Michel de Montaigne, homem público em Bordéus:
(…) Quem não me quiser ser devedor da ordem e da doce tranqüilidade que acompanharam minha gestão, pelo menos não me poderá negar a parte que nelas me cabe por temperamento. Por natureza tanto amo a felicidade quanto a sabedoria, e prefiro dever meus êxitos à graça de Deus a devê-los à intromissão de minha vontade. Já disse bastante de minha incapacidade para os negócios públicos; há pior porém: essa incapacidade não me desagrada e não procuro curar-me dela. Tampouco me satisfiz a mim mesmo com o desempenho desse cargo, porém cheguei mais ou menos ao que me propusera, tendo ido mesmo além do que prometera; pois em geral prometo menos do que posso e espero cumprir. Tenho para mim que não deixei nem ofensas nem ódios; quanto a deixar saudades, foi coisa a que não aspirei demasiado. (…)
Ensaios, Livro III, Cap. 10: Do controle da vontade.
Morra de vergonha, Lula.
daniel christino
Cara, eu adoro Montaigne. Sou um leitor tardio e só consegui apreciá-lo corretamente quando levado pelas mãos de um mestre. Quem dera todo moralista conseguisse ser tão suave e delicado e, ao mesmo tempo, enfático e firme como Montaigne. Isto sem falar na extraordinária sagacidade ao analisar emoções e comportamentos humanos, sempre no controle completo de seu ceticismo, vazado num estilo deliciosamente irônico. O moralismo já viveu dias melhores.
paulo paiva
Putz, dei uma googlada no Montaigne e vi que eu TENHO que ler esse cara.