Quem matou a charada foi um colunista do NYT: “Spore! é um ótimo brinquedo, mas um jogo apenas razoável”. É verdade. Brinquei por volta de duas horas com ele. Pude customizar meu animalzinho e dar-lhe algumas funcionalidades (tipo de boca, de pata, etc.), além de interagir com o meio ambiente e outras espécies. A maioria das resenhas, entretanto, diz que o jogo só fica realmente interessante quando chegamos à fase da exploração galática.
Vou falar do que eu gostei até agora. Spore! é um excelente modo de compreender a lógica da evolução. Se você tem um filho de 10 ou 12 anos, deixe-o brincar sem medo. Tenho certeza de que irá melhorar sensivelmente seu desempenho nas aulas de ciência. Além disso o gerador de criaturas exigirá toda a criatividade que o moleque tem. Basta dar uma olhada nas criações dos usuários postadas na sporepedia (já são mais de 2 milhões de criaturas, edifícios, veículos, etc).
Algumas resenhas defenderam a idéia de que a lógica do jogo seria criacionista, exatamente pelo peso colocado no design das criaturas e pela perspectiva “divina” concedida ao jogador. De fato, você pode desenhar (ou montar) seu personagem do jeito que quiser. Mas design e funcionalidade estão diretamente associados e você não pode modificar o meio ambiente. Assim, coloque nadadeiras num animal terrestre e ele não evoluirá. A perspectiva divina é facilmente explicada: num jogo é muito mais divertido ser Deus do que ser criatura. A parte ruim é o gameplay repetitivo. Há muito de The Sims nestas primeiras fases e, depois de algum tempo, ver seu bichinho andando para lá e para cá não é lá muito estimulante.
De certo modo Spore! parece uma versão beta. Há uma infinidade de possibilidades para se explorar em futuros upgrades e expansões. Por exemplo a interação on-line entre os jogadores. Atualmente quando você cria um animal em Spore! ele é imediatamente carregado na sporepedia. Quando outro jogador, em outro lugar, inicia seu jogo, as criaturas com as quais ele interage são baixadas direto do site. Assim quando ele está lutando tenazmente por sua vida na fase da poça, interage com o animalzinho que você criou. Entretanto estas criações são controladas pelo CPU. Não há interação em tempo real. Mas está tudo pronto isso, esperando apenas um novo patch.
Spore! é um jogo em muitos e isso deixou os desenvolvedores meio receosos de se aprofundar em determinado estilo. Há pedaços de simulações, RTS e RPG. Talvez a equipe esteja esperando para ver como o público se comporta e quais os estilos são mais apreciados para aprofundar esta ou aquela potencialidade. De qualquer forma, Spore! é o que se inventou de mais amplo na experiência de se jogar videogame até agora. Vale a pena.
yuri vieira
Esse jogo foi criado pelo Will Wright, o mesmo cara que lançou os viciantes SimCity e The Sims. (O The Sims também não tinha um objetivo específico, por isso eu mesmo criei um: meu personagem era o Bin Laden — baixei o cara de um site — e parei de jogar quando o fiz se casar com oito mulheres (número máximo permitido), todos morando na mesma casa. Era difícil porque, quando ele beijava uma mulher na frente de outra, rolava briga e separação, o que me fazia ter de arranjar outro casamento.)
Mas, voltando ao Spore, deve ser bem interessante, principalmente para uma criança, fazer de conta que é um Portador de Vida e um Arquiteto do Ser. Como dizia a Clarice Lispector, “imaginar é advinhar a realidade”…
{}’s
daniel christino
Sim, essa leitura pode ser feita. Como em toda obra de ficção, o mais divertido é mesmo a perspectiva divina.