Em 1999, eu já morava com a escritora Hilda Hilst (sim, ela de novo) por cerca de um ano, quando veio juntar-se a nós o escritor José Luis Mora Fuentes, amigo dela desde 1968, que, em época pregressa, já havia residido por mais de 15 anos ali na Casa do Sol. Nós dois já nos conhecíamos desde Setembro de 1998, quando também conheci sua esposa, a artista plástica Olga Bilenky, mas eu não imaginava que iríamos dar tantas risadas em comum. Sim, porque, apesar de um excelente primeiro contato, havíamos trocado, via email, não apenas palavras amistosas, mas muitas farpas, advindas não apenas de diferenças de cunho político e do meu trabalho no site oficial da Hilda, mas, sobretudo, de sua preocupação com o bem estar da nossa amiga. Talvez ele achasse um tanto quanto contraproducente eu passar a maior parte do tempo em conversas mirabolantes com a Hilda, ou em leituras, em detrimento dos assuntos práticos da casa. Mas é que meu senso pragmático foi sempre meio ruinzinho mesmo…

Bem, acontece que o mais interessante da coisa toda é que, além de ser um escritor premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), o Zé Luis foi, durante alguns anos, um dos roteiristas responsáveis pelas histórias do Louco, personagem do Maurício de Souza. Minha geração, que nos anos setenta tinha o mundo da Turma da Mônica como uma realidade paralela, da qual os quadrinhos eram as notícias que chegavam, sabe muito bem o quão louco era o Louco. E alguém já imaginou o que seria conviver com um de seus roteiristas? Passei um ótimo segundo ano ali na Casa do Sol. Nunca dou tanta risada como quando converso com o Zé Luis. Basta passar uma tarde juntos e todas as farpas que trocamos são imediatamente esquecidas. Eu dizia pra Hilda: “Poxa, o Zé já tá me dando umas broncas de novo”. E ela: “Por que você acha que dei o apelido de Sapo pra ele? Você já apertou um sapo? O Zé é ótimo e querido, mas não o aperte não, Yuri.” Mas ela não sabia que eu só o apertava cada vez que, de alguma forma inconsciente e involuntária, em geral por omissão em questões de ordem prática, a apertava. O amor deles um pelo outro sempre foi muito grande. Prejudicar a Hilda era o mesmo que ingerir o curare do Zé. Mas sempre terei a vantagem de ser um escorpiano, outro sujeito bem venenoso. E quem se lembra da fábula do Sapo e do Escorpião sabe como ela termina. O famigerado artrópode prefere perder a vida a perder a ironia, prefere morrer a renunciar à oportunidade de dar uma sacaneada.

(Tá vendo, Zé, da primeira vez você não deixou, mas agora contei pra todo mundo: o apelido dele é Sapo, gente!)