Acabei de assistir ao filme do Sean Penn sobre o livro do Jon Krakauer, Into the Wild. O belo filme parte de uma premissa, para mim, equivocada. A idéia de natureza e, por tabela, de ser humano. A citação de Byron, ao início, é exemplar: There is a pleasure in the pathless woods; / There is a rapture on the lonely shore; / There is society, where none intrudes, / By the deep sea, and music in its roar; / I love not man the less, but Nature more…
Byron é um romântico e sua visão da natureza é igualmente romântica. Que um jovem de 21 anos se sentisse atraído por esta concepção é natural. É exatamente o modo como o personagem se define, um “viajante estético”. Puro Sturm und Drang. Entretanto, assim como o romantismo, Alexander Supertramp é cego para as revoluções inconscientes de sua afetividade, o verdadeiro subtexto de seu amor pela natureza.
É um filme de formação, sem dúvida. Assim como o Wilheim Meister de Goethe, Supertramp encontra os mais diferentes tipo humanos, desde hippies em crise existencial até o velho viúvo que lhe abre a chave de interpretação para o próprio passado. Mas um século que já conheceu a psicanálise e a psiciologia cognitiva não pode, simplesmente, deixar-se levar pela idéia de uma natureza como caminho para o Deus interior. Infelizmente Alex se embrenha cada vez mais no mato para encontrar, ao final, exatamente aquilo do qual estava fugindo: a humanidade. Pobre menino, andando em círculos atrás de si mesmo, perseguindo uma idéia de natureza há séculos perdida.
Todos que encontra parecem assombrados com sua espontaneidade e sagacidade. Estão, na verdade, apaixonados pela juventude que o tempo lhes roubou. Estão apaixonados pela natalidade, pelo novo começo que ele representa. Alex representa as possibilidades que todos eles não aproveitaram. Mas não vai aí dose alguma de ressentimento, só carinho. Todos o observam com olhos humanos que ele claramente ignora, em sua ainda infantil negação da civilização.
Ao assistir o filme, ao contrário de outros amigos, não me deu vontade de voltar às montanhas ou às trilhas. Na verdade senti um orgulho danado de já ter ido e voltado.
filipe
diogo, queria deixar minha opinião sobre o trabalho do sean penn, que há muito vem me surpreendendo. seus filmes são dotados de uma qualidade peculiar. embora tendo dirigido 3 longas (e escrito seus respectivos roteiros) – the indian runner, the crossing guard e the pledge – o sean penn conseguiu, com muito sucesso, desenvolver um estilo próprio, uma espécie de personalidade pro seu trabalho. suas histórias sempre recorrem à violência, desesperança e a famílias em crise, onde seus protagonistas buscam a redenção e o equilíbrio.
no entanto, seus ótimos roteiros não serviriam muito se ele não conseguisse arrancar ótimas atuações de seus atores. grande exemplo é o viggo mortensen (até então desconhecido), no the indian runner, primeiro filme do sean. the crossing guard e the pledge contam com trabalhos intocáveis do jack nicholson (embora esse já seja “macaco velho”). não tive oportunidade de conferir o into the wild.
mas tratam-se de filmes pouco aclamados do ponto de vista comercial, sem grande sucesso de bilheteria. não acho isso um problema, claro. é um luxo que somente alguns diretores conseguem adquirir.
daniel christino
Obrigado pelo comentário, filipe. Mas tenho notado que você anda confundindo os meus posts com os do Diogo. O que me intriga nisso é que minhas idéias são praticamente opostas às dele. Será que o wordpress está trocando os nomes? Se for um problema técnico, avise, por favor.
Eu acho o Sean Penn um diretor um tanto vacilante, bucando um sentido estético e narrativo próprio e isso é realmente louvável. Neste filme ele fez um trabalho fantástico. Por exemplo, a narração em off em momento algum é redundante, porque ele se entrega a uma poética da imagem. O filme alterna com competência a narrativa clássica e a ilustração das tonalidades afetivas do personagem. Quando Alex está só, a interação se dá entre as imagens da natureza (florestas, rios, oceanos, céu, etc.) e as citações dos livros, construídas ao modo de um fluxo de consciência. Quando a narração mergulha na psicologia do personagem, o Sean Penn jamais deixa o filme escorregar para o psicologismo. Há sempre uma dimensão existencial (filosófica), um espaço de intimidade original, que não pode ser resumida a uma coleção de clichês psicanalíticos. Ao mesmo tempo, ele não deixa o personagem se converter em símbolo e sua história em alegoria. Isso é muito bom. A vitalidade da natureza é espelhada no olhar sobre o personagem. Alex é sempre alguém possível, quase real.
Mas a idéia romântica da natureza como guia para a alma do homem, uma apropriação que o romantismo faz de Rousseau, simplesmente não é forte o suficiente para sustentar esta visada existencial. Eu não faria o que o Alex fez, porque não é necessário afastar-se da civilização para reencontrar o valor da humanidade. Na minha opinião o caminho não é esse, muito pelo contrário; o necessário é mergulhar nas relações humanas. E ele descobre isso tarde demais.
yuri vieira
Problema técnico com o WordPress não é. O único problema que temos, e que me faz rachar o chão de tanta preguiça de resolver, é este das datas escritas numa mistura de português com inglês, uma coisa bizarra.
Ainda não vi o filme.
{}’s
fiipe
daniel,
mil desculpas. o yuri tem razão, não se trata de um problema técnico. o que está acontecendo é uma espécie de “dislexia computacional” (existe algum histórico sobre isso?). eu tenho convicta noção de que estou me dirigindo a vc, daniel, mas escrevo o nome do diogo. não pense que não noto as suas perculiaridades com relação à linha de raciocínio. estou ciente, por exemplpo, de que foi vc quem recomendou-me o filme do ian mcckellen, mas por uma questão de prioridades, esqueci completamente de pedir sinceras desculpas pelo equívoco.
venho acompanhando teus posts há algum tempo com muita satisfação. eles são realmente interessantes. prometo não cometer o engano novamente.
abraço
Marcelo Rodrigues
DICA:
Site sobre filmes, literatura e filosofia: imperdível:
http://www.perfectaprudentia.com