blog do escritor yuri vieira e convidados...

como uma jaca

plof!

Pois é, demorei demais, mas quem sabe agora eu tenha criado vergonha na cara? Sempre cultivei essa refrescante latinidade que é chegar atrasado com a cara mais lavada do mundo mas dessa vez eu me ultrapassei! Mas bom, não vou ficar aqui séculos pedindo desculpa com ar de cachorro que mijou no tapete… bora tentar me fazer passar por alguém de inteligente!

Mas como diabos eu faria uma coisa dessas? Quando se é feio, uma boa pedida é arrumar alguém ainda mais feio e andar com ele pra cima e pra baixo de maneira que, por contraste, você fique bonito. Então o negócio é achar uma burrice, algo tão enorme que seja quase impossível conceber o indivíduo fantasmagórico que não a identifique como tal (mas bom, a gente sabe que ele existe… nas mais diversas cores, sabores e formatos, inclusive, lotando esse mundão barra pesada…)

E como sou preguiçoso, vou dar uma de joãzinho sem braço e pedir ajuda ao respeitável público, vocês devem estar mais por dentro do que eu… qual a maior burrice que a gente pode conseguir nesses nossos dias?

Na minha época, minha predileta era o tal do aborto…

Ser a favor ou contra o aborto é uma questão que não me interessa em nada: é mais produtivo discutir qual é a cor mais bonita de todas. Agora, a questão de ser a favor ou contra a legalizaçâo do aborto é uma outra história.

Primeiro porque criminalizar o aborto é subsidiar práticas ancestrais de fazimento de anjo tipo agulha de tricô. E de tabela, botar em risco a vida de milhões de moças pobres (porque quem tem grana vai a uma clínica: não é exatamente como um picnic mas pelo menos você está nas mãos de profissionais competentes capacitados minimamente pra salvar sua vida e resguardar a sua fertilidade. Difìcil tricotar esse tipo de coisa…) com o suposto objetivo de salvar a vida do bebê, que ainda não existiu: não rola abortar após três meses de gestação… arriscado demais. A três meses, o feto pesa 30g, tem 7 cm e parece mais com um camarâo que com um chimpanzé… O coração está batendo, o sistema respiratório está funcionando, o fígado está produzindo bile, os rins estão secretando urina e os órgãos reprodutores, as células ósseas, os dedos das mãos e dos pés estão se formando. Do cérebro, não há grande coisa… as células nervosas vão acabar de ficar prontas só a partir do sexto mês de gestação. É um pedacinho de carne viva, funcionando. Só. Como aquele bebê acéfalo que um juiz (provavelmente acéfalo também) impediu a mãe de tirar. Porque segundo a lei brasileira, só se tira feto da barriga da mãe se ele botar em perigo a vida da mesma ou, quando muito, em caso de estupro. Seria o cúmulo, mesmo, você ser estuprada e ganhar de brinde um filho… como uma cruz gravada “souvenir dos piores momentos da sua vida” pra carregar o resto da vida. Gente, vocês já viram bebê acéfalo? Eu já, num livro sobre mutações tinha umas fotos. É como um neném normal só que com a cara do Jabba the Hutt e com uma chaga gigante que começa no alto da cabeça e que vai até o fim da coluna vertebral… deve ser pro caso de alguém duvidar que ele não tem cérebro mesmo, é só dar uma olhadinha “ah, é, é só o buraco mesmo… desculpahì”. O desenvolvimento é perfeitamente normal, enquanto ele está conectado à mãe tudo funciona: coração, rins, sistema circulatório, reprodutor, tudo. Saiu, morreu. Ou melhor, parou de funcionar, porque vivo mesmo nunca esteve, né. Pois entâo: o cara condenou a mãe a carregar durante nove meses e em seguida dar à luz a um cadáver de bebê horriiiiiiiiiiiivelmente deformado e por conta do quê? Porque essa mutaçâo fim de carreira total do bebê não coloca a vida da mãe em risco. O bebê era do marido dela mesmo, então o juiz não viu o por quê da questâo: aborto é proibido, carregaì essa carniça dentro da sua barriga até ela sair sozinha, daqui a nove meses. E dizem que a tortura não é mais subsidiada pelo Estado.

Na verdade o juiz não era um sádico psicopata. Ele pensava o seguinte: “se eu deixar ela tirar o feto só porque ele não tem cabeça, isso vai criar um precedente jurídico que poderá ser usado por grávidas cujos fetos têm outros tipos de malformação”. Nossa, que desastre seria, seu juiz! A vida já não é simples quando você vem com tudo no lugar, gerações de sofredores te agradecem de existir… eu sou mais pelo método indígena, mas isso já é uma outra história…

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3 Comments

  1. pedro novaes

    Benvindo, Túlio. Realmente, vc chegou com o estardalhaço de uma jaca despencando. Abração.

  2. bruno costa

    Salve, velhinho! Que bom que começaste a contribuir com textos também… seja bem-vindo! A defesa do Yuri foi boa, aguardamos o contra-ataque!
    abração

  3. Gostei do “plof!”

    Seja bem-vindo e volte sempre.

    Abraços,

    Fiume

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