Sempre adiei a leitura desse cara. Dos franceses em geral. Com excessão de Balzac, Proust e Valéry, não tenho paciência com os franceses. Flaubert também me impressionou, mas já passou. Sempre fui mais alemão nas minhas escolhas. Só que me caiu nas mãos “Montaigne em Movimento” do Starobinski. Comprei num sebo juntamente com “Hamlet – Poema Ilimitado”, do Harold Bloom, provavelmente o único intelectual pós-moderno que o Yuri gosta (é isso mesmo, leitor e admirador de Paul de Man, o papai da crítica literária pós-moderna na América).
Bom, de volta a Montaigne. O que me faltava era uma porta de entrada interessante ao pensamento do cara. Flanei pela Edição Pensadores e nunca me importei muito com os fru-frus de corte dele. Mas o Starobinski lê um Montaigne muito mais interessante do que o meu. Interpreta-o numa outra chave e recupera, pelo menos para mim, a relevância política do cara. Muito mais do que montar o quebra-cabeça dos Ensaios numa filosofia consistente e esquemática (bem ao gosto…alemão?!?!), ele fisga o autor pelo dilema aparência/essência. Belo tema, principalmente se visto com olhos políticos.
Eis um trecho do livro do Starobinski
“Montaigne, com toques dispersos e acumulados, desenvolve um velho tema, anterior a Platão, o qual lhe deu a dimensão do mito; explorado pelos estóicos e pelos céticos; retomado por Boécio; amplamente ilustrado na Idade Média, especialmente por João de Salisbury; argumento inesgotável dos moralistas e dos pregadores: o mundo é um teatro, os homens aí sustentam papéis, declamam e gesticulam como atores – até que a morte os expulse da cena. Tema utilizado ora para exaltar a onipotência de um Deus a uma só vez autor, encenador e espectador, ora para denunciar as vãs ficções em que os homens se deixam apanhar. Montaigne não se abstém de citar a frase atribuída a Petrônio, Mundus universus exercet histrioniam, que encontrará seu eco nas paredes do Globe Theatre e na boca de Jacques, o Melancólico (As you like it): o mundo inteiro representa a comédia, o mundo inteiro é um teatro.”
É excusado dizer a importância do tema para a Política. Assim que avançar na leitura digo mais.