Fim de semana passado, tive uma dessas discussõezinhas de bar com um amigo que trabalha no governo. Assunto: leis de incentivo ao Cinema. Ele me dizia que não tínhamos – eu e minha namorada, que é da Associação Brasileira de Documentaristas – por que reclamar dessas leis, uma vez que o papel delas é tão somente o de dar um empurrãozinho no Cinema, o de educar os empresários, fazendo-os perceber que apoiar a Cultura vale a pena. Meu Deus, eu dizia, como é que isso é possível? Se eu fosse empresário – e eu seria um empresário inteligente – e, sob o pretexto de me ensinar a apoiar a cultura do meu país, chegasse alguém com uma das seguintes propostas: a) reverter parte dos impostos da minha empresa para a produção do filme; ou b) dar uma grana do meu próprio bolso em troca de uma série de vantagens junto a regulamentos e/ou a tributos estatais X, eu abriria um bocão e diria: “guerapááááááá…” (Sabe, né, o guerapá daquele idiota da propaganda que ouvia “guerapá” ao invés do “Get up” do James Brown.) Ôrra, meu, além de o governo andar estrangulando cada dia mais o empresariado com mil impostos – daí a origem do desemprego -, ainda faz com que inocentes úteis, como eu, saiam por aí achando que é legítimo esse tipo de proposta indecente. Não seria mais fácil seqüestrar a esposa do cara, com permissão do governo, claro, e exigir como resgate que ele banque um filme? (Olhaí o argumento, já dá um roteiro.) Dito isto, meu amigo me pergunta, então, o que é que eu queria que o governo fizesse. Ora, em primeiro lugar o trabalho desses caras, desses empresários, não tem nada a ver com cinema, o negócio deles é sapato, rapadura, cuecas, camisinhas. O que a gente precisa é de gente nova, de gente que se tornasse empresário ao decidir se meter no babado, na produção de filmes. Para tanto o governo deveria fazer, não no mínimo mas no máximo, apenas o seguinte:

a) Reduzir a menos da metade os impostos em geral, para que as pessoas possam poupar e ter dinheiro para investir naquilo que desejarem;

b) reduzir a zero os impostos de quem, pretendendo tornar-se um produtor de cinema, investisse seu dinheiro num filme (quando digo investir, é isso mesmo, apostar num filme como quem aposta em ações da bolsa ou como o vendedor ambulante que gasta R$50 em isqueiros paraguaios: ambos visam o lucro);

c) não cobrar impostos das distribuidoras e salas de cinema quando estivessem veiculando um filme brasileiro (porque essa idéia contrária de sobretaxar filmes estrangeiros é pura sacanagem).

Pronto, só isso. Se o governo quer ajudar, então que não atrapalhe, cazzo! E sem essa de se deixar envolver por esses filmes americanos que mostram os produtores de HollyWood como uma quadrilha de malfeitores capitalistas. Isso é besteira, os caras reclamam de barriga e contas bancárias mais que cheias, a história lá é outra. O próprio Woody Allen afirmou, numa entrevista, que conheceu diversas pessoas – novos ricos, disse ele – que multiplicaram sua grana ao investir num filme independente. O problema no Brasil é, portanto, primeiro: entender que um único filme pode ser encarado como se fosse ele mesmo uma empresa. Segundo: convencer aos distribuidores e donos de salas que vale a pena veicular filmes brasileiros. Eles, claro, dirão que o povo quer ver é filme americano, logo, temos o terceiro ponto: fazer bons filmes. Talvez até seja o caso de alguém criar uma campanha publicitária do tipo “não olhe pras legendas, olhe pro filme” e baboseiras do tipo. Apenas talvez. Senão… bom, ano que vem tem a continuação da Matrix, filme que, aliás, é quase australiano…

[Ouvindo: Banjo Fight – Toy Dolls]