No email abaixo respondo a um internauta que criticava minha atitude de criar um blog dedicado ao Livro de Urântia:

Oi Carlos

Estou ciente de todo esse julgamento feito por vc. Meu primeiro site data de 1998 e, desde aquele ano, venho pensando na possibilidade de trazer a público meus pensamentos e dúvidas sobre o Livro de Urântia. Pode confirmar com meus amigos: sou exagerado no que se refere a pensar antes de agir, não faço nada gratuitamente. E se criei este blog, não foi por ter simplesmente acatado o tal livro como uma revelação, mas porque ele foi, entre outros fatores de cunho existencial, o catalisador da minha aceitação de Deus e do Cristo. Seja ele uma revelação ou não, isto não é o mais importante neste momento. O mais importante é que muitos acreditarão que ele é. Sendo assim, nada melhor do que servir à minha fé fazendo uma leitura em profundidade. (É preciso evitar fundamentalismos a todo custo, o que, aliás, e ironicamente, o próprio livro afirma.) Tudo bem, ainda não coloquei aqui nada muito crítico, mas hei de.

Entrementes, eis alguns temas sobre os quais pretendo discorrer: o “gnosticismo” presente no livro, conceito teológico de revelação, quem escreveu ou transcreveu o livro, visão “urantiana” da política, do governo mundial, dados científicos encontrados no livro, possível influência de sociedades secretas, a divergência entre Melquisedec e a Grande Fraternidade Branca, etc., etc. Vale lembrar que nenhuma revelação – seja o Apocalipse bíblico, seja o Bhagavad Gïta, seja o Corão – necessita de “comprovação científica” para ser aceita, o que, a princípio, negaria o próprio status de “conhecimento revelado”. Aliás, se vc ler o livro “Uma breve história do tempo“, do Stephen Hawking, verá que toda teoria científica não é senão, tanto como esse livro pode vir a ser para muitos, não é senão uma hipótese à espera de ser ou não desmentida. Sempre que qualquer visão ou teoria (de theos, aquele que vê) se aproxima de uma confirmação, novos dados, ao ampliar nosso, digamos, cenário cósmico, dão origem a novas indagações, a novas hipóteses. (O livro, por exemplo, está infestado de comentários do tipo: “mas ainda não sabemos o que isso significa”.) Se vc estudar a fundo, verá que a ciência tampouco sabe o que é afinal o universo e a existência. Apenas os intelectualmente preguiçosos param no meio do caminho e se conformam com um par de respostas. Dizem que um objeto cai porque é atraído pela força de gravidade, mas, em última instância, ninguém sabe o que é a gravidade! As fórmulas descrevem, mas nunca explicam. Até hoje os cientistas não encontraram uma teoria unificada, uma visão de mundo que encaixe a visão de Einstein à visão Quântica. Estamos, pois, numa encruzilhada gnosiológica. É possível que essa teoria unificada derrube ambas, quem sabe? E mesmo que ela surja amanhã, será sempre bom lembrar que o fundamento último de todo conhecimento científico não é senão um esquema imaginativo da realidade.

Hoje eu acredito que haja um Ser Supremo por trás de tudo e acredito que, se ele é capaz de criar pessoas, também é capaz de se relacionar pessoalmente conosco. Por que só a Matrix teria essa habilidade? Por que não o Patrix? E, enfim, por que tanta gente arreganha os dentes ao se deparar com uma possível Revelação (na forma de livro) em pleno século XX? Acho que não poderia haver momento melhor, haja vista as grandes guerras, a possibilidade de suicídio atômico global, o maior intercâmbio entre distintos povos e culturas, a interdependência internacional, etc. Quantas vezes já terá este mundo passado por tal situação? Não acho que muitas. Só porque o livro não é escrito na forma de poemas, cheio de alegorias, só porque ele não “explode e alarga a semântica da língua inglesa” vou então dizer logo de cara que é falso? Quem disse que uma revelação deve alargar os limites de significação de uma língua emitiu uma opinião, não nos impôs uma lei. Na verdade, acho que as informações dadas em determinados trechos arreganham até demais nossa capacidade intelectiva. (Leia, por exemplo, o trecho que fala sobre a “Ilha Estacionária do Paraíso“. É tão difícil de entender quanto as descrições, feitas por astrofísicos, de buracos negros e singularidades. O papo de que a tal Ilha esteja manifestada materialmente parece contraditório. Mas lembre-se: matéria é luz modificada por algum grau de força gravitacional.)

Bom, Carlos, é isto. Saiba que a última coisa que pretendo é contribuir para aumentar o grau de ilusão em meio ao qual as pessoas vivem. A não ser, é claro, que você acredite ser a imortalidade da alma e nossa filiação divina uma grande balela. Neste caso, aguardemos alguns séculos e, então, veremos quem é que tem razão.

Forte abraço
Yuri

[Ouvindo: Meditation For Moses – Charles Mingus]