E não é que a história sobre a ONG Sociedade dos Amigos de Plutão era, na verdade, estória (para usar uma distinção bem fora de moda). Por isso eu sempre digo: cuidado com as identificações fortes demais em política. Parece a alguns tão clara a essência maligna de outros, parecem-lhes tão claros os fatos, que não lhes custa muito tomar como verdadeiras informações falsas, se estas confirmam o caráter imaginado destes outros (como disse o Olavo a respeito da ciência: os fatos tornam-se meramente uma ilustração do que o intelecto, a priori, descobriu por si). E isso acontece, principalmente, quando o pathos do texto é o desprezo.
Curioso como esquecemos facilmente o caráter singular dos indivíduos. Quando me dizem que a maioria dos conservadores é hipócrita – escondem interesses esgoístas sob uma fachada moralista -, penso: “será que o Yuri seria capaz disso?”. A resposta, obviamente, é não. Logo, deve haver algo de bom em ser conservador e, com certeza, tem a ver com esta característica moral. Faço o mesmo com meus amigos esquerdistas. Quando pregam por aí a essência totalitária e mau-caráter da esquerda, penso: “Será que meu amigo Ricardo é totalitário e mau-caráter?”. A resposta, obviamente, é não. Logo, deve haver algo de bom em ser esquerdista e, com certeza, tem a ver com uma legítima preocupação social. Emparedados entre a amizade e suas conclusões lógicas, muitos optam pela saída muito cafajeste de reclassificar os amigos como idiotas ou estúpidos (embora “idiota” seja a preferida, por sua óbvia origem etimológica). É de uma prepotência inimaginável. Primeiro, porque quem usa este expediente supõe, sempre, estar correto, mesmo que não consiga explicar o porquê. Segundo, ele acredita que a verdade é uma disjunção exclusiva. Deveria estudar um pouco de lógica modal.
Ah, sim! E mando ao inferno qualquer discurso aterrorizante – o medo é uma arma totalitária -, cujo objetivo seja me fazer ver um amigo como hipócrita ou mau-caráter ou estúpido. O resto é assunto para a psicanálise.
yuri vieira
Antes de publicar o artigo do Carlos Chagas, chequei em vários sites para verificar se realmente pertencia a ele e se havia sido veiculado em jornais sérios. É fácil agora para qualquer babaca comentador de blog alheio aparecer com suas conversinhas irônicas, afinal, só ficou sabendo do primeiro texto – o fake – depois da publicação do desmentido. Há riscos em toda vanguarda, mesmo a da informação e não tenho medo deles. Eu poderia ficar chateado com um jornalista que decide publicar um artigo fantasioso quando antes só publicava fatos, mas não estou. Estou é dando risada e achando ótimo, pois entendi o ponto: o PT já foi capaz de tantos absurdos que qualquer outro absurdo que se invente sobre ele é uma possibilidade. Basta aguardar um pouco e poderá vir à tona uma “Sociedade Petista dos Amigos do Demônio”. Ah, caramba, já existe, ela se chama Foro de São Paulo e o tal demônio atende pelo epíteto de Comandante Castro. 😛
yuri vieira
Um leitor – Mario – me enviou o texto abaixo do mesmo cara através de quem havia checado a informação: Jaime Leitão.
bruno costa
Para mim, não muda nada. O PT poderia perfeitamente ter sido capaz de uma barbaridade dessas, como já demonstrou inúmeras vezes ao longo desses anos. Coisas muito mais graves do que essa boutade infeliz do Carlos “doença” de Chagas, foram e vem sendo feitas pelos desmandos do Cefalópode-mor e seus moluscos amestrados. E anotem aí (nem vou registrar em cartório pois não tenho tempo nem grana para essas veleidades à la Jucelino da Luz): se houver mesmo essa CPI das ONGs ficaremos sabendo de coisas do arco-da-velha!
yuri vieira
Segundo a rádio Agência Senado, vai rolar a CPI. Os ongueiros devem estar botando fogo em arquivos mais ou menos como os nazistas fizeram na iminência da chegada dos Aliados…
paulo paiva
Daniel,
Vc acha que eu tenho algumas opiniões equivocadas, assim como eu acho que vc tem algumas opiniões equivocadas. Normal. Se assim não fosse, não discutiríamos sobre o monte de coisas que discutimos normalmente, o que faz parte do prazer de nossa convivência. Daí, há uma distância muito grande em classificá-lo como idiota. Portanto, porque seria de uma “prepotência inimaginável” achar que um amigo está equivocado, achar que ele está sob o domínio sedutor de uma ideologia perversa, que adentra na consciência envelopada em belos conceitos humanísticos? Eu mesmo já estive sobre a influência dessa ideologia. Agora, nesse momento, eu tenho certeza de que estou certo em abraçar a ideologia liberal, mas posso estar equivocado. Não acredito que esteja, mas posso. Já me enganei demais na vida pra saber que sempre poderei estar enganado. Sendo assim, não vejo o mínimo problema em achar que meus amigos possam se enganar! Ou será que, por serem amigos, serão infalíveis? Os termos “idiota” e “estúpido” são por sua conta.