O Garganta de Fogo

blog do escritor yuri vieira e convidados...

Entrevista com o Teólogo André Figueiredo sobre Swedenborg e a Nova Igreja

Introdução

Quando eu ainda morava em Belo Horizonte, o Yuri publicou no saite alguma coisa sobre Borges e Swedenborg. Na época eu já era fã de Borges e pesquisei mais sobre seu Guru na internet. Logo percebi que a despeito de ser teólogo e místico, Swedenborg tinha uma obra intelectual admirável e merecia no mínimo a atneção interessada que votamos aos grandes pensadores do ocidente, sejam eles filósofos sistemáticos ou não. Então fui estudando suas obras sem muito método, à medida que chegavam às minhas mãos, e tentando compreender minha própria realidade à luz do que ele dizia. Na época eu era um cético que começava a flertar com uma espécie de “Criastianismo Filosófico” – um cristianismo que convence mais pela explicação que pela força mística do ritual – e Swedenborg caiu como uma luva na minha cabeça cheia de contradições. Embora verse sobre assuntos de fé, ele com freqüência expõe seu pensamento numa estrutura filosófica com silogismos e premissas bastante claros. Além disso, sua Ciência das Correspondências é uma espécie de chave intelectual para a compreensão da linguagem poética, e um aspirante a ficcionista, como eu, não podia deixar de se deleitar com uma coisa dessas.

Alguns anos mais tarde me mudei para o Rio de Janeiro, e tive o privilégio de conhecer pessoalmente André Figueiredo, filósofo de formação e teólogo da Nova Igreja – Igreja fundada por Swedenborg, que tem uma sede aqui no Rio. André é uma espécie de enciclopédia viva sobre Swedenborg, pois se dedica não apenas a estudar sua Revelação, mas a colocá-la em prática como membro ativo da Igreja Nova Jerusalém. Sua inteligência rápida e apurada logo me impressionou, principalmente porque era a primeira vez que eu encontrava essa virtude junto a uma gentileza e uma paciência dignas de um monge. Nesta entrevista procurei explorar um pouco dessas qualidades, indagando a André sobre sexo, morte, casamento, religiões e outras questõezinhas que costumam atormentar as mentes em busca de respostas. Sempre quis fazer uma entrevista desse tipo, não só porque acho que Swedenborg e a Nova Igreja merecem ser divulgados num círculo mais amplo, mas também porque eu queria dividir com o pessoal do Karaloka – leitores e autores – um pouco das idéias que me ajudaram a compreender melhor o mundo da religião, das ciências, dos conflitos humanos e até da literatura de ficção. Nas linhas abaixo, acho que vocês poderão perceber que as obras de Swedenborg de fato se prestam a isso; e para no-las apresentar nada melhor que alguém que dedica a vida a compreendê-las. Então, chega de rasgação, e vamos às perguntas:

1. André, gostaria de começar esta entrevista com uma pergunta que deve ocorrer a qualquer pessoa comum, e acho que é uma questão que, de certa forma, ocupa o centro do interesse autêntico pela religião. Existe vida após a morte? E, caso exista, devemos nos preocupar com isso?

Existe sim vida após a morte. E qual a importância de se preocupar com isso? A morte é uma metamorfose, é um novo estágio do desenvolvimento humano. A morte antecede a ressurreição, e a ressurreição é uma regeneração, isto é, um novo nascimento. É algo semelhante ao que se processa com os insetos no processo da metaformose: a lagarta entra no casulo e se transforma, renasce como uma borboleta ou um inseto alado.

Da mesma forma, quando abandonamos este corpo, é como se o fizéssemos em relação a algum casulo que foi o útero de uma grande gestação e transformação, mas que é agora descartado. A metamosfose é uma imagem da regeneração e do novo nascimento. Mas há uma diferença entre a regeneração dos insetos em sua metamorfose, e a regeneração do homem para que ele de natural se torne espiritual. No caso dos insetos, este processo é espontâneo, isto é, simplesmente acontece quer o inseto queira, quer não. No caso do homem, isto não é uma fatalidade, mas depende de um esforço ativo e constante, uma decisão emanada do livre arbítrio.

