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Racismo na UnB? Duvido

Morei cinco anos no alojamento da UnB, conheço bem aquela “ilha”. Inclusive um dos contos d’A Tragicomédia Acadêmica trata dele: Memórias da Ilha do Capeta. Por isso sei que sempre moraram africanos ali, em geral oriundos de países de língua portuguesa – Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau – sendo os demais francófonos ou anglófonos. A presença deles sempre me fez sentir que eu estava matriculado numa universidade que, se não era uma instituição de primeiro time, era ao menos uma de algum renome internacional. (Seria de primeiro time se estudantes do primeiro mundo brigassem por vagas ali.) No bloco B, tive até mesmo um príncipe como vizinho, o qual costumava, em datas específicas, esperar uma mercedes dourada para levá-lo à embaixada de seu país. Sim, eis o outro lado da questão, o lado oculto: a grande maioria dos africanos que estudam na UnB são endinheirados. Andam bem vestidos, aprumados. São em geral saudáveis, altos, bonitos. Dentre as mulheres lembro de algumas deslumbrantes, com ar distinto e de excelente gosto no vestir. Os homens, se não estão de gravata, compartilham com as mulheres o hábito de usar no mínimo roupas ocidentais de corte elegante ou trajes africanos coloridos com certa pinta de nobreza. Sim, também são vistos em jeans e camiseta, mas enquanto boa parte dos brasileiros se comporta como se estivesse numa comunidade hippie, os africanos parecem estar em Oxford. Bem, no início, parecem. Mas depois…

Não me recordo de hostilidades para com eles, ao menos não tão ostensivas quanto os incêndios criminosos desta semana. (Houve o caso isolado onde um africano gay – ou seria um jamaicano gay? -, após assediar e tocar um estudante heterossexual descendente de coreanos em suas partes, quase apanhou com um bastão de beisebol. Só.) Mas me lembro do ressentimento que surgia ora aqui, ora ali, em meio a conversas de “cachimbo da paz” e a cochichos de corredor, entre aqueles que se sentiam insultados pela riqueza dos estrangeiros: “Pô, pra gente conseguir uma vaga aqui tem de provar que é ‘carente’, pobre… Já esses caras têm carros e o apê cheio de eletrodomésticos!” (Veja, por exemplo, a queixa do nigeriano Muyiwa Sean: alguém chegou a rasgar os pneus do seu carro. Ouviram? Do seu carro.) Alguns estudantes “carentes” ditos “conscientes”, isto é, estudantes de história, ciências sociais, filosofia, etc., especulavam se aqueles africanos pertenceriam ou não à casta nobre de alguma tribo que certamente estaria explorando todo um país para mantê-los ali. Em suma: havia a semente do ódio de classe, um vírus marxista. Não que não houvesse tal possibilidade, isto é, a possibilidade de alguns daqueles estudantes serem filhos de tribos opressoras – sabemos que as guerras intertribais são recorrentes -, mas o critério para averiguar quem fazia parte da tal classe exploradora era sempre o econômico. Não passava pela cabeça de ninguém que um daqueles estudantes poderia ser filho dum empresário africano próspero, e não filho de algum ditador. Se bem que, para a mente marxista, ser empresário é ser opressor, e ser opressor é ser capitalista. Mas… e se fossem filhos de políticos socialistas corruptos e totalitários? Ah, isso era impensável. Enfim, a timidez ocasionada pelo fato de se estar num país estrangeiro, ou por não falar bem o português, apenas aumentava a aparência de “metidos” e de “presunçosos” dos africanos. Sem falar em suas festas barulhentas, não abertas aos demais moradores, regadas a bebidas caras, e a conseqüente confusão e sujeira nos corredores. Como se não estivessem em Oxford, mas apenas num paisinho tipo… hmmmm… o Brasil. (Veja o que foi pichado nos muros do alojamento: “Morte aos playboys africanos”.) Assim, sendo o Brasil um país cujas raças sempre ultrapassaram seus limites genotípicos para mesclar-se com as demais – vide Gilberto Freyre – o racismo, na minha opinião, seria o último fator a causar semelhante ato de vandalismo. Se não for o ódio de classe – transfigurado em xenofobia, uma vez que os únicos endinheirados a conseguir vagas ali oficialmente eram estrangeiros -, então é alguma treta pessoal, tal como a que envolveu o estudante coreano. (Festas e desrespeito? Provavelmente.) Não há de ser racismo puro e simples. Nos cinco anos que ali vivi (1992-1997), cheguei a imaginar que algo assim poderia ocorrer, mas jamais me veio à mente uma situação causada por motivos raciais, mesmo porque, entre os ressentidos, havia negros também. Então eu pergunto: que conseqüências isto terá?

As conseqüências estão aí:

A decana de Extensão da UnB, Leila Chalub, divulgou na tarde desta quinta uma nota em que formaliza a criação do programa “A indignação é maior que o medo: Programa Institucional de Combate ao Racismo e à Xenofobia na UnB“, criado em resposta ao suposto incêndio criminoso. Trata-se de um projeto que pretende recolocar na pauta institucional os compromissos com a denúncia da existência do racismo e seu combate de forma mais ativa.

