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Eu gosto de videogame

Acompanhando a onda de revelações dos meus amigos blogueiros eu também confesso: adoro videogame. Agora mesmo estava a caçar demônios de uma outra dimensão. Lembro com carinho das noites em que eu e o Paulo íamos jogar o DOOM original no computador superpossante do seu Walter (pai do Yuri), e depois quedávamos mesmerizados diante de um descanço de tela de 52K que simulava uma mandala, ouvindo Ravi Shankar e repetindo: “nossa”.

Enfim, eu tive todos os videogames acessíveis ao público brasileiro: telejogo, atari, odissey, master system, mega drive, nintendo, super nintendo, dreamcast, playstation 2 e, hoje, xbox. Adorava RPGs e jogos de ação, tipo River Raid, H.E.R.O., Revenge of de Yards, Enduro, Jungle Hunt, Pitfal, e por aí vai. A pouca desenvoltura que tenho com informática é um efeito colateral das várias horas de disputa comigo mesmo. Afinal, é quase uma iluminação budista bater seu próprio recorde num jogo: “vejam, venci a mim mesmo, venci meu próprio ego…pra que lado fica o Nirvana mesmo?”.

Lembro-me, principalmente, de um jogo do Master System chamado Phantasy Star (ops, agora lembrei-me, com todos estes nomes devo estar falando coreano para muita gente, certo Chun?). Ficamos eu, meus dois irmãos e uns três amigos da rua jogando o RPG durante um mês juntos, nos revezando no controle (só havia dinheiro para um) e discutindo os enigmas e peripécias da narrativa. Parávamos um pouco para jogar bola ou soltar pipa, mas depois do almoço era sagrado jogar, pelo menos, uma hora.

Mas empacamos no final, quando o grupo de heróis deve enfrentar a besta do mal. Não conseguíamos achar a entrada da covil mostruoso no último labirinto. Era frustrante. Até que meu irmão mais novo, numa noite insone, nos acordou animado dizendo que havia vencido o jogo. Desconfiei na hora. Como pode um pirralho ser mais perspicaz do que 5 adolescentes nerds e sem nenhuma habilidade social? Não dava para acreditar. Contudo lá estava: os heróis comemorando (CG), o vilão ao chão, sem a cabeça, o sangue vertendo aos borbotões. Era irrefutável, o moleque havia vencido onde todos nós falháramos.

Porém, quando chegou a conta telefônica do mês minha mãe nos chamou para uma reunião na sala. Havia um débito equivalente a R$15,00 em nome de uma empresa de São Paulo. Fiquei pasmo. Meu irmão estava tão frustrado por não conseguir vencer que ligou para a empresa representante da software house produtora do game, e pagou por uma dica. Pagou!! Em nome dos Irmãos Mário, isso é trapaça, é uma vileza sem tamanho. Ficamos arrasados. Vencer um jogo de videogame era devassar completamente os recônditos mais obscuros da entidade mais temida e admirada entre os jogadores de videogame: “o cara que fez o jogo”.

O cara que fez o jogo era O cara. Ele determinava os desafios, as recompensas, o valor de cada jogador. “Virar” um jogo significava vencer o Cara, e isso não tinha preço. “Eu venci o Alex Kid” dizia o moleque na escola. “Nossa” todos reagiam. “Como você passou aquela fase da tesoura, papel e pedra?”. “Ihh, essa foi fácil, você precisa ver mais para o final, o monstrão que aparece”. Estávamos quase vencendo o cara que fez o jogo quando meu irmão fraquejou. Até hoje encho o saco dele por causa disso.

Hahahaha. Eu adoro videogame.

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2 Comments

  1. Paulo Paiva

    Putz, eu também Daniel, vc sabe. Mas eu não consigo me controlar, por isso não jogo. Na última vez que eu instalei um jogo no meu computador, foi como se eu tivesse saltado um mês da minha vida! Videogame é foda, quer dizer, NÃO é foda.

  2. Muito boa essa… muito boa. Pagar por uma dica de videogame é como pagar por sexo com uma loura gostosa. Você chega lá, mas NUNCA conquistou realmente o prêmio!!

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