blog do escritor yuri vieira e convidados...

McCain versus Obama

Debates são eventos contraditórios por definição. Abrem espaço para indagações diretas entre os contestantes, mas engessam as respostas restringindo temporalmente a exposição dos argumentos. Em nada se parecem com seu ancestral medieval, a desputatio. Havia dois tipos de disputatios: a comum (ou ordinária) na qual a questão discutida era anunciada de antemão; e a quodlibetal, na qual os alunos faziam perguntas ao professor – sem que este tivesse conhecimento prévio das questões – e ele deveria respondê-las de pronto, fundamentando seus pontos de vista. Este era, aliás, o método em torno do qual a pedagogia escolástica girava. Ao contrário, os debates hoje são muito mais relevantes pelo estrago que podem causar à imagem pública dos candidatos. Nenhum tema é melhor explicado ou aprofundado. Os elementos cosméticos imperam sobre as questões substantivas.

O primeiro embate direto entre MacCain e Obama deve, portanto, ser lido pelo viés da construção da imagem pública, da luta pela determinação do ethos de cada um, do modo como a figura do candidato ficará impressa na memória do eleitor.

O conceito de ethos pode ser definido como uma categoria da análise do discurso político. Na retórica clássica o ethos se referia ao modo como a figura do orador aparecia ao auditório durante o pronunciamento do discurso. Aristóteles é a referência.

persuade-se pelo caráter (ethos) quando o discurso tem uma natureza que confere ao orador a condição de digno de fé; pois as pessoas honestas nos inspiram uma grande e pronta confiança sobre as questões em geral, e inteira confiança sobre as questões que não comportam de nenhum modo certeza, deixando lugar à dúvida. Mas é preciso que essa confiança seja efeito do discurso, não uma previsão sobre o caráter do orador. (1365a)

Um pouco mais adiante, na Retórica, Aristóteles enumera as três qualidades fundamentais que um orador deve ser capaz de, pelo discurso, atribuir a si mesmo ou subtrair ao seu oponente.

Quanto ao oradores, eles inspiram confiança por três razões; as que efetivamente, à parte as demonstrações, determinam nossa crença: a prudência (phronesis), a virtude (aretè) e a benevolência (eunoia). (1378a)

A qualidade de um debatedor ou orador está em ser capaz de associar o assunto discutido a cada um destes traços de caráter, de modo a aparecer, perante o auditório, portando sempre o ethos apropriado. Falar sobre inimigos ameaçadores com muita flêuma pode parecer imprudente, assim como condenar sumariamente inimigos fracos pode parecer falta de benevolência. Como Aristóteles gostava de dizer, o difícil é encontrar o eqüilíbrio certo em relação aos meios e fins.

A política midiatizada da atualidade ampliou os tipos de ethos disponíveis para os oradores. Mostrar-se enérgico é tão importante quanto mostrar-se benevolente. Parecer indignado é tão poderoso quanto parecer prudente. Os topoi se multiplicaram. O que não mudou foi a lei da adequação.

Quando Obama iniciou o debate associando a candidatura de MacCain ao caos econômico americano, responsabilizando não apenas o candidato, mas a toda a fundamentação econômica do governo nos últimos anos, ele deixou transparecer energia e firmeza, algo contra o qual a retórica lenta de MacCain não tinha como revidar. É o que se espera de um gestor num momento de crise. O discurso de Obama deixava transparecer um ethos mais apropriado ao tema do que o silêncio deliberado de MacCain sobre o governo que ele representa. Foi o único momento consistentemente bom de Obama. Depois foram altos e baixos.

