de gruas, braços e suportes para gravações em carros, entre outras peças, que revolucionarão seus filmes. Veja também que beleza os filmetes demonstrativos.

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11 Comments

  1. Ontem revi (pela centésima vez) Carlito’s Way, certamente um dos melhores filmes (roteiro amarradíssimo, com estrutura de tragédia) do Brian de Palma, discípulo assumido do Hitchcock. A movimentação de câmera e os enquadramentos são um show do começo ao fim, simplesmente de tirar o fôlego. Para quem quer aprender a manejar uma câmera, creio que fará muito bem em decupá-lo com os olhos dezenas de vezes. A direção de fotografia é de Stephen H. Burum, que também fotografou Rumble Fish, do Coppola, filme que também apresenta a mesma estrutura trágica.
    {}’s

  2. filipe

    na minha ridicula opiniao, o kubrick era o mestre no quesito movimentação de camera.

  3. Tão mestre era o Kubrick que chamou o Garret Brown, inventor do steadicam — usado pela primeira vez em Rocky, do Stallone –, para fazer as cenas do Iluminado. As sequências do garoto andando de velocípede no corredor do hotel necessitaram de um steadicam montado sobre uma cadeira de rodas, imagine.

  4. filipe

    yuri,
    eu poderia citar outros 3 ou 4 grandes diretores (assim de supetão) que trabalharam junto com o garrett. isso é realmente um problema?

    ja que estamos comentando sobre o cara (o brown) e sobre o iluminado, esse link é bem propício:

    http://br.video.yahoo.com/video/play?vid=422311

    com relação ao kubrick, é possível observar nos seus filmes uma consistência visual e um estilo definido: a composição simétrica do enquadramento, a tendência a centralizar os personagens principais (notadamente nas célebres cenas em que ele mesmo realiza movimentos de acompanhemento de personagem com a câmera na mão), preferência pelas lentes extremamentes grande-angulares bla bla bla. kubrick sempre esteve em sintonia com os avanços tecnológicos, sendo um dos primeiros a utilizar fotos instantâneas como referência para monitorar a iluminação, a utilizar steadycam, o sistema de video-assist, os modelos de câmera mais leves da Arriflex, as unidades de iluminação portáteis da Lowell…só pra da uma pincelada.

    tb nem adianta eu ficar falando q a contribuição de kubrick no campo dos efeitos especiais alterou o rumo do cinema de ficção. a sua parceria com o douglas trumbull na construção da sequência final do portal estelar do “2001” resultou na criação do sistema slitscan. mais ainda, a construção da centrífuga gigante para os takes fodas de dentro da nave espacial no mesmo filme são muito loucos.

    pra fechar, além de sua marca característica quer era a busca incessante pelo perfeccionismo (ele mesmo conversava hooooras com o garret sobre a perfeição e seu caráter ilusório), “o diretor q chamou o carinha do steadycam” criava e montava seu próprio equipamento quando a tecnologia disponível não era suficiente para satisfazer suas exigências. pra ilustrar melhor, posso mencionar o caso de sua parceria com a empresa cinema products, a qual adaptou câmeras para usos específicos do diretor. memorável tb foi o pedido de kubrick para adaptar lentes de satélite numa câmera antiga a fim de trabalhar com baixos níveis de luz durante a gravação de barry lyndon.

    mas, claro, citá-lo como o mestre único do aspecto “mova a câmera” foi uma espécie de provocaçao da minha parte. poderiamos citar 5 nomes e ainda estaríamos insatisfeitos.

    abraço chefe

  5. Eu acho que o Yuri elogiou o Kubrick

  6. Pois é, Daniel, eu também acho. Nem notei que poderia ser interpretado diferentemente. Por que não elogiaria o Kubrick? Sou pirado pelos filmes dele. Anos atrás eu, sem qualquer motivo aparente, passei meses cantando I’m singing in the rain e, em alemão, a Ode à Alegria (Beethoven/ Schiller). Pensei com meus botões: puts, seria ótimo colocar essas duas músicas na trilha sonora de um filme! Aí, revejo Laranja Mecânica, que havia assistido dezessete anos antes, e percebo que o cara já tinha feito isso. Sacana, a idéia dele tinha se intrometido no meu inconsciente. Sem falar que já fiz umas três vezes aquele teste para pessoas humildes — Que tipo de gênio insano você é — e o resultado é sempre o mesmo: Stanley Kubrick. (Pois é, fiz de novo e deu o mesmo resultado… again.) Ninguém nunca se despediu da vida de modo tão genial: De olhos bem fechados.
    {}’s

  7. filipe

    foi mal yuri. interpretei incorretamente teu comentario…

    senti na tua frase “Tão mestre era o Kubrick que chamou o Garret Brown para fazer as cenas do Iluminado” um tom de sarcasmo, do tipo: ele era tao mestre que precisou de outro (ironia?).

    me perdoe. atrevimento de leigo no assunto…

  8. Íh rapaz, pra mim deu Kubrick tb. 🙂

  9. O meu deu Beethoven.

  10. rodrigo fiume

    Putz, o meu deu o Zé Bonitinho…

  11. Que inveja! O Zé Bonitinho é mais insano que o Kubrick.

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