Quando li Coração de Onça – eu devia ter uns treze ou quatorze anos – eu acreditava que “e Narbal Fontes” fosse o sobrenome da tal Ofélia. Anos depois, li um artigo (no próprio livro, talvez) dizendo que Narbal era o marido de Ofélia e que ambos escreviam a quatro mãos, em capítulos alternados. Isso me deixou impressionado, sobretudo pela coerência da narrativa e pela invariância do estilo. Coração… é um bom livro de aventuras que, não sei por que cargas d’água, ainda não foi adaptado para cinema. Aliás, ele é todo cinematográfico: um rapaz sofre uma desilusão amorosa, entra para uma Bandeira, adquire bócio, é ferido num ataque de índios, perde-se nos sertões do Brasil, vai parar em Potosi, no Peru, onde fica rico com as minas de prata. É a mesma história de Camões: por almejar riquezas visando atrair o amor de uma mulher, o cara se mete em mil e uma roubadas. (Fim da semelhança com Camões.) Ao retornar à sua cidade natal, vinte anos depois, encontra a mulher que ama casada e com filhos. Mas porém contudo todavia, ela tem uma filha linda – muito parecida a si própria quando jovem – com quem ele se envolve. Parece uma novela de TV. Tudo para ser um sucesso. Mas ninguém ainda se tocou… Só que não era bem isso o que eu queria dizer. Minha intenção era apenas falar que deve ser um êxtase escrever um livro a quatro mãos com a mulher amada. Bem, se a afinidade for total, claro. Vai saber se eles não saiam no tapa a cada página…