Em conversa com amigos “relativistas absolutos” percebi um detalhe que, não sei por que, nunca me havia ocorrido: há gente que não acredita que exista, em nível algum, o livre arbítrio da alma humana. Eu sabia que muita gente achava a tal “alma” um mero emaranhado de sinapses, um complexo e, por que não?, ordinário “processo” eletroquímico que finda com o corpo. Mas daí a ter de ouvir que não há livre arbítrio algum, mesmo enquanto materialmente ativo… puts, foi uma novidade. Para eles, o livre arbítrio – a liberdade de decisão! – é um mito, uma aparência que varia da mais enganosa e falsa liberdade à absoluta ausência de alternativas. E, detalhe, me deixaram entender que a medida é: quanto mais pobre for a pessoa, menor será seu nível aparente de livre arbítrio, até a miséria, onde a pessoa é absolutamente prisioneira das circunstâncias. Marxistas, claro. E tiveram a falta de simancol de me dizer que um garimpeiro nunca decidiu ser um garimpeiro, mas que a vida, a sociedade, o empurrou até o garimpo. (Discutíamos sobre o assassinato, por parte de índios, de um grande grupo de garimpeiros. Eles diziam que ambos não tiveram alternativas: os garimpeiros de ir fazer outra coisa, os índios, de não matar!!)
Mas – peraí!! – não é que eles, em certo ponto, têm alguma razão? Sim, têm, embora não percebam a arapuca em que se metem com isso. Se fôssemos somente esse sistema mecânico, eletroquímico ou sei lá eu, não poderia haver realmente livre-arbítrio. Seríamos como computadores a esperar o toque de dedos extrínsecos a nós que nos impulsionassem para lá e para cá. Mas o que eles não percebem é que já fomos “digitados” – vide o teto da Capela Sistina. Sem a alma não haveria livre-arbítrio e eles sequer poderiam decidir a tomar uma opinião distinta.
As besteiras que a gente tem de ouvir…