Quantos brasileiros já terão ouvido falar do Livro de Urântia? Quantos leitores lusófonos? Difícil dizer. Principalmente porque a tradução para língua portuguesa ainda não foi concluída e talvez ainda leve um bom tempo para vir à tona, haja vista suas duas mil e tantas páginas em letras miúdas. Sei que algumas pessoas, residentes em Brasília, com paciência e constância procuram levar a tarefa a cabo. Espero que não sejam contaminadas pela pressa, uma vez que tal livro nos deixa com uma indizível gana de sair berrando a todos os amigos e familiares: leiam! leiam! Eu, por exemplo, já passei dessa fase. É duro ver-se no papel de um desses crentes chatos – seja um crente religioso, um político ou um filosófico – que, sem notar o quão inconveniente pode vir a ser, quer porque quer arrebatar prosélitos para sua causa. Deus me livre.

A religião sempre foi e sempre será uma questão de foro íntimo e é desse foro que deve vir o impulso de buscar o Conhecimento, de buscar o Criador. Claro, eu tampouco vou engolindo tudo o que o Livro de Urântia apresenta, seja devido ao excesso de realismo fantástico, seja por um escrúpulo de consciência. (Meus amigos dirão que é justamente esse caráter fantástico o maior motivo da minha atração pelo texto, mas…) Enfim, o Livro de Urântia traz, em si, o potencial ou de enlouquecer ainda mais ou de iniciar a cura do mundo, tenha certeza disso. (Para que afinal servem os livros?) Por isso a tradução deve vir com calma, cuidando para não atropelar conceitos, traindo assim o original em inglês.

Mas afinal, perguntará você, o que é esse tal Livro de Urântia? Bem, esse o que é é exatamente o alvo ideal desse site, embora de antemão já saiba que as opiniões ou especulações de quem quer que seja nada mais poderão acrescentar ao dito cujo. Apenas para colocar uma pulga inicial atrás de sua orelha mental, leitor(a), digamos que o Livro assemelha-se a um texto urdido por cem Jorges Luises Borges e cem J.R.R. Tolkiens ao mesmo tempo. Como se diz por aí, é de pirar o cabeção. O escritor C.S.Lewis, numa de suas cartas, conta a um amigo sobre o dia em que, influenciado pelas inúmeras conversas com o católico Tolkien, entrou num trem Londres-Oxford com a cabeça cheia de interrogações a respeito de Deus, do Cristo e da própria existência. Considerava-se um agnóstico quando o trem partiu. Mas, quando chegou à estação final, já acreditava plenamente em Deus, no Cristo e no imenso valor de sua vida individual, sem no entanto saber em que ponto do trajeto se dera tão profunda transformação interior. Para mim o mesmo se passou na viagem que foi minha primeira leitura do Livro de Urântia. Quando comecei a lê-lo, em 1997 – por indicação da minha amiga Carla, de Brasília – eu apenas me via lendo um livro de puro realismo fantástico. Vários meses mais tarde, em meio a mil e uma atribulações pessoais, eu me surpreendi chorando ao ler a narrativa referente à crucificação de Jesus. Eu já acreditava Nele. E, aliás, até hoje não sei em que ponto das duas mil e cem páginas entrou Ele em meu coração.

Eis, então, o grande trunfo do livro: se você for realmente atingido pela leitura, todo esse realismo fantástico, todo esse papo de cerca de 700.000 Filhos Criadores de Universos Locais, a Rebelião de Lúcifer, os Serafins Transportadores, o Universo Central de Havona, a evolução dos trilhões de planetas habitáveis, as Esferas Arquitetônicas, enfim, tudo isso e muito mais importará tanto quanto uma escada já usada e deixada de lado, pois você terá ultrapassado esses “detalhes”, reconhecendo agora um SENTIDO em toda a Criação, percebendo finalmente o dedo de Deus na sua alma. Bem, isso, é claro, se você aceitar a Boa Nova do Reino com a inocência de uma criança… Coisa que ateus – do tipo que eu já fui – e agnósticos – do tipo que deixei de ser há bem pouco – morrem de medo: aceitar uma Inteligência Suprema por trás dos dramas e comédias da Vida, e acima de toda racionalização. E então? Quem tem medo de ler o Livro de Urântia?