Categoria: Arte Page 22 of 112
O blog sobre cinema da Sertão Filmes, editado pelo Pedro Novaes e do qual eu e o Paulo Paiva somos colaboradores, já está em seu novo endereço. Agora só falta recolocar os links e demais firulas bloguísticas. Cada dia está com um visual distinto, mas uma hora haverá de encontrar sua própria cara. (No começo, não curti esse título, mas o Pedro insistiu e já estou começando a achá-lo engraçado.)
Há uma excelente safra de documentários musicais no circuito de cinemas. Aliás, em minha opinião, alguns dos melhores documentários da safra nacional recente enquadram-se neste gênero: no front aberto por Meu Tempo é Hoje, dirigido por Isabel Jaguaribe, sobre Paulinbo da Viola, surgiram mais recentemente Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, o já premiadíssimo Fabricando Tom Zé, de Décio Mattos Jr., e ainda Pedrinha de Aruanda, do Andrucha Wadington, e Brasileirinho, dirigido pelo finlandês Mika Kaurismaki. O mais recente da leva é o doc de Patrícia Pillar sobre Waldick Soriano, um de nossos reis do brega.
Ainda não tive a oportunidade de assistir ao Fabricando. Por estes dias, entretanto, finalmente vi Pedrinha e Brasileirinho. Dois filmes diferentes e maravilhosos. Pedrinha, sem a preocupação de ser exaustivo ou biográfico, abre, de maneira sutil e envolvente, uma parte do universo de Maria Bethania. É um documentário extremamente simples e despretensioso, o que me parece sua grande virtude. Andrucha deve se ter dado conta de que não caberia a ele aparecer, tentando construir uma estética diferente ou rebuscada para alguém que não precisa de nada disso. Bethania se sustenta por si mesma – basta ligar a câmera. Mais de metade do documentário se resume a uma mesma sequência, em que Caetano, Dona Canô e a filha cantam juntos na varanda da casa de Santo Amaro da Purificação. É muito bonito.
Brasileirinho, diferentemente, não é um documentário sobre alguém, mas sobre um gênero de música, talvez o mais genuinamente brasileiro: o choro. Para tanto, percorre o universo do centro e dos subúrbios cariocas e exibe perfomances memoráveis e monumentais de grandes nomes como o Trio Madeira do Brasil, Joel Nascimento, Yamandu Costa, Paulo Moura, Zé da Velha, Silvério Pontes, Jorginho do Pandeiro, Guinga e outros. Memorável. Também sem pretensão de malabarismos estéticos, que são deixados a cargo das perfomances musicais. O CD da trilha está a venda. Vale à pena.
O Pedro Novaes me enviou o link do blog Blindness, uma espécie de “diário de viagem” do diretor Fernando Meirelles pelas entranhas da produção de seu filme mais recente, uma adaptação do romance do José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira. Em geral, quando leio textos de pretensos diretores de cinema, me lembro daquela sentença do Fernando Pessoa na boca de Bernardo Soares: “Ofende-me o entendimento que um homem seja capaz de dominar o Diabo e não seja capaz de dominar a língua portuguesa”. Aqui, Pessoa se referia a um livro sobre ocultismo pessimamente escrito. Mas fico particularmente irritado quando alguém tenta dominar o diabo da técnica cinematográfica sem antes dominar a escrita. O Fernando Meirelles prova que não é um desses: o cara manda bem.
Para quem tem interesse nos bastidores de uma produção cinematográfica, para quem trabalha ou quer trabalhar com cinema, o blog é uma mão na roda. Aliás, uma amiga que trabalhou durante dois anos na produtora O2 me disse que, lá, o Meirelles é visto como uma espécie de guru interno. Já um de seus sócios, segundo ela, é o mauzão da área. (Parece que as demais sócias são mulheres.) Ao fim e ao cabo, os caras são espertos e sabem que não são apenas as duplas policiais que devem ter um cara que bate e um que fala manso. Cinema também é diligência.
Com relação a diretores que sabem escrever, sugiro ainda os livros/textos de Andrei Tarkovsky, Andrzej Wajda, Glauber Rocha e François Truffaut.
Moçada de Goiânia, convidaram-me para ser jurado no I Festival de Cinema Universitário Latino Americano, o Perro Loco, que está rolando por aqui. Passei a tarde toda assistindo a filmes de ficção, documentários e animações do Brasil, Argentina e Cuba. Aliás, um curta-metragem cubano foi exibido na abertura do festival e seu diretor é meu companheiro de juri. Depois volto com mais informações sobre a experiência de ser jurado (logo eu, que não juro nem de pé junto…). Mais informações aqui.
Do blog do Martim Vasques:
Segundo T.S. Eliot, ser “provinciano” não significa “não possuir a cultura ou o requinte da capital”, muito menos ser “estreito no pensamento, na cultura e no credo”. É algo além – e muito mais trágico para a cultura de uma nação que se pretenda saudável. Refere-se “também a uma distorção de valores, à exclusão de alguns, ao exagero de outros, que resulta, não de uma falta de ampla circunscrição geográfica, mas da aplicação de padrões adquiridos dentro de uma área restrita, para a totalidade da experiência humana, que confundem o contingente com o essencial, o efêmero com o permanente. Em nossa época, quando os homens parecem mais do que propensos a confundir sabedoria com conhecimento, e conhecimento com informação, e a tentar resolver problemas da vida em termos de engenharia, começa a emergir na existência uma nova espécie de provincianismo que talvez mereça um novo nome. É um provincianismo, não de espaço, mas de tempo, aquele para o qual a história é simplesmente a crônica dos projetos humanos que têm estado a serviço de suas reviravoltas e que foram reduzidos à sucata, aquele para o qual o mundo constitui a propriedade exclusiva dos vivos, a propriedade da qual os mortos não partilham. A ameaça dessa espécie de provincianismo é que podemos todos, todos os povos do mundo, ser provincianos juntos; e aqueles que não estiverem satisfeitos podem apenas tornar-se eremitas” (ELIOT, T.S. “O que é um clássico”, in: De Poesia e Poetas, págs. 96-97).
Outro dia, eu estava deprê – ora, eu vivo no planeta Terra, me dê um desconto – quando então assisti a este vídeo e melhorei 78,7%. Talvez seja bom pra vc também.
Quem estiver com o tempo livre e com algum sobrando eu gostaria de indicar um livro. Não porque a personagem é uma das principais figuras da história francesa, nem porque fui eu quem escreveu a introdução. Indico porque é uma boa leitura e uma excelente oportunidade de penetrar no universo do genial Michelet.
Até mesmo seus exageros são extraordinários. Michelet é o primeiro historiador a desenvolver um método de compreensão da história a partir do modo de vida das pessoas, buscando a ressurreição total de uma época na compreensão de fatos ou personagens até então desconsiderados pela historiografia clássica. A edição é muito bem cuidada, a tradução é excelente e a introdução não comete nenhum grande pecado. Leiam.