blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: cinema Page 24 of 31

Bob Dylan e Martin Scorsese

Bobo DylanMês passado assisti ao documentário biográfico No Direction Home: Bob Dylan, dirigido por Martin Scorsese. Muito bom, apesar de ele se fixar tão somente no período que vai de 1961 a 1966, o que, claro, não é pouca coisa, já que mostra a metamorfose dum promissor jovem cantor de música folk num compositor de canções de protesto e, finalmente, deste último no Bob Dylan literalmente elétrico e plugado de Like a Rolling Stone.

Vale a pena detectar, nos 201 minutos de filme, o gênio, o talento, a presença de espírito e a honestidade desse figura que não apenas negou todos os rótulos que tentaram lhe impingir – cantor folk? de protesto? puff! – como fez questão de sublinhar sua completa descrença para com movimentos políticos. Participou de um ou dois festivais de protesto, foi a um grande comício em Washington junto a Martin Luther King e pronto, já sacou qual era a dessa gente que dá o sangue pela política. Valeu a experiência? Valeu, agora bola pra frente. E até hoje Dylan não entende o porquê de a imprensa querer saber o que artistas como ele, gente tão despreparada para tal, pensam sobre política. (Isso é que é um cara lúcido!)

LavourArcaica

Neste final de semana que passou, revi o filme LavourArcaica, de Luiz Fernando Carvalho. Chego à conclusão de que se trata de um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Em primeiro lugar, importante ressaltar, é um raríssimo exemplo de roteiro adaptado de peça literária em que o filme está à altura do livro que o originou. E de que altura estamos falando! Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar é, sem dúvida, um dos maiores livros brasileiros de todos os tempos. A ousadia de adaptá-lo demonstra a coragem do cineasta. O mestre Hitchcock, por exemplo, que não era bobo nem nada, disse a François Truffaut que era uma loucura tentar trazer para a tela grandes romances. “Essas histórias já encontraram sua melhor forma na literatura. O filme estará sempre abaixo”, diz ele. (Truffaut achava que Alfred deveria filmar Crime e Castigo por considerá-lo uma típica trama hitchockiana).

Que viva o imperador

37° no termômetro da Henrique Schaumann. Depois de sushi à sombra das árvores no Sumaré, me abrigo no ar condicionado do Arteplex e nas paisagens gélicas de A Marcha do Imperador

Não sei dizer se foi o melhor documentário que já vi. Mas com certeza foi o mais bonito.

As paisagens do filme de Jean Luc Jacquet são magníficas. E, de fato, a vida do pingüim imperador vale um romance. A idéia de misturá-los (vida e drama) como forma narrativa para mostrar como eles vivem — e sobrevivem — no mais inóspito dos hábitats funciona perfeitamente. Não por acaso foi o segundo documentário mais visto de todos os tempos, atrás apenas de Fahrenheit 9/11, de Michael Moore.

No deserto branco, o embate entre a vida e o inverno é tocante. Quem vencerá?

[Ao som de: Nina Simone / The Best of (s/d; Sum Records), em homenagem ao Pedro]

A Brave New World

Um filme que marcou muito minha infância foi “O Vingador do Futuro”. Nele, Schwarzenegger tem uma experiência de imersão total numa máquina de realidade virtual e vive uma aventura hollywoodiana, em contraponto à sua vida monótona. Já em “Matrix”, outro filme que enreda na mesma pergunta – “O que é a realidade e o que é fantasia?” -, Neo já nasce e vivencia diariamente uma ilusão, de onde terá que lutar para escapar e salvar a humanidade. São, enfim, dois filmes de ficção com visões hipotéticas de para onde a tecnologia poderá nos levar.

E independentemente de se para um futuro dramático como em “Matrix”, ou cômico como no caso de “O Vingador do Futuro”, a questão que merece consideração é que a tecnologia é a vedete dessa transformação e ela está mais próxima do que parece. No mundo dos Games.

Casa Vazia

Casa VaziaAssisti ontem a Casa Vazia, filme do diretor sul-coreano Kim-ki Duk, premiado com o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Veneza de 2004. O filme é muito bom, mas não me emocionou tanto quanto o maravilhoso “Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera”, do mesmo diretor.

Em Casa Vazia, Sun-Hwa é um jovem que passa seus dias invadindo residências cujos ocupantes estão fora. Enquanto passa seu tempo, ele lava as roupas dos moradores e conserta eletrodomésticos quebrados. Numa dessas casas, encontra Tae-Suk, abusada por um marido violento, e os dois iniciam uma silenciosa história de amor.

Juliette & The Licks

Juliette LewisSe eu ainda tivesse a cabeça que tinha quando, nos anos 80, acompanhava o movimento punk – inclusive indo a shows dos Inocentes, Garotos Podres, Replicantes, Cólera, etc. – se eu tