Categoria: cinema Page 1 of 31
Semanas atrás, conversando com um cineasta local, comentei sobre a idéia de lançar o curta-metragem De Partida — dirigido por mim e pelo Pedro Novaes — apenas pelo You Tube. Enviaríamos o link para Deus e o mundo e depois marcaríamos um encontro numa choperia. O figura deu um sorrisinho e disse que isso era pura preguiça da minha parte, que valia a pena sim organizar um lançamento nos moldes tradicionais, que esse negócio de lançar filmes pelo You Tube era uma heresia estética e tal. (Sei, como se as projeções digitais das nossas salas tivessem alguma qualidade…) Mais tarde, conversando com o Pedro, decidimos que o lançamento ocorreria mesmo durante a projeção na VIII Goiânia Mostra Curtas, o que se deu no início deste mês de Outubro. Não que não quiséssemo lançá-lo pelo You Tube, mas porque o curta ficou pronto justamente a tempo de participar da seleção do festival. Enfim… hoje, leio na revista Isto É Dinheiro (N.578):
Lançamento no You Tube
O diretor de cinema Wayne Wang, autor de Cortina de Fumaça e de O Clube da Felicidade e da Sorte, encontrou uma solução para lançar seu novo longa-metragem sem gastar dinheiro. Ele disponibilizou seu filme The Princess of Nebraska para ser visto gratuitamente no portal You Tube. [O filme está bloqueado no Brasil, mas vc pode vê-lo através de um proxy.] Com um orçamento apertado, o chinês percebeu que teria dificuldades para estrear nas salas de cinema e decidiu atingir o público pela internet. A mesma estratégia tem sido usada pelo polêmico diretor Michael Moore*, autor do documentário Tiros em Columbine.
Lançar um longa-metragem no You Tube é mais ou menos como lançar um romance integralmente no formato ebook: apenas alguns poucos irão fruí-lo por inteiro, mas a maioria se sentirá seduzida e correrá atrás da versão mais “amigável” da obra. Fazer pouco caso de uma tecnologia como a que temos hoje à nossa mão é pura frescura de puristas sem o menor sentido da realidade.
* O Michael Moore pode ser desonesto, mas é muito esperto em termos de marketing…
Nosso curta-metragem ESPELHO foi escolhido como melhor curta-metragem da semana — na segunda semana de Julho deste ano — pelo site italiano Mooovie, o qual tem o objetivo de reunir em site, livro e DVD la prima selezione di film di qualità. A resenha:
Vi sarà capitato sicuramente nella vita di imbattervi in un film sperimentale incomprensibile e noioso. In questo simpatico cortometraggio brasiliano il pubblico del cinema viene messo a confronto con la propria immagine riflessa. Quando la sperimentazione non è gradita, la provocazione accende solo una discussione sterile e alquanto pericolosa… con finale a sorpresa. Dedicato ai decadenti che si atteggiano ad intellettuali.
A propósito, levando em conta tanto a versão legendada quanto a não-legendada, o curta ESPELHO já foi assistido 11.002 vezes no You Tube. Também está disponível no Metacafe e no MySpace.
* “A chi altri non piace il mio film?” = “Alguém mais não gostou do meu filme?” (Fala do personagem interpretado pelo Pedro Novaes.)
Enquanto alguns acham que o Second Life não passa de um joguinho, jovens artistas estão usando o programa para criar histórias em quadrinhos, animações e fotos/pinturas altamente sofisticadas.
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Cartaz da exposição “Rinascimento Virtuale (Renascimento Virtual)” no Museu de História Natural de Florença, Itália como parte do Festival della Creatività:
Uma animação de Tracechops (machinima):
Uma HQ de Velvet Flytrap para a After Hours Magazine:
Um retrato da Olívia Palito, de Axelia:
Pois é, onde quer que você esteja (ainda que seja num mundo virtual), Zeit ist Kunst.
Paul Newman Dies at 83 (obituários do NYT normalmente são mais bem feitinhos)
Sacha Baron Cohen (Borat) invade um desfile para gravar cenas do seu novo filme: Bruno: Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Male. Para mais detalhes do desfile, e da prisão de Sacha, clique aqui.
Do Los Angeles Times:
The Hollywood A-listers of the 1930s and 1940s helped pave the way for smoking in the movies that continues today, according to a study of endorsement contracts between the studios and tobacco companies and advertisements from that era.
A coisa que mais me irrita no Brasil é a falta de senso de proporções. Já não se distingue mais realidade da ficção ou paranóia e pior do que isso só a busca da analogia em coisas completamente diversas, incomparáveis. Porém, às vezes, este disparate comparativo serve mesmo para deixar as coisas às claras — ou às luzes, como preferem os mais espertinhos.
Hoje o cineasta Bruno Barreto, diretor do filme, “Última parada 174”, que ganhou a chance de tentar um Oscar, declarou que “o ônibus 174 é o nosso 11 de setembro”. Coisas deste tipo — principalmente aquela cena patética do final de Carandiru — deixa claro que o Brasil não precisa de cineastas, principalmente quando tungadores do erário. Que tenham lá uma idéia cretina na cabeça e uma câmera na mão, vá lá, desde que seja com o dinheiro deles.
