Não estou sozinho.O Accuracy in Media, ONG americana que monitora a ação da imprensa, também reclamou do tratamento dado pela mídia (no caso, a americana) ao episódio da caçada do Dick Cheney (eu comentei o assunto aqui e aqui).

Fiquei conhecendo esta instituição e seu site pelo post do Yuri sobre Fidel e a morte de JFK. Será que não há uma iniciativa que se proponha este papel que seja realmente neutra? Porque esses camaradas, pelo tom e conteúdo de suas publicações, têm evidentemente inclinação conservadora. Apesar de aparentemente não admitirem isso, são uma espécie de Mídia sem Máscara norte-americano, que vê uma orientação esquerdista – ou, mais que isso, um complô de esquerda – na mídia nacional. Ponto para a versão brasileira, que abertamente expõe sua orientação e motivações.

Do outro lado, temos aqui o Observatório da Imprensa, que também não admite, mas tem evidentes pruridos esquerdistas e vê conspirações da direita e do capital nas entrelinhas de cada notícia.

Como navegar e se posicionar neste mar de contradições? Como julgar efetivamente a mídia e exigir o cumprimento de seu papel fundamental no fortalecimento da democracia?

Em primeiro lugar, não acho que nem o MSM, nem o OI estejam equivocados. Mas acho o MSM muito mais honesto porque deixa claríssimo seu ponto de partida e não se arroga uma suposta neutralidade política, como o fazem o OI e esse Accuracy in Media. Entre os três, acho que devemos ficar com os três e procurar contrapor suas posições e visões dos mesmos assuntos. Eles interpretam interpretações, prioridades e fomatos dados pela mídia aos fatos que são passados ao público. E isso é bom.

Às suas opiniões, aqui no Brasil, podemos somar os dados do projeto “Deu no Jornal”, da Transparência Brasil, que foca o noticiário impresso sobre corrupção e o colige em um amplo banco de dados classificado por esfera de poder a que se refere cada notícia, por assunto específico e por unidade da Federação, permitindo consultas por Estado. É possível, com isso, aferir as prioridades de seu jornal local, saber se noticia os escândalos envolvendo os políticos de seu Estado e quais são suas omissões (se, por exemplo, os jornais de fora cobriram uma notícia do seu Estado, negligenciada pelos veículos locais).

Juntando as duas coisas – interpretações de diferentes fontes e dados que precisam ser interpretados, como os da Transparência, começamos a entender o que move a mídia.
Ela, na minha opinião, no Brasil, não tem tendências nem direitistas, nem esquerdistas. O que não significa que seja neutra. Orienta-se essencialmente pela defesa de seus próprios interesses econômicos e dos que a controlam. Se isso significa unir-se a um governo de esquerda, ótimo, se implica em tentar destitui-lo, muito bem também. Se significa apoiar uma ditadura, vamos nessa.