São poucas as doutrinas hoje em dia que enfatizam a ciência da regeneração. Mas esta é a grande obra de todas as autênticas religiões: a regeneração do gênero humano. Assim se pronuncia Swedenborg sobre este ponto:

Que o homem deva ser regenerado, a razão o mostra claramente; com efeito, por seus país êle nasce nos males de todo gênero, e êstes amores residem em seu homem natural que, por si mesmo, é diametralmente oposto ao homem espiritual; e entretanto o homem nasceu para o Céu, e não vai para o Céu a não ser que se torne espiritual, o que se faz unicamente pela regeneração; daí segue-se necessariamente que o homem natural com suas cobiças deve ser domado, subjugado e revirado, e de outro modo êle não pode se aproximar de um único passo em direção ao Céu, mas se precipita cada vez mais no Inferno. Como não ver isso, quando se acredita que o homem nasceu nos males de todo gênero, e quando se reconhece que o bem e o mal existem, e que um é oposto ao outro; e quando se acredita que há uma vida depois da morte, que há um Inferno e um Céu, e que os maus vão para o Inferno, e os bons para o Céu? O homem natural considerado em si mesmo, quanto à sua natureza, não difere em nada da natureza das bêstas, é igualmente feroz; mas é tal quanto à vontade; entretanto difere das bêstas quanto ao entendimento; êste pode ser elevado acima das cobiças da vontade, e não somente as ver, mas também as moderar; daí vem que o homem pelo entendimento pode pensar, e pelo pensamento falar, o que não podem as bêstas. Qual é o homem de nascença, e qual será se não for regenerado, pode-se ver pelas bêstas de. todo gênero; será tigre, pantera, javali, escorpião, tarântula, víbora, crocodilo, etc.; se não fosse, pois, pela regeneração transformado em ovelha, que outra cousa seria senão um diabo entre os diabos do Inferno? Então se as leis do govêrno civil não detivessem tais homens nas ferocidades nascidas com êles, não se precipitariam um contra o outro, e não se degolariam, ou não se arrancariam até suas camisas? Quantos não há no gênero humano que sejam sátiros e príapos, ou réptis ou quadrúpedes? e qual dêstes ou daqueles não se torna macaco, a menos que seja regenerado? E’ a isso que conduz a moralidade externa, que aprendem a fim de esconder seus internos.

Visões do Second Life 3

Por Distressed Jewell.

Pessoas esquisitas e pessoas comuns

Da Ortodoxia, de Chesterton:

“As esquisitices chocam apenas as pessoas comuns. É por isso que as pessoas comuns têm uma vida muito mais instigante; enquanto as pessoas esquisitas sempre estão se queixando da chatice da vida. É por isso também que os novos romances desaparecem tão rapidadmente, ao passo que os velhos contos de fada duram para sempre. Os velhos contos de fada fazem do herói um ser humano normal; suas aventuras é que são surpreendentes. Elas o surpreendem porque ele é normal. Mas no romance psicológico moderno o herói é anormal; o centro não é central. Conseqüentemente, as mais loucas aventuras não conseguem afetá-lo de forma adequada, e o livro é monótono. Pode-se criar uma história a partir de um herói entre dragões, mas não a partir de um dragão entre dragões. O conto de fadas discute o que o homem sensato fará num mundo de loucura. O romance realista sóbrio de hoje discute o que um completo lunático fará num mundo sem graça.”

Ortodoxia, G. K. Chesterton, tradução de Almiro Pisetta, Mundo Cristão, 2008.

Rave do Espírito Santo

Poxa, para uma rave dessas ninguém me chama…

Visões do Second Life 2

Por Distressed Jewell.

Arte no Second Life

Enquanto alguns acham que o Second Life não passa de um joguinho, jovens artistas estão usando o programa para criar histórias em quadrinhos, animações e fotos/pinturas altamente sofisticadas.
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Cartaz da exposição “Rinascimento Virtuale (Renascimento Virtual)” no Museu de História Natural de Florença, Itália como parte do Festival della Creatività:

Uma animação de Tracechops (machinima):

Uma HQ de Velvet Flytrap para a After Hours Magazine:

Um retrato da Olí­via Palito, de Axelia:

Pois é, onde quer que você esteja (ainda que seja num mundo virtual), Zeit ist Kunst.

O Palco e eu

Papai dizia que o palco era uma fuga. Um jeito de eu me ausentar das obrigações, dos compromissos com a escola e os deveres de casa. No fundo ele achava que eu buscava o teatro porque não era boa o bastante para a matemática e a química. Queria que eu fosse engenheira, como ele. Acho que nunca superou o trauma de não ter um filho homem.