MacCain se recuperou porque suas posições sobre política internacional e segurança nacional deixaram transparecer sua prudência – ou, numa tradução mais correta do termo phronesis, sabedoria prática. Esse é um topos clássico em assuntos externos, mesmo entre os gregos. Tucídides já expunha, nos arrazoados entre as cidades-estados anteriores à guerra do Peloponeso, a importância da experiência para o tema. Opiniões apressadas e não fundamentadas poderiam arriscar toda a cidade. Assim, a experiência como combatente de guerra e político deu a MacCain uma bem explorada chave retórica para o ethos da prudência e da virtude. O ponto alto foi a questão sobre o Irã. “Deixa eu entender uma coisa, sentamos com Ahmadinejad, ele diz vou destruir Israel, e nós dizemos Não, não vai? É ridículo”. Esta é a fala de um homem experiente para um rapaz impulsivo.

Exatamente porque a construção do ethos é um elemento discursivo, sua eficácia encontra-se na percepção do auditório. Assim como a ironia, o ethos funciona quando compreendido. Como o auditório em questão é todo o universo votante sintonizado através da TV, rádio ou Net; seu impacto será medido em alguns dias, quando puder ser incluído no resultado das pesquisas. Na verdade não importa o que dirão os partidários de cada candidatura. Acontecerá, no máximo, um debate moral; uma guerrinha discursiva para se determinar quem foi o melhor, do tipo que o Tio Rei adora fazer. Se eu tivesse que opinar, diria que MacCain foi melhor, porque conseguiu mobilizar o assunto em favor do seu caráter discursivo. Mas sempre é bom ter claro que não há vencedores e perdedores imediatos num debate, muito menos no primeiro deles.

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16 Comments

  1. filipe

    daniel,

    parece que aqui é o lugar mais apropriado pra postar um comentário sobre esse debate.

    no teu post sobre a vice-presidente palin, eu comentei a respeito da aparente recuperação do barak obama nas pesquisas após o debate. lá, a marina também deixou uma opinião parecida com a tua: “A quem tem um pouco de bom senso, basta para sacar que McCain é muito mais preparado…”.

    no meio desses palpites todos – e como disse anteriormente, não palpitarei porque não assisti o debate na sua íntegra – fica o sentimento de quão complicado é analisar as minúncias dessa eleição, esse jogo de xadrez.

    semana dessas, o régis bonvicino fez uma análise bastante complexa e tendenciosa sobre o assunto. ele “ensinua” que o obama é muito mais preparado que o mccain. seria, inclusive, mais honesto. e que a péssima administração do presidente george walker bush é motivo de sobra pro obama ganhar essa eleição, uma vez que o mccain seria sucessor da desgraça. aí o régis afirma que, muito embora o candidato republicano tenha aberto boa vantagem no início da corrida presidencial, o anúncio do seu vice – joe biden – foi um erro crucial para sua candidatura. a escolha certa teria sido a ex-primeira dama hillary. daí veio a sarah palin, o rebuliço que ela causou e a história toda que já sabemos.

    na sequência, veio o primeiro debate entre os presidenciáveis. aqui, a análise mais intrigante até então. os analistas norte-americanos são quase unânimes nas seguintes conclusões: trata-se ou de um empate técnico ou de ligeira vitória pro mccain.

    mesmo assim, engana-se quem acha que o complemento do raciocínio é lógico e simples. isto é, se estamos falando de um empate técnico entre os candidatos, as pesquisas deveriam mostrar ligeiras mudanças ou mesmo nenhuma; mas se estamos falando de vitória pro mccain, é esperado que ele amplie sua vantagem sobre o candidato adversário. e aí, as pesquisas mostram uma bela retomada do candidato democrata obama.

    citei uma das análises mais convincentes que li sobre isso tudo. aliás, coerentes até com o que vc diz aqui. a retomada do obama relaciona-se com o fato dele ser mesmo o menos experiente dos dois adversários. contraditório? vamos ver. como o candidato democrata foi apenas ongueiro (como dito pelo diogo), o esperado era que o mccain aplicasse uma surra durante o debate, uma vez que as intervenções dos candidatos permearam primordialmente o tema “política internacional”. contudo, dentro das perspectivas mais pessimistas, o obama saiu-se até bem. e aí, aquele modesto empate ou mesmo ligeira vitória do candidato republicano passou a ser prejuízo e sinônimo de derrota.

