Uma coisa curiosa tem me acontecido praticamente todos os dias. É uma bobagem, reconheço, mas não consigo deixar de reparar. Talvez seja um bom exemplo do poder da mídia. Já chego lá.
Tem coisa mais sem graça do que papo de elevador? Puxa, aquela conversinha mole que a gente escuta meio com a orelha de lado naqueles poucos segundos que parecem não passar é de lascar. Tem sempre alguém dizendo como seu fim de semana foi chato ou detalhando uma receita culinária ou contando uma piada meio preconceituosa.
Mas existe algo que empata. Silêncio de elevador. Eu entro e sempre topo com aquele sujeito com cara de bobo que, claro, não tenho a menor idéia de quem seja. Mas o fulano toda vez me cumprimenta. E sabe meu nome! “Bom dia, Rodrigo! Como vai?” E eu ali, sorrisinho de lado, botando os neurônios para processar, mas eles sempre travam antes de me dizer quem é o cara. Morro de medo de o sujeito perceber que não tenho a menor idéia de quem ele seja. Resta-me ficar em silêncio.
E não é que descolei um elevador à prova de papo furado e de silêncio constrangedor? É no prédio onde fica o escritório da Reuters, colado à Ponte João Dias, em São Paulo.
Cada elevador do edifício tem uma tela LCD conectada ao Portal Terra. Ou seja, você viaja até seu andar acompanhando as últimas notícias e, naturalmente, alguma publicidade.
Não tem ninguém que não cole os olhos na telinha. Sério. Parece hipnose. Ninguém fala. No máximo, alguém solta um comentário para o colega já quando estão saindo — “Esse Baixinho é foda. Renovou com o Vasco!”
Me divirto todos os dias reparando nas pessoas com a cabeça meio para cima, vidradas no monitor. Só que fiquei meio encucado. Será que nem no elevador conseguimos nos livrar desta escravidão?
Se estamos parados no semáforo e há um painel eletrônico, o que fazemos? Voltamos nossos olhos, sem perceber, para aquela telona. Em casa então nem se fala… A TV é soberana.
Os brasileiros passam em média 18,4 horas por semana assistindo à programação televisiva, segundo pesquisa do NOP World Report Reports Worldwide, instituto que elabora rankings sobre comportamentos do mercado mundial — se você achou pouco, saiba que o mesmo levantamento, de 2005, mostra que gastamos apenas 5,2 horas por semana com leitura, um dos índices mais baixos da lista de 30 países pesquisados.
Sem falar na telinha do computador, do palm, do celular, da câmera digital. E, depois da TV a cabo, do plasma e do LCD, ainda vem por aí a TV de alta definição. Putz, meu caro, acho que já fodeu de vez…
daniel christino
Bem-vindo Fiume. Isso aqui ainda vai se tornar uma espécie de bar virtual.