Mamãe dizia que o palco era vaidade. Era o meu jeito de ficar distante das pessoas, de olhá-las de cima, de provar que eu era melhor. Ela não faz idéia de como é difícil ser o centro das atenções, ser o tempo todo observada e julgada. Ela nem imagina o quanto o palco exige de precisão, de humildade e auto-domínio. Os orgulhosos e egocêntricos, esses são os primeiros a naufragarem no tablado; eles amam demais a própria vida, o próprio jeito de ser e falar; não conseguem se entregar com sinceridade à arte de ser outro. O palco – e isso mamãe nunca vai entender – é para quem se odeia. Quem tem orgulho de si não dura um segundo ali em cima.

E no entanto eu não posso dizer que eu ame o palco. Eu não o amo nem odeio. Eu não o escolhi. Foi ele quem me convocou, com sua escuridão, sua distância, seu espaço infinito. Quando o pisei pela primeira vez me senti em casa; me senti simplesmente como se eu estivesse encontrando meu lugar. E isso nem meus colegas entendem, eles que tanto falam em tensão e frio na barriga. Eu não sinto nem frio nem calor. Para mim, o palco é uma fatalidade: é o único lugar onde minha solidão faz sentido.

Por isso eu errei tanto em ouvi-los. Eles não queriam em orientar, não queriam de forma nenhuma que eu encontrasse o que era sagrado para mim. Mamãe falava em dinheiro, papai falava em abandonar fantasias tolas. E aos poucos foram me convencendo que o palco não era sagrado; conseguiram infestá-lo com a futilidade e a tolice que no fundo pertenciam apenas às suas próprias vidas. Eles, que já não sabiam mais o que amar, não podiam tolerar que alguém conservasse seu maior amor.

DPReview.com

Se você está pensando em comprar uma câmera fotográfica, vai aqui um site bem completinho para fazer pesquisas sobre recursos, especificações, etc — em inglês. Chama-se Digital Photography Review. Como disse, ele é bem completo, ou seja, você pode se perder um pouco entre câmeras, acessórios, softwares… Tente o dispositivo de busca, se você sabe exatamente qual máquina quer. Ou o Câmera Database, para procurar pela marca. Um recurso bem útil mesmo é o Buying Guide, no qual você pode mostrar as especificações que quer —ele mostra quais câmeras as têm— ou fazer uma comparação side-by-side com alguns modelos.

Porque admiro o pensamento cristão

Por isso:

Atenho-me, no caso, ao axioma clássico: ab esse ad posse valet illatio. A filosofia cristã existe. Logo, pode existir, ainda que as fronteiras teóricas desse poder-ser se apresentem, de Clemente de Alexandria à neo-escolástica e a Maurice Blondel, em perpétuo movimento. De minha parte, entrego-me ao exercício de um filosofar que respira, como diria Maritain, em clima cristão ou que tenta aspirar os ares que descem dos altiplanos teológicos. Nesse clima cristão cresce e frondeja a grande árvore do intellectus fidei, a um tempo filosófico e teológico, da qual me sinto pequeno e obscuro ramo e cuja seiva racional se alimenta incessantemente na experiência original da fé como “geratriz de razão” de que fala Etienne Gilson, e que é a experiência primeira e fundadora de todo pensamento cristão.

Henrique C. de Lima Vaz

Estamos todos nós, ocidentais, à sombra desta “grande árvore”. Embora nem todos apreciemos seus frutos.

McCain versus Obama

Debates são eventos contraditórios por definição. Abrem espaço para indagações diretas entre os contestantes, mas engessam as respostas restringindo temporalmente a exposição dos argumentos. Em nada se parecem com seu ancestral medieval, a desputatio. Havia dois tipos de disputatios: a comum (ou ordinária) na qual a questão discutida era anunciada de antemão; e a quodlibetal, na qual os alunos faziam perguntas ao professor – sem que este tivesse conhecimento prévio das questões – e ele deveria respondê-las de pronto, fundamentando seus pontos de vista. Este era, aliás, o método em torno do qual a pedagogia escolástica girava. Ao contrário, os debates hoje são muito mais relevantes pelo estrago que podem causar à imagem pública dos candidatos. Nenhum tema é melhor explicado ou aprofundado. Os elementos cosméticos imperam sobre as questões substantivas.

O primeiro embate direto entre MacCain e Obama deve, portanto, ser lido pelo viés da construção da imagem pública, da luta pela determinação do ethos de cada um, do modo como a figura do candidato ficará impressa na memória do eleitor.

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