    o próximo capítulo será o debate entre os vice-presidenciáveis. há quem diga que a palin vai salvar o mccain. contudo, a popularidade da “moça” já não é tão alta, mesmo dentro do partido republicano. uma entrevista recente na cbs da candidata tem sido motivo de chacota e indignação nos eua. o editor da revista Newsweek Farred Zakaria assinou uma artigo pedindo a substituição da palin na chapa. a esperança dos republicanos é que o desempenho dela esteja mais para o da convenção republicana em saint paul do que o “samba da governadora doida” que ela exibiu na entrevista da cbs. o medo é que, no debate, ela não vai ter ajuda do teleprompter, como teve na convenção.

  2. Eu ainda não assisti ao debate, que certamente há de estar no You Tube. Mas o engraçado é que, enquanto lia o artigo do Daniel sobre a natureza do discurso político, só me vinha à cabeça o discurso da Sarah Palin. Ela equilibrou maravilhosamente bem todos esses elementos aí definidos, o que eletrizou a Convenção. Quanto à entrevista da CBS, já a vi e só me lembro de algumas ótimas respostas da Palin sobre religião, quando então citou Lincoln. As tais “mancadas” que ela deu só o são porque a imprensa quer detoná-la de qualquer jeito.

    Sim, tô cagando e andando pro McCain e principalmente pro Obama. Gostei tanto da Sarah Palin que até os colunistas do Lew Rockwell andam me irritando. Acho ótima a torcida deles contra a interferência do Estado na quebradeira de Wall Street. Mas quando falam mal dela… ai, é como se falassem mal da minha namorada. Numa coisa concordo com eles: ela precisa se afastar dos neocons.
    {}’s

  3. Concordo com quase tudo o que você disse, filipe.

    A retomada da candidatura Obama está alicerçada no débâcle econômico. MacCain está contra a parede e, por isso, recorre a estratégias um tanto desesperadas (afinal, o que é isso de interromoper a candidatura, ameaçar não ir ao debate e, depois das pesquisas indicarem a preferência da população, voltar atrás na decisão). E nisso ele não é auxiliado pelos colegas de partido. O torpedeamento do bailout de Bush deixou a impressão de que questões políticas locais tornaram-se mais relevantes do que as nacionais. Nenhum dos dois parece ter controle sobre sua base parlamentar.

    Resta Palin. Ela me fez prestar mais atenção à eleição americana. Neste particular, infelizmente, reafirmo o que já havia dito: ela é um flatus vocis, um balão de ar. E vai para o debate com a obrigação de repetir, pelo menos em parte, a performance da convenção republicana. Difícil. Joe Biden, por outro lado, também não inspira muita segurança. Como já se disse amiúde o debate com uma mulher pode se tornar um jogo intrincado, para dizer o mínimo. E ele não costuma deixar passar uma oportunidade para falar asneiras. Sem dúvida Hilary seria uma vice muito melhor. Será um debate interessante, melhor até do que entre os cabeças de chapa. Vamos ver.

  4. Sem dúvida, Yuri. O discurso da Palin na convenção foi muito, muito bem arquitetado e, obviamente, declamado. Eu, que não simpatizo com os republicanos, fiquei impressionado.

    Foi um momento intenso. Contudo, a arena política midiática é também extensa, ou seja, Palin deveria ter sido capaz de sustentar o ethos construído na convenção em outros momentos e foi aí que ela falhou, apesar da proteção dos republicanos. As entrevistas lhe roubaram uma porção do brilho. Ótima retórica, péssima dialética. Vamos ver a performance dela no debate.

