Se meu tio Paulo não fosse um cara tão esquentado quanto eu, seria um grande mestre zen. Acho que você conhece a anedota dos monges e do gato, não é? Monges de dois mosteiros diferentes discutiam sobre a posse de um gato. Uns diziam que o gato era deles porque havia nascido em seu mosteiro, os outros diziam que não, que o gato era deles porque eram eles que o alimentavam. Nisto, vinha passando um mestre zen muito respeitado por todos. Pegaram-no para juíz e lhe explicaram a situação. Ele, ao terminar de ouvir as partes, deu um salto no ar, desembainhou a espada e cortou o gato em dois. “Pronto”, disse, “cada grupo fica com sua parte…” A conclusão de praxe no zen-budismo é aquela lenga-lenga estilo Matrix: este mundo é uma ilusão e não vale a pena apegar-se aos fenômenos, etc. e tal. Bom, agora meu tio. Minha vó Maria – a mesma do Cu do Capeta – certa vez passou toda uma semana pedindo ao meu tio que colocasse um novo cabo numa panela de que ela muito gostava. “Mas, mãe, essa panela tá muito velha, tem mais de vinte anos, tá toda amassada, sem cabo… Deixa que eu compro outra.” E ela: “Não, essa panela é tão boazinha, arruma ela.” Meu tio comprou uma panela nova e ela continuou insistindo que ele consertasse a antiga. “Tá bom, mãe, vou arrumar essa bosta”, disse, irritado. E, então, pegou uma espingarda calibre 22, automática, foi ao quintal e deu uns quinze tiros na panela.