Quando criança, eu adorava o seriado Kung Fu, com David Carradine, que revi prazeirosamente no Equador, em 1989, durante o programa de intercâmbio estudantil. Eu ainda não sabia que o filme fora um projeto pessoal do Bruce Lee – outro herói da minha infância – o qual, a princípio, estava presente no casting como intérprete do protagonista. (E, se soubesse da troca, em nada seria afetado meu interesse.) Mas os produtores norte-americanos erraram feio ao concluir que um ator chinês não criaria identificação junto ao público ocidental. Logo, descartaram a proposta e Bruce Lee morreu antes de ver realizado o seu sonho.

Outro que curte filmes de Kung Fu é o poeta Bruno Tolentino. “São as minhas novelas”, me disse ele, referindo-se à escritora Hilda Hilst, que costumava assistir telenovelas como forma de “relaxamento”. Na Casa do Sol, em 1999, eu o convenci a assistir “Matrix”, na Direct TV. Assistimos juntos. E ele aprovou as coreografias e a estória. (Refiro-me apenas ao primeiro filme.) Disse ele: “Esse filme certamente faria o Olavo (de Carvalho) escrever umas boas páginas…”

Segundo Li Hongzhi, líder da Falun Dafa, muitos pretensos mestres e professores de Kung Fu são desafiados à noite, enquanto dormem, por verdadeiros mestres já falecidos. Lutam no astral em ambientes tão virtuais e de força de gravidade tão baixa quanto os do filme Matrix. E esses egocêntricos lutadores, após apanhar a noite inteira, despertam na manhã seguinte com os ossos moídos, os músculos doloridos, a memória do sonho embaralhada. Já fizeram algum filme com este argumento? Duvido.