  5. Diogo

    Daniel, para variar, discordo de você! rs

    A arena política midiática está completamente empenhada em transformar Palin numa ignorante que bane livros e numa burra que não sabe citar uma das revistas que ela lê. E é uma bobagem entrar nessa onda “Palin a burra” porque basta assistir às suas entrevistas para concluir que ela é muito bem articulada e se sai bem das armadilhas dos jornalistas – e acho que, desde que seja de uma forma leal, o jornalista tem mesmo que dificultar numa entrevista.

    Por outro lado, a imprensa não quer admitir de maneira alguma que Obama é um péssimo debatedor, embora fale bem com teleprompter e discursos previamente preparados. Não, não vou usar como prova o debate com o McCain, basta recorrer ao Youtube e conferir os debates com a Hillary nas primárias dos democratas. Obama sempre fora humilhado, mas a mídia, no calor das emoções de ter um candidato negro na disputa, nega veementemente.

    Embora veja os democratas como verdadeiros inimigos dos EUA (afinal, propõe tudo que vai de encontro ao que fez dos EUA uma nação invejável, mas aí já é outra discussão), acho que Hillary não seria uma melhor opção para vice, mas, sim, para presidente. Seria menos vergonhoso!

    Hoje tem o tão esperado debate. Teremos Biden com suas gafes e seus plágios verbais; Palin com a burrice que a mídia propaga mesmo sabendo que não é verdade; e, acreditem, uma mediadora que é pró-Obama e promete apimentar o debate com questões raciais.

    Quer saber o resultado? Palin vai mais uma vez contrariar a imprensa e se sair bem no debate. Mas a imprensa vai insistir num empate técnico como fez após a humilhação pela qual passou Obama discutindo foreign affairs com o McCain.

    Entretanto, mesmo que ela vá mal ou passe desapercebida, o que poderá mesmo definir a eleição serão os próximos debates entre Obama e McCain. Será interessante ver os dois boiando na crise econômica, já que ficou claro que ambos não falam coisa com coisa quando o assunto é economia.

    Agora, interessante é saber que quando a CNN, a MSBC, a ABC e tantas outras siglas que representem uma rede de televisão americana, sempre procurem o Ron Paul quando querem uma análise da crise. Por que será que não vão lá falar com o Obama, já que o consideram muito mais preparado do que o McCain quando o assunto é economia? Chega a ser patética a cobertura da mídia obviamente pró-Obama.

    Mais patética ainda é a cobertura da mídia nacional, que apenas repete as patetices. Gostaria de saber para que serve um correspondente lá nos EUA se tudo poderia ser feito facilmente por um estagiário ligado à internet para proceder no melhor estilo copy and paste.

  6. filipe

    (bem rapidamente)
    sobre o debate palin x biden, minha impressão é de que a “moça” se saiu melhor.
    no entanto (e, talvez, de novo), a rede cnn anunciou uma pesquisa nacional com telespectadores que assistiram o debate, na qual o candidato democrata foi apontado como vencedor por 51% dos entrevistados, contra 36% a favor da palin. existia também uma pesquisa da preferencia pela simpatia do canditato, e aí sarah ganhou.
    depois a gente comenta mais e melhor.

  7. Puts grila, perdi o debate! Mas o comentário do Filipe parece confirmar as previsões do Diogo, com as quais já concordava de antemão. Vamos ao You Tube…

  8. Diogo

    Talvez o mais justo teria sido mesmo um empate, afinal, ambos portaram-se bem e os debates foram bem mornos. Mas lógico que a mesma mídia que tenta transformá-la numa burra-ignorante, nunca vai admitir nem mesmo que seja um mísero empate.

    Quanto essas pesquisas, ninguém explicou o fenômeno dessas da CNN, que atribuiam vitória ao Obama ao mesmo tempo que ele perdia votos na pesquisa da Gallup e Rasmussen. O cara ganha o debate e cai nas pesquisas, genial!