De acordo com a decana, são pontos concretos e indispensáveis neste momento a implantação de um disque-denúncia e a criação de uma disciplina obrigatória sobre História da África. O programa envolverá ainda a atuação, pela extensão, nas escolas do Distrito Federal e Entorno a fim de “desencadear o estímulo da confiança de crianças e adolescentes negros em sua capacidade de realização”, disse, na nota, Leila Chalub.

É claro que os defensores do estatismo tinham de lucrar com fatos semeados por eles próprios. Acham que o Estado deve corrigir as desigualdades sociais, acabam estimulando o ódio de classes e, quando este estoura, dizem que é racismo, criando, pois, mais mecanismos para controlar e vigiar a sociedade. As pessoas andam com a percepção tão embotada que não conseguem detectar o avanço dos tentáculos do Estado sobre suas vidas. A Inconfidência Mineira foi um levante contra a Coroa portuguesa porque esta se apossava de um quinto da renda dos brasileiros. Hoje, nosso governo passa a mão em dois quintos da nossa renda e ninguém faz nada visando uma reforma tributária real e justa. Todos nós temos vários amigos gays, amigos negros e amigos negros que são gays (tenho representantes nos três casos) e ficam tentando nos fazer engolir que somos racistas e preconceituosos. A aversão ao diferente é uma reação natural e espontânea que só pode ser mitigada pela elevação moral e espiritual de cada indivíduo, o que não advém senão por esforço e iniciativa pessoal. As leis, o Estado, os estatistas, os onguistas, os intelectuais e políticos iluminados não podem senão usar tais ocorrências como pretexto para nos subjugar ainda mais, semeando a desconfiança e institucionalizando o que antes não era nada mais que eventual. Já foi dito: somos todos filhos de Deus. César não tem nada a ver com isso.

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Agora, cá entre nós: estudantes costumam saber de fato o que realmente está acontecendo na sociedade? Os revolucionários – sejam eles soviéticos, castristas, maoístas, nazistas, talibãs, etc. – sempre arrebanham seus primeiros seguidores em meio aos estudantes. Falando nisto, encontrei esse vídeo no site Vermelho.org, o site da “esquerda bem informada”:

me dizia a Pórtia: “Nós, da Grande Fraternidade Branca, costumamos chamar os jovens de ‘humanos imbecis'”. Por que será?

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5 Comments

  1. Ronaldo Brito Roque

    Ótimo texto. Valeu.

    Abraço,
    Rbr

  2. Outra possibilidade aventada pelo blog Notícias do Planalto: os incêndios podem ter sido provocados por africanos mesmo, uma vez que não há qualquer unidade entre as diferentes nações ali representadas. Ou seja: as brigas entre os africanos de distintos países é freqüente…
    {}’s

  3. Luciano Hanna

    Yuri,

    Já trocamos algumas farpas aqui. Agora, não tenho o intuiuto de polemizar, ao menos com você.
    Morei em Brasília dezoito anos. Hoje resido em BH. Não sei, realmente, se Brasília é mais ou menos racista que outras cidades brasileiras, e, em especial, Belo Horizonte. Conheci muito a UNB e vários amigos foramara nessa universidade.
    Eu penso, em experiência própria, que há um certo preconceito em realção ao negro, mas nada que chegue perto do que ocorre nos EUA e na Europa.
    Cansei de ouvir, de conhecidos, amigos e etc, que voltavam dos EUA (já fui lá e já morei um ano na Europa) que os negros americanos eram tão racistas quanto os brancos. Isso sempre me pareceu meio falso, alguma coisa não encaixava. Então desenvolvi uma teoria sobre o racismo, adiante, resumidamente, exposta.
    O racismo requer a presença de dois requisitos: a percepeção de que “eu” sou DIFERENTE de o “outro”; e que o “eu” é superior ao outro.
    Penso que somente com a conjugação dos dois requisitos (ou pressupostos, para quem os diferencia, pois pressupostos são dados relativos à existência de algo)seja possível falar em racismo.
    O segundo requisito, em minha opinião, é imprescindível, pois o racismo envolve um juízo de valor, contido na idédia de que alguém é superior a outro. Só o primeiro rerquisito – a diferencça – não é bastante para caracterizar o recismo, já que o próprio termo está impregnado de um teor valorativo.
    Resumidamente, é isso. Assim, não julgo que os negros americanos, ao menos até hoje, sejam racistas em relação aos brancos. Isto porque, apesar deles se considerarem DIFERENTES, não se julgam, ainda, SUPERIORES.
    Eu sei que isso nada tem a ver com a discussão sobre a UNB, mas me deu vontade de externar essas idéias.

  4. Lucas Allan

    Luciano Hanna,

    Nos estados Unidos hj existe sim um grande preconceito de negros contra brancos e vice e versa, tanto é que existem seriados americanos que só se tem negro, existem bairros onde moram somente negros, e os negros dela não são como aqui, o negro la e na maioria das vezes rico anda bem vestido e arrumado…

    Não intendo por que que não se pode existir racismo de negro contra branco?

  5. Luciano Hanna

    Lucas Allen,

    Quem disse a asneira de que não pode haver racismo de negro contra branco? Aliás, preconceito não é, e nem nunca foi o mesmo que racismo.

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