Nesses momentos de turbulência política, nada como ler Eumeswil, romance de Ernst Jünger, escrito quando este tinha 82 anos de idade. (Morreu as 102, em 1998, após testemunhar todo o século XX.) Trata-se das elucubrações de um historiador que trabalha como barman do tirano de sua nação (Eumeswil).
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Taí uma pergunta do Nelson Rodrigues – do conto A Dama do Lotação – que se encaixa perfeitamente bem ao comportamento de certos “funcionários” do Palácio do Planalto: “Como é possível que certos sentimentos e atos não exalem mau cheiro?”
Oportuno memorial, escrito por Deonísio da Silva, a respeito da querHilda amiga.
E por falar no J. Toledo, verei se em breve coloco no site da Hilda o depoimento que ele escreveu a respeito dela para o Blocos on line. Aliás, a Ana Peluso, que parece ser do mesmo planeta que eu, também fez sua homenagem.
Amigos, obrigado pelas palavras de carinho e conforto. Logo mais postarei meu próprio depoimento sobre essa figura maravilhosa que é – sei que ainda é – Hilda Hilst.
Quanto a você, Hildeta, saiba que apesar de todas as nossas conversas sobre morte, imortalidade da alma, Deus, transcomunicação instrumental, projeção astral, religiões, santidade, ovnis, cosmologias mil, enfim, sobre “aquelas coisas”, não pude deixar de chorar sua morte. O engraçado é que choro, imagino, mais por mim do que por você. Porque sei que você ficará muito bem, voltará a ter, como você desejava, suas formas jovens, voltará a ser na aparência a mulher linda que sempre foi interiormente. E eu ficarei aqui ainda um bom tempo, suponho. Nesse mundo louco. E você curtindo a liberdade do espírito. Fico até com ciúmes, imaginando que irá correndo atrás do seu pai, do Richard Francis Burton, do James Joyce, do Kafka, do Vinícius de Moraes, do Yogananda e de outros caras “deslumbrantes”. Espero que você possa se comunicar, conforme combinamos. Uma visita – vestida de vermelho, lembra? – um email, tanto faz. Não se esqueça de nós, do Dante Casarini, da Iara, do Zé Luis Mora Fuentes, da Olga, do Almeida Prado, do Toledo, do Vivo, do Araripe, da Inês Parada, do Gutenberg, do Jurandi, da Lygia Fagundes, da Shirley e de tantos outros seus amigos que merecem mais lembrança do que este que agora lhe escreve, apesar da minha sensação de ter entrado pra “família” no dia que me repetiu uma frase que, tenho certeza, já havia sido dita para alguns deles: “Yuri, obrigado por ser adepto da minha loucura”. Eu amo você, querida. Espero um dia me tornar um escritor digno da sua admiração. (Meu Deus, isto será dificílimo! Você é exigente demais. Tanta gente consagrada que você não curtia.) Em todo caso, já vou dizendo o que nunca senti ter moral para lhe dizer, mas que agora, sendo você uma recém nascida do espírito, irá entender: obrigado, Hildeta, por ter sido adepta da minha loucura. Se eu não a tivesse conhecido, se eu não tivesse descoberto que é possível ser um bom escritor em meio a todas “aquelas coisas”, e outras mais, eu teria ido parar num sanatório há algum tempo. Você me provou, nesses seis anos de amizade e dois de convivência diária, que é possível defrontar a loucura deste planeta sem perder a fé no Pai e na Arte. Aliás, obrigado também pelo chapéu de bobo, pela casa (do sol), pela comida e pela alma lavada. Nunca vou lhe esquecer. Fica com Deus.
Besos y besos y besos
Yuri
PS1.: Não sei se você percebeu, mas ontem eu e alguns amigos esvaziamos algumas garrafas de vinho – no apê do Pedro Novaes – em sua homenagem. A de vinho do Porto era da marca “Porto Seguro”. Pra lhe dar sorte.
PS2.: O Toledo já me havia escrito de madrugada avisando do seu passamento. Mas só fui me inteirar do ocorrido quando o Rodrigo Fiume, do Estadão, me telefonou. Eu estava justamente gravando um CD do Miles Davis pra você. Summertime é a primeira música. Vou mantê-lo para me lembrar que você partiu num verão.
PS3.: E veja se vai mudando de opinião com relação a que “gostar de mulher por cima é coisa de viado”. Poxa, tá querendo refutar todo o Kama Sutra, é? Diz isso pro Burton aí em cima pra você ver se ele não lhe dá uns tapas… 🙂
[Ouvindo: Angel – Massive Attack]
“O efeito de qualquer escrito no espírito do público pode medir-se matematicamente pela profundeza de seu pensamento. Que tiramos de sua leitura? Se nos leva até fazer-nos pensar, se nos faz despertar ante a voz da eloquência, então seu efeito será amplo, lento, permanente sobre o espírito dos homens; mas se não nos instrui, morrerá tão depressa quanto as moscas. A maneira de falar e de escrever que nunca passa de moda é a de falar e escrever sinceramente. Se a argumentação não tem força suficiente para influir em minha própria conduta é duvidoso que influa sobre a dos outros. Mas olhemos a máxima de Sidney: ‘Olha em teu coração e escreve’.”
Ralph Waldo Emerson
“Não há nada em que se manifeste melhor o caráter do homem do que naquilo que ele acha ridículo.” (Goethe, Afinidades Eletivas)
“A Arte é o recurso mais seguro de o homem evitar o mundo e nela está o meio eficaz de se ligar com ele.” (Goethe, Afinidades Eletivas)
“O que me eriçou foi escutar, uma vez mais, um colega fazer angelismo e celebrar, com uma lágrima nos olhos, esse grande sentimento de fantasia: esperar um mundo todo açúcar e homens com asas. Nos lares, bem entendido, pensavam que se tratava de um nobre coração. Para mim, tratava-se de um representante de venenos. A literatura dispõe muitas vezes para esta segunda profissão.”
“O messianismo é uma doença cíclica do espírito.”
(Louis Pauwels)
“E há apenas um meio pelo qual mudar a vida. Não é que nossa vida comum seja galvanizada por um acontecimento. É que nossa vida comum, por meio da consciência espiritual, deixa de ser vivida de um modo comum. (…) Na realidade, nada nos proíbe de alcançar a serenidade e a plenitude no mundo tal como ele é, a não ser a atmosfera cultural.”
“O materialismo se diz científico, tal como o lobo se dizia avó.”
“Eu acredito que a pior poluição é a dos espíritos que deixam de amar o progresso.”
“Deus acha bem que a Natureza seja moldada para fazer homens.”
(Louis Pauwels)