    O único jornal que admitiu que Palin foi muito bem no debate foi o El Pais: La educación de Sarah Palin – http://www.elpais.com/articulo/internacional/educacion/Sarah/Palin/elpepuint/20081003elpepuint_5/Tes

    Agora, o Reinaldo Azevedo levantou uma questão interessante. A maioria das perguntas privilegiava as weltanschauungen (será que escrevi certo?) do Biden. Perguntou-se sobre o casamento gay, mas não sobre o aborto (o verdadeiro calcanhar de aquiles do Biden que se diz catolicão). Perguntou-se como seria um eventual governo dos vices, caso acontecesse algo com o presidente, partindo do pressuposto que McCain já está com um pé na cova e a imprensa martelando que Biden é experiente e tal, enquanto Palin é inexperiente e burra. Perguntou-se sobre o aquecimento global somente para Biden repetir o que diz a imprensa, sem levar em conta que não é um consenso de forma alguma: “sim, o homem é culpado pelo aquecimento!”… enquanto Palin é a ignorante que ainda não está convencida (ela e uma boa parte de renomados cientistas) de que as causas são inequivocamente humanas.

    Neste caso, ponto para a Palin. Saiu-se bem e mais uma vez a imprensa aposta numa bobagem e perde feio.

  9. Diogo

    Antes de analisar debates há de se considerar uma coisa:

    No Brasil leva-se muito em conta o que sai no New York Times e na CNN. Mas:

    1) a tiragem do New York Times é de 1,1 milhão de exemplares. E o site tem uma média de 1,4 milhão de visitas diárias;

    2) já a CNN tem uma audiência média de 1,3 milhões de telespectadores;

    Vale a pena lembrar que a população nos EUA é de aproximadamente 300 milhões de habitantes.

    E que o último debate McCain x Obama foi o que teve a menor audiência dos últimos 20 anos, com aproximadamente 56 milhões de telespectadores;

    3) o programa de rádio do Rush Limbaugh tem 20 MILHÕES de ouvintes DIÁRIOS. Ou seja: tem mais audiência do que todos os grandes jornais e televisões juntos. E ninguém leva em consideração o que o cara fala.

  10. daniel christino

    Não vi o debate no dia. Estava na casa de um amigo e o jantar, o vinho, a conversa e o tabaco não deixaram espaço para mais nada.

    Vi depois pelo Youtube. Pelo que li por aí o debate acabou empatado. Ponto para a Palin, porque a pressão estava toda nela, de um lado e de outro.

    Mas retorno com meu aviso: o que, realmente, pode-se compreender sobre os candidatos num debate tão amarrado e cronometrado como este? Apenas o ethos . Nada além disso.

    Sarah Palin não chegou nem perto do que foi na convenção republicana. Sua tarefa era, explicitamente, torpedear o consenso negativo emergente sobre suas capacidades administrativas e intelectuais. Como disse o Diogo, Sarah Palin não pareceu aquela matuta bobona das entrevistas na mídia. Ela ficou de pé quando todos esperavam um tombo.

    Biden foi correto, respeitoso, bem-humorado e, no momento certo e preciso, emocionado. Obviamente há, num debate como este, uma mecânica das emoções em jogo. À eufonia de Palin (segura e consistente como uma rocha) ele opôs uma bem arquitetada polifonia emocional. Não repetiu nenhum dos seus deslizes recentes.

    Acima de tudo, ambos apareceram como fieis escudeiros de seus candidatos, reforçando a unidade programática das chapas. Foi um claro empate.

    Entretanto, estou olhando agora o mapa eleitoral do Real Clear Politics e o resultado é 264 Obama, 163 MacCain, com 93 pendendo para Obama e 5 para MacCain. Tenho cá comigo que a retórica do Maverick não está pegando. Enquanto os democratas forem capazes de colocar esta crise no colo dos republicanos, vai ser difícil reverter a tendência de alta do Obama.

  11. daniel christino

    Um adendo. Tio Rei faz uma análise muito estranha do debate. Não há absolutamente nada de tendencioso em perguntar aos candidatos a vice-presidente como seria, eventualmente, seu governo. Eles estão lá para isso. É a essência do cargo. MacCain ser mais velho e com maior probabilidade de bater as botas é tão relevante quanto a cor de Obama. A própria resposta dos candidatos já diz isso. Cada um segue em frente com o programa da chapa.

