Eu invejava todo aquele carinho. As mãos deslizando sobre a barriga, o tórax, o pescoço, aquela lentidão indecente de peixe de aquário. Imóvel, trancado na minha própria vergonha, eu desejava participar duplamente da carícia: sentir as mãos dela pelo meu corpo, e tocar — por que não? — a aspereza mole dos pêlos dele. A cena, quase vil de tão explícita. Mais de uma vez quis interrompê-los, mas só de olhar eu já comungava um pouco daquele balé. Se não era convidado a subir no palco, pelo menos completava o drama como espectador; ouvia os gemidos com modesta agonia. Mais tarde eu teria aqueles pêlos à minha disposição, mas as mãos dela, as mãos que me curariam dessa dor fina e enjoada, estariam no corpo de outro, talvez com o mesmo prazer que tinham no dele. Já estava com ciúmes quando ela se despediu:
— Ele já está quase bom, acho que não vou precisar mais vê-lo.
— Nem mais uma vez?
— Me ligue se ele tiver uma recaída.
Em casa, pego o cartão (Renata — Clínica Veterinária São Francisco de Assis) e penso no que vou dizer ao telefone. Talvez simplesmente a verdade: quero que ela me trate como um cachorro.
Max Sander
O professor Maupassant com certeza daria uma boa nota pra esse conto.
Um abraço do
Max
blablabla
Alguém lê o The New York Times?? Digo, alguém que tenha alguma importância?
Tati
Adorei seu conto, gosto desse estilo.
Bejinhos
Tati