blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Cora

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Livraria da Vila, shopping Cidade Jardim, em São Paulo

Todas as Vidas

Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço… Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo… Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso d’água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de São-caetano. Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal. Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha, e filharada. Vive dentro de mim a mulher roceira. -Enxerto de terra, Trabalhadeira. Madrugadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos, Seus vinte netos. Vive dentro de mim a mulher da vida. Minha irmãzinha… tão desprezada, tão murmurada… Fingindo ser alegre seu triste fado. Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida – a vida mera das obscuras!

Madonna

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Morumbi, 20dez8

A verdade da sua vida

O Poder do Mito – Joseph Campbell em entrevistas com Bill Moyers (trecho)

CAMPBELL: Há um magnífico ensaio de Schopenhauer em que ele pergunta como um ser humano pode participar tão intensamente do perigo ou da dor que aflige o outro a ponto de, sem pensar, espontaneamente, chegar a sacrificar a própria vida por esse outro. Como pode acontecer a brusca anulação daquilo que normalmente concebemos como a primeira lei da natureza, a autopreservação?

No Havaí, há cerca de quatro ou cinco anos, deu-se um evento extraordinário que ilustra bem a questão. Há um lugar lá chamado Pali, onde os ventos do norte passam rápidos através de uma grande cadeia de montanhas. As pessoas gostam de ir lá em cima, para ver seus cabelos agitados ou, às vezes, para cometer suicídio -– você sabe, algo como saltar da Golden Gate Bridge.

Um dia, dois policiais dirigiam pela estrada de Pali quando viram, encostado à amurada que protege os carros do perigo do despenhadeiro, um jovem que se preparava para saltar. O carro de polícia parou e o policial à direita pulou para agarrar o jovem; mas o fez no instante em que este saltava, e acabou sendo carregado pelo outro; o segundo policial chegou a tempo de puxar os dois.

Você se dá conta do que subitamente aconteceu àquele policial que quase morreu junto com o jovem desconhecido? Tudo o mais em sua vida foi esquecido -– seus deveres para com a família, seus deveres para com o trabalho, seus deveres para com sua própria vida –- todos os seus desejos e esperanças em relação à vida simplesmente tinham desaparecido. Ele estava a ponto de morrer.

Mais tarde, um repórter lhe perguntou: “Por que você não o deixou cair? Você teria morrido com ele”. Sua resposta foi: “Não podia. Se tivesse deixado aquele jovem cair, não poderia viver nem mais um dia da minha vida”. Como é possível?

A resposta de Schopenhauer é que tal crise psicológica representa a abertura para a consciência metafísica de que você e o outro são um, de que você é um dos aspectos de uma só vida, e que a sua aparente separação é apenas resultado do modo como vivenciamos as formas, sob as limitações de tempo e espaço. Nossa verdadeira realidade reside em nossa identidade e unidade com a vida total. Esta é uma verdade metafísica, que pode surgir espontaneamente em circunstâncias de crise. Pois esta é, de acordo com Schopenhauer, a verdade da sua vida.

O herói é aquele que deu sua vida física em troca de alguma espécie de realização dessa verdade. A idéia de amar seu próximo é pôr você em sintonia com esse fato. Mas, quer ame ou não o seu próximo, quando a realização o pega, você pode arriscar a própria vida. Aquele policial havaiano não sabia quem era o jovem a quem ele tinha oferecido a própria vida. Schopenhauer declara que, em proporções reduzidas, você vê isso acontecer todos os dias, o tempo todo, movendo a vida na terra -– pessoas tendo gestos desprendidos em relação a outras pessoas.

MOYERS: Então, quando Jesus diz “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, ele na verdade está dizendo: “Ama o teu próximo porque ele é tu mesmo”.

CAMPBELL: Há uma bela figura na tradição oriental, o bodhisattva, cuja natureza é a compaixão ilimitada e de cujos dedos diz se que escorre ambrosia até as profundezas do inferno.

MOYERS: Qual é o significado disso?

CAMPBELL: No final da Divina Comédia, Dante se dá conta de que o amor de Deus impregna todo o universo, até as mais fundas cavernas do inferno. É aproximadamente a mesma imagem. O bodhisattva representa o princípio da compaixão, o princípio curativo que torna a vida possível. A vida é dor, mas a compaixão é que lhe dá a possibilidade de continuar. O bodhisattva é aquele que atingiu a consciência da imortalidade, por meio da sua participação voluntária no sofrimento do mundo. Participação voluntária no mundo é muito diferente de apenas ter nascido nele. Este é exatamente o tema da declaração de Paulo sobre Cristo em sua Epístola aos Filipenses, segundo a qual Jesus “não pensou na condição divina como algo a ser conservado, mas tomou a forma de um servo aqui na terra, para morrer na cruz”. É uma participação voluntária na fragmentação da vida.

Blondie – Heart of Glass

Da seção “músicas que marcaram nossa infância”…

Lo que canto no es mi canto

Com exceção de duas ou três ligeiras asserções, muito me agradam as palavras do cantor e compositor argentino Facundo Cabral.

Últimos dias de Nietzsche

O que o sexo a sífilis, misturada a pensamentos caóticos, não é capaz de fazer a um homem…

A sublime senhora H – livroClip

O Márcio Santana me enviou, por email, essa animação sobre a Hilda Hilst. Fico imaginando o que ela acharia do resultado, principalmente da música…

Para ver a animação, clique no link abaixo. (O player estava insistindo em iniciar a reprodução automaticamente, o que é irritante quando se acessa o blog.)

Visões da vida quase-real 2

Anna Netrebko

Anna Netrebko

Dizem que ela já foi faxineira do Teatro Mariinsky em São Petersburgo. Hoje, a russa Anna Netrebko é umas das melhores sopranos da Ópera mundial. Evidentemente que os gritinhos dela muito me aprazem.
Ok, há quem ache ela pop demais. Isso faz mesmo diferença?
Ela totalmente pop aqui e aqui encenando La Traviata de Verdi com Rolando Villazón. Confesso que em cena ainda prefiro a Dessay, mas isso fica pra outro post.

Top news photographs

A revista Vanity Fair pôs em seu site uma lista do que seus editores consideram as 25 melhores fotografias noticiosas de todos os tempos. É uma lista, o que, naturalmente, a torna imperfeita.

Muitas deles você já terá visto, com certeza, pois realmente estão entre as melhores. É possível votar na sua preferida.

Escolhi uma para ilustrar o post, mas não significa que seja de fato a minha preferida —posso mudar de idéia amanhã…

South Vietnamese forces and terrified children, flee an accidental napalm drop on friendly territory, June 8, 1972. Nick Ut/AP Photo

Agadir

Entrada do Agadir, restaurante marroquino na Vila Madalena

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