    Sobre a “obsessão” de Biden com o partido republicano só pode ser birra falar em esquecer o passado e mirar o futuro. Cada comunistinha safado pode dizer rigorosamente o mesmo sobre os massacres stalinistas. “Ora, companheiro, que negócio mais chato este de ficar lembrando o passado. Eu sou um Maverick”. Por certo Tio Rei pretendia que os democratas jogassem fora uma das principais linhas de ataque aos republicanos. Ele deve achar que MacCain, quando eleito, vai trazer o GOP na coleira, conduzindo-o do mesmo modo como fez ao suspender a campanha e fiar publicamente um acordo que não saiu. É bom demais quando ele tasca um “é mentira!!” logo depois. Tem coisas que só o Tio Rei mesmo.

  12. Diogo

    Daniel, você tem birra com o Reinaldo porque ele é católico.

    Não achei nada estranho o que ele afirmou em seu blog, quando se leva em conta essa insistência em dar uma importância maior à vice dos republicanos do que para o vice dos demos, com o intuito claro de levar a essa coisa maldosa de que McCain pode morrer a qualquer momento. Chega a ser uma coisa nojenta aqueles debates da CNN sobre o assunto, beirando ao ridículo daquela coisa cretina de juntar um monte de bocós para discutir qual a influência teria uma filha mãe-solteira na eleição.

    Concordo com ele quanto a pauta do debate ter sido democrata. Pergunta-se sobre casamento gay, que é tema desfavorável à Palin e que em nenhum momento foi assunto nesta campanha. Sem problemas! Mas porque não ser justo e perguntar sobre aborto que é um tema desfavorável ao Biden? Biden se diz católico, mas os católicos não gostam dele por ser a favor do aborto. A Florida é um dos estados indecisos a latinaiada católica iria adorar ver o Biden falando disso.

    Depois vem essa pesquisa boboca da CNN dizendo: Biden venceu! E há bobocas maiores que repetem isso nos seus jornais e blogs, como se a CNN fosse imparcialíssima. Isso é enganar o leitor.

    No primeiro debate McCain x Obama, o Reinaldo foi o único a ir contra a maré, admitindo o clima morno no primeiro bloco, com os dois boiando no assunto economia, mas depois com a humilhação que passou o Obama nos blocos decorrentes sobre relações exteriores.

    A CNN afirmou que Obama venceu fácil. Nos dias correntes, a BBC, o El País e outros tantos jornais um pouquinho mais sérios, já admitiam que Obama tinha se dado mal e partindo daquela mesma análise do Reinaldo: empate na economia e humilhação nas relações exteriores. Por favor, não vá entender que estou dizendo que o Reinaldo tenha pautado a mídia mundial. Somente ocorreu que ele fez uma análise do que acontecia no real time, enquanto todos os outros estavam mais empolgados com os gráficos da CNN mostrando se o público gostou ou não da resposta. Coisa patética. Só faltaram as indicações para quando era para rir com a piada do Obama e quando era para ranger os dentes na resposta do McCain. Mas, tudo bem, ele têm ainda mais três debates.

    Mudando de assunto:

    você citou o real politics, certo, Obama ainda na frente! Mas deve-se levar em conta que há uma margem de erro (de 3% a 4%). Muitos estados estão totalmente indefinidos e quando se ganha num estado, leva-se todos os votos dele. Assim, uma diferença de 10 ou 20 votos pode cair com apenas um que define a vitória num desses estados. Ia lembrar que pequisa não é eleição, mas vou cair no lugar comum. Mas não deixa de ser verdade, pois Bush estave sempre atrás de Gore e levou a eleição.