Entretanto, a comparação de Barreto não é lá de toda idiota. Em verdade ela nos mostra o tipo de país que somos — ou que os Barretos queiram que sejamos. Enquanto os americanos se aterrorizam com um grupo milionário de tarados muçulmanos; aos brasileiros basta um simples delinquente que toma um ônibus. Ou quem sabe um navio de ajuda humanitária cobiçando um petróleo que está a 7 mil metros e alguns bilhões de dólares abaixo de nós.
Mas é claro que tal preocupação — e analogia — se dá somente entre pessoas interessadas no “drama humano” por detrás do proselitismo. São daquele tipo de pessoas que conseguem enxergar uma relação muito próxima entre um show da Madona e as eleições americanas, e ainda jurar que isto é racional.
Digamos, por motivos de pura ironia, que seu nome era Christian, uma vez que se mostrou tão irritado — em outra conversa velha de um ano, que agora não vem ao caso — ao tratar das “desprezíveis” raízes cristãs (the christian roots) do Ocidente. Christian, um diretor de cinema brasileiro, basicamente de curtas-metragens, me foi apresentando como sendo curador de um relevante festival de cinema do Rio de Janeiro. “Não se preocupe”, me disse, “pelo que ouvi falar a respeito do seu filme, com certeza irei gostar muito”. Eu não estava preocupado, mas quis saber o que ele ouvira. “Ué, bróder, me disseram que o filme era uma porrada no estômago. Fiquei curioso. Se eu curtir, ele poderá ser selecionado pro meu festival.” Estávamos na festa de encerramento de mais uma edição da Goiânia Mostra Curtas, taças de vinho à mão, enquanto, ao nosso lado, uma fila se formava para o bufê que já começara a ser servido. Era noite e o pátio da Secretaria de Cultura estava abarrotado de cineastas, atores, políticos, empresários e culturetes em geral, todos muito satisfeitos em participar de um evento do gênero. Era como se uma atmosfera cosmopolitana tivesse subitamente descido sobre a cidade. Nada como testemunhar que o cinema goiano, em particular, e o brasileiro, em geral, parecia ter finalmente tomado impulso — muito embora não se soubesse exatamente em qual direção…
O rega-bofes patrocinado involuntariamente pelo contribuinte seguia seu curso, enquanto eu, Christian e o também cineasta João Novaes prosseguíamos rindo e conversando sobre temas diversos. A certa altura, lembrando-me da polêmica recente a respeito do sucesso do longa “Tropa de Elite”, decidi indagar:
“E aí, Christian, você gostou do Tropa de Elite? Seria interessante saber de um cineasta carioca se o filme afinal é fiel ou não à realidade.”
O cara mudou de cor instantaneamente, ficou branco, em seguida vermelho, então franziu o cenho e começou a disparar mil petardos contra o filme. Falava na velocidade de uma metralhadora, uma dessas que os traficantes costumam usar nos morros. Mais baixo que eu, Christian às vezes me olhava por cima dos óculos, o que tornava suas sobrancelhas mais ameaçadoramente expressivas. Dizia que o “Tropa” era o filme mais mentiroso e ridículo de todos os tempos, uma enganação com DNA hollywoodiano à qual apenas a massa estúpida poderia dar algum crédito.
“Acho que então faço parte da ‘massa estúpida'”, comentei, “porque achei o filme excelente.”
Vale mesmo pelo tal flashback do título original —Flashbacks of a Fool virou Reflexos da Inocência.
Joe (Daniel Craig; também produtor do longa) é um astro de Hollywood que vive um presente autodestrutivo em meio a drogas, orgias, egocentrismo e muita babaquice (pelo menos o personagem não é um yuppie de Wall Street ou um alto executivo de grande empresa). No momento em que se descobre em decadência, recebe também a notícia da morte de seu melhor amigo de infância e juventude.
Essa primeira parte é um tanto monótona. Quando o filme muda para a adolescência de Joe, as coisas melhoram e muito. A partir daí, o filme ganha beleza e maturidade.
Numa vila no litoral inglês, durante as férias de verão nos anos 1970, Joe descobre o primeiro amor, o sexo e o peso dos acontecimentos —a cena em que ele e Ruth dublam If There Is Something, do Roxy Music, é impagável. São os fatos que o levarão a perder a tal inocência do título brasileiro.
É fácil perceber que algo grave o fará se transformar no babaca do presente, mas a história é muito bem conduzida, sem pieguice, pelo diretor Baile Walsh em sua estréia em longas —ele é autor de videoclipes que tem em seu currículo bandas como Oasis e INXS; no filme, além de Roxy Music, destacam-se músicas de David Bowie.
Quando ela retorna ao presente, perde bastante força —Joe volta à cidade natal para o enterro. E a pequena redenção que ele consegue no final soa irreal e forçada. Reflexos da Inocência poderia muito bem ter se centrado muito mais no flashback.