Eu, como roteirista, deveria achar uma maravilha a tal lei 10.454 recentemente sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Sim, pois além de a dita cuja elevar o teto da Lei do Audiovisual (de R$ 3 milhões para R$ 6 milhões) e da Lei Rouanet (vai para 95% do valor total aprovado), ainda estabelece um certo Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica), que irá taxar, com alíquota de 11%, as remessas ao Exterior de lucros com a exploração de obras cinematográficas e videofonográficas no Brasil. Claro que, não sem razão, muitas distribuidoras internacionais atuantes no País já estão apelando à Justiça. À primeira vista pode parecer justo querer dificultar o domínio desses blockbusters americanos sobre nossas imaginações. Mas quem vai ao cinema assistir a todos esses shows pirotécnicos de milhões de dólares não vai forçado. Vai porque quer, vai porque é livre para decidir o que fazer com seu dinheiro. (Aliás, fazer o quê se os americanos são bons para entreter? Resposta: entreter.)

E se alguém realmente pensa que essa lei irá filtrar nossas salas retirando delas tais filmes está muito enganado. Quem vai dançar são as pequenas produções estrangeiras, já que, tendo poucas cópias e uma distribuição capenga, dificilmente irão se meter nessa cochinchina tropical, nesse paisinho que, incapaz de gerar verdadeiros produtores com visão comercial, ainda quer meter a mão na grana dos que ainda conseguem realizar alguma coisa. Eu já trabalhei numa boa produtora de São Paulo, sei do que falo. Alguém acha, por exemplo, que os filmes publicitários brasileiros são premiados no exterior porque o Estado os subvenciona? Claro que não. Sim, há publicidade do Estado, mas as produtoras podem sobreviver sem ela. O que esse país realmente necessita é de uma produção cinematográfica de entretenimento que dê base ao surgimento de verdadeiras obras de arte. Não precisa de mesada do papai Estado. Precisa de gente com visão empresarial disposta a se arriscar nesse meio, gente que não seja tão caipira a ponto de – não podendo atribuir existência real a produtos que não se tocam com os dedos – fazer cu doce pro cinema nacional. E os demais, esses empresários que, tendo seu auxílio financeiro descontado no imposto de renda (Lei Rouanet e semelhantes), pensam ser cúmplices exclusivos da Arte, na verdade, são mesmo é vítimas disfarçadas do Estado sugador.

Infelizmente, enquanto os impostos forem altos como são, não existirá cinema brasileiro que se sustente por si só. Quem afinal consegue poupar dinheiro para investir no que quer que seja? Esta é que é a realidade. O círculo vicioso impostos-incentivos mata na raiz a produção cinematográfica. Afinal, só os amigos do rei é que chegam lá…