    Quanto à economia, não sei a que ponto atrapalha somente a campanha do McCain. Não acredito que os americanos sejam estúpidos para acreditar nesse jogo de empurra entre democratas e republicanos. Todos alí têm culpa quando endossaram os subsídios ao Fannie Mae e Freddie Mac – excetuando a ala congressista do Ron Paul, que deveria ser empossado hoje mesmo como presidente.

  13. filipe

    vamos lá,

    diogo, vc se apegou muito ao fato de que a cnn “gostou da chapa democrata”. mencionei a rede de tv americana somente porque havia sido a primeira e única análise (idiota, eu confesso) que tinha lido logo após o debate. fui obrigado a sair de casa correndo e não tive, infelizmente, a oportunidade de ler algo melhor. tentei usar até um tom irônico ao mencionar a rede – note que digo “a palin foi melhor” logo antes de citar as pesquisas da cnn.

    de forma bem sucinta (eu tô apressado pra caralho), achei o debate bem enfadonho. no fim das contas, acho que fiquei saturado com esses momentos da corrida política. tenho assistido também os debates para prefeitura aqui de recife. e, depois que li esse post do daniel, aí peguei abuso mesmo.

    considero que a palin tenha sido melhor e esse resultado isoladamente não é tão relevante. vô tentar me explicar no decorrer do comentário.

    o chuck todd da nbc afirmou veementemente que a palin foi superior. ele comenta que, pra quem experava uma palin inexperiente e um biden cheio de verbosidade, o debate foi muito equilibrado e, por isso, surpreendente. pra ele, se a candidata não esteve no seu melhor dia (como afirmou o daniel), mostrou muita segurança e poder de reação quando esteve em momentos de desvantagem.

    howard fineman, da newsweek, considera que a palin tenha marcado importantes pontos durante o debate, mas que não o venceu. contudo, ele não trata essa situação como sendo desfavorável pra governadora. semana passada mesmo, ele comentava que o debate de ontem seria os 90 minutos mais longos da vida da palin. ao final do embate, fineman comentou: “No way. She loved every minute. And when Biden said at the end that he was glad to have finally met her, he was clearly lying. It was no fun for him”.

    as duas primeiras grandes pesquisas feitas logo ao final do debate, uma pela cnn e outra pela cbs, mostraram ligeira vitória do biden segundo os telespectadores. no entanto, mesmo a “palhaça” da cnn mostrou uma pesquisa indicando que a palin havia superado as expectativas da grande maioria das pessoas que assistiram o debate. outra pesquisa, também da cnn, mostrava que, antes do debate, 43% dos telespectadores indecidos consideravam palin experiente e segura sobre temas diversos. apõs o debate, esse número subiu para 66%. mais ainda, outra pesquisa da cnn mostrava qua a maioria dos telespectadores considerava a palin plenamente qualificada para ser presidente dos eua ao final do debate.

    pra fechar, o new yort times detonou a participação da candidata republicana. o jornal afirma que a palin, após uma série de trágicas entrevistas repletas de gafes, teve cuidado para evitar apenas mais outra situação comprometedora. o nyt vai além: “McCain fez uma escolha ousadamente irresponsável”.

    no meio desse pegapacapá de opinões, fico com os comentários do washington post, os mais sensatas e coerentes de todas que li. essas análises são resultado das baixas expectativas para o debate vice-presidencial, que foi, no fim das contas, mais uma discussão superficial cheia de evasivas. o joe cohen reintegra essa linha de raciocínio, fazendo o seguinte comentário: “…o mais importante é saber quantos eleitores mudarão seus votos após o evento (debate). as evidências preliminares sugerem que não muitos; 71% dos eleitores indecisos afirmaram que se lembravam muito vagamente do debate, segundo uma pesquisa da cbs. entre aqueles que afirmaram ter mudado de voto, algumas poucas pessoas teriam alternado para o lado democrata.

