blog do escritor yuri vieira e convidados...

Do ofício de escrever

O que mais perturba o ofício de escrever é a vaidade. O maldito desejo de ter nossas palavras aceitas, não tanto em seu conteúdo, mas sobretudo na forma. A pretensão de se igualar à prosa de um Guimarães Rosa, de uma Hilda Hilst, um Lobo Antunes, um Garcia Marquéz ou à poesia de um Fernando Pessoa, de um Manoel de Barros.

Literatura tem que ser cagada ou vomitada, sem qualquer preconceito com esses dois vitais processos fisiológicos. Escrever de verdade se escreve com os intestinos e com o estômago. Nunca com o cérebro ou o ego.

O Faedro, no Zen e a Arte de Manutenção das Motocicletas, conta que, quando professor de redação naquela universidade em Montana, seus alunos produziam puro lixo, se incitados a escrever sobre assuntos correntes e “importantes” (tipo dissertar sobre o “Mensalão” e a crise política no Brasil). Nestes casos, eles tentavam emular tudo o que liam ou ouviam sobre o tema. O resultado era pífio. Sacando o nó do problema, ele passou a propor temas como “a coroa da moeda de 25 cents” ou “o muro de tijolos do outro lado do pátio”. O resultado foi que textos cada vez mais interessantes começaram a aparecer porque ninguém estava tentando agradar ou imitar.

Quando me pego escrevendo para os outros, desligo o computador e vou assistir novela.

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1 Comment

  1. Vinicius

    Verdade, Pedro.

    Neste blog, no canto direito da tela, na seção “bem dito”, já li uma frase do malucaço Nietzsche, que diz mais ou menos o que disse.

    Nela ele fala que só aprecia o que se escreve com o próprio sangue.

    8-]

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