Eu fico sinceramente triste com a tendência simplificadora de alguns raciocínios. Ao que parece, temos um vício quase incurável de, ao invés de analisar idéias e fazer um esforço honesto e aberto de compreensão do mundo, ter como ponto de partida uma tentativa de classificar estas idéias segundo chaves mentais empobrecedoras. E aí, ponto final. Já não há mais o que discutir. O cara é de esquerda, de direita, ambientalista, capitalista, ongueiro, discurso vazio, etc. Até “fumaça de demagogia” viram pairando sobre minha cabeça porque supostamente meu artigo aí abaixo tenta “conscientizar”os pobres sobre a “necessidade de civilidade” (????). Se eu escrevi isso, realmente mandem me internar.
Lendo, tanto meu artigo, como esse outro post (“Sobre Fundamentalistas do Mercado”), sem filtros, acho estranho classificá-los. Na pior das hipóteses, sou esquizofrênico. Alguns pontos ilustram, para mim, essa mania de ficar procurando em expressões ou vírgulas e aspas, se o cidadão tem cacoetes para este ou aquele lado:
1) Eu sou um apreciador da propriedade privada (será que sou de direita?), conforme se depreende da leitura do post citado; por outro lado, a honestidade intelectual me obriga a ver que configurações sociais sem propriedade privada são possíveis (sem qualquer julgamente de valor) (é, mas o cara deve ser de esquerda);
2) Não só gosto da propriedade privada, como acho que, de fato, é a solução para boa parte dos problemas ambientais (extrema-direita?);
3) Pior ainda, além da propriedade privada, acho que outra boa parte da solução, reside na estrutura tributária – não em aumentar impostos, mas em reduzir a taxação sobre o capital (capitalista?) e o trabalho (opa, deve ser aliado dos sindicatos; é seguramente da CUT), de forma a estimular a produção e empregos, e na transferência de parte da carga tributária para o uso de recursos naturais, de forma a desestimular seu sobreuso e a estimular inovações tecnológicas que hão de movimentar muito a economia e, quem sabe, fazer o Brasil sair da Idade da Pedra econômica, exportando só produtos primários;
4) Acho que já dei a entender, aqui e ali, que acho o Estado a origem de todos os males (vixi, ultraconservador!) e defendo arduamente sua redução e, utopicamente, seu desaparecimento (nossa, anarquista!);
5)Aprecio o mercado como privilegiado e eficiente construto social e como excelente ferramenta para resolver muitos de nossos problemas (neoliberal!), mas não o endeuso, nem acho que a vida social se resume a ele.
Em resumo, acho que as coisas são mais complexas e o buraco mais embaixo. Abraços a todos.
Vinicius
Concordo – em parte – contigo, Pedro.
Não fiz uma análise literal do seu artigo, e sim uma análise mais ampla, ontológica.
Você parte do mesmo princípio do meu comentário (ou tenta), ao dizer que, o que eu disse soa como simplista, “pensamento fechado”.
Apenas, e tão somente, discordei da cientificidade do problema.
Não o rotulei, por favor.
Cometi um lapso de pensamento. Um suicido intelectual para seu ponto de vista. Porém, na minha humilde visão, não arredo uma só virgula do que disse, só não escrevi o que você gostaria de ouvir. Talvez por isso o surpreendi.
Discursos como estes sempre geram divergências “apaixonadas”. Mas estou aqui para aprender com vocês, e sempre que errado, mudar de opinião.
Abração!
pedro novaes
Tá certo.
yuri vieira
Pedro, eu entendo perfeitamente o que vc quer dizer, mas só queria acrescentar que a tal “tendência simplificadora” que vc atribui a apenas “alguns raciocínios”, na verdade, é atributo de qualquer raciocínio são. (Estou lendo Mário Ferreira.) O objetico da razão é esse mesmo: classificar e separar em grupos aquelas idéias/fatos/ideais/etc. que apresentam semelhanças entre si. O papel da razão é, pois, tornar nossa vida mais simples em meio a esse mundo de caos informacional. Na verdade, esse problema que vc aponta tem mais a ver mesmo é com nossa capacidade intuitiva: é a intuição que busca o diferente, o dessemelhante, o assimétrico. (Intuição aqui não é sexto-sentido, mas o “instrumento” do espírito cuja função é apreender o dados do mundo.) Enfim, o que vc está dizendo é que a intuição do povo aí – a minha também, pelo jeito – anda embotada, fechada em seus dados já apreendidos noutra era. Daí a razão não ter outra brincadeira senão a de usar os mesmos legos de sempre para construir os mesmos brinquedos conceituais de sempre. Mas, não se preocupe, vou ali enfiar o dedo na tomada pra ver se dou uma limpada nos meus sistemas de conexão com o mundo.
Ainda assim, acho que seria interessante vc fazer a prova de Saúde Filosófica, que o Daniel me enviou uma vez, e que eu enviei ao Olavo de Carvalho, sendo que, salvo engano, tivemos todos os mesmos resultados (33%). Ela mede seu índice de contradição.
{}’s
pedro novaes
Meu chapa,
Você tem razão em todos os sentidos. Eu reconheço a necessidade de simplificarmos e qualificarmos como um dos passos para entendermos. Digamos que o saudável é um movimento dialético entre simplificar, recomplexificar, ressimplificar, e assim, Deus querendo, avançamos em nosso parco entendimento das coisas. Mas é o que vc diz, quando nos prendemos em nossa trajetória a certas simplificações, acho que corremos o risco de perder o bonde.
Por outro lado, acho que minha preocupação é menos essa do que aquela que expressei num dos meus primeiros posts. A da necessidade de um esforço de nos movermos por genuíno e honesto esforço de entendimento, tentando ao máximo não ser vaidosos e desenvolvendo ao máximo a capacidade de se deixar flutuar livremente, sem amarras, no espaço das idéias, examinando-as com máxima liberdade. O que o Paulo chamou aquele dia no boteco, um pouco aveadadamente, de “realmente abrir as pernas”. Muitas dessas pinimbas têm que ver com um vício de reafirmação de posições sem parar para se autocriticar primeiro (isso vale para mim, posso afirmar).
Além disso, o que não é o seu caso, acho que há também uma outra coisa muito feia, que é o uso dessas categorias para desqualificar o outro e suas idéias. Eu sei bem disso por trabalhar também na área ambiental, e volta e meia ser chamado de “ambientalista” num tom meio desdenhoso, quando não de “ecochato”. O que isso diz, entende? Não diz nada, tanto que, provavelmente, muitos dos ambientalistas de plantão ficariam horrorizados com muitas de minhas idéias. O mesmo vale pra pecha de esquerdista, neste sentido.
E, como diz essa humilde expressão goiana que acho muito simpática: “me desculpe qualquer coisa”.
Abraços,
Pedro.
PS: já fiz o “health check” uma vez; vou lá de novo ver o que dá.