    pra terminar, o diogo (comentando um comentário do daniel sobre real politics) afirma que, embora as pesquisas apontem o obama na frente, trata-se de um empate técnico devido a margem de erro e ao fato de que muitos estados ainda estão indecisos. coisa parecida eu tentei dizer pra ele quando o mesmo entrou na euforia do fenômeno palin. mas veja que, nesse ponto, a candidatura do mccain corre mais risco de ter desvantagens do que a do obama. o michigan, estado em que os democratas estiveram envolvidos em trapalhadas durante as primárias, era um dos alvos preferenciais dos republicanos. no entanto, ontem foi anunciado pela campanha do mccain que seria retirado do ar anúncios televisivos e dado por acabada as ações de campanha no estado. isto é, o mccain compreendeu que não tinha reais hipóteses de vencer. E como os recursos são limitados, aponto a bateria pra outros lados, como pennsylvania, wisconsin e minnesota. tentarão roubar também um voto eleitoral no maine – um dos dois estados (o outro é Nebraska) que não adopta o sistema “winner takes all”.

    de uma forma geral, isto significa que as “forças” que poderiam levar o mccain até a casa branca estão ficando escassas e o caminho mais estreito. enquanto obama está a competir e até a liderar muitos estados que votaram em bush no ano de 2004 (9 no total), mccain tenta angariar eleitores em poucos estados de kerry (3 ou 4).

  14. daniel christino

    Tenho birra com Tio Rei não, Diogo. Debatia com ele na época do fórum da primeira leitura. Ele usava a alcunha de “Boca do Inferno”, um jovem banqueiro judeu com idéias muito próximas ao anarquismo bancário do Fernando Pessoa, autor que ele cita amiúde. Sempre concordei mais do que discordei dele. O Yuri participava lá também.

    Ficou de fora do dabete a pesquisa com células-tronco e a posição de ambos sobre ciência e tecnologia em geral. Coisa que considero importante, sendo Palin criacionista e Biden católico.

    Citei o real clear mais como parâmetro. Antes da crise econômica a vantagem de Obama era significativamente menor e, às vezes, o MacCain aparecia na frente. O próprio Tio Rei tem um ou dois posts comemorando o fato. Se a chapa MacCain/Palin venceu os dois debates, porque isso não se refletiu em votos?

    Sobre economia não é um jogo de empurra não, Diogo. Depois de oito anos de administração republicana não dá nem para dividir a culpa com os democratas. Alan Greenspan era considerado um gênio das finanças. Navegou a economia americana bancado politicamente pelo GOP. Você vai me dizer que ele não sabia do que o Ron Paul sabe? Você acha que esse debate não ocorreu dentro do FED e o governo bancou a aposta neste modelo regulatório que faliu? Claro que sim.

  15. Diogo

    Quando se fala em adminstração republicana, esquece-se que há parlamento. E o parlamento é democrata (a maioria). Bush não faz nada sem que o Congresso aprove. Então, neste balaio de gatos, todos têm culpa e chega a ser ridículo a senhora Pelosi querer arrotar grosso agora que a vaca foi pro brejo. Mesmo porque desde 2004 os liberais vinham avisando que os rombos no Fannie e Freddie poderiam acabar como acabou. Basta ver os arquivos de artigos da Cato e do Mises Institute.

    Aí, sou obrigado a repetir o que o McCain anda falando como um papagaio porque é a parte mais engraçada desta campanha:

    “The problem is the…
    greed and corruption in Wall Street… the greed and corruption in Wall Street…. the greed and corruption in Wall Street…”

    As gigantes imobiliárias não teriam adquirido tanto passivo se não fosse a intervensão do governo. Tirando a ala do Ron Paul, que sempre foi contra a idéia de o governo subsidiar o crédito with greed and corruption in Wall St. Até o McCain, que timidamente já havia sugerido que poderia haver um problema, mas como ele não entende nada de economia, nunca foi ouvido. Mas depois que o problema virou tema eleitoral, está aí vergonhosamente a propor mais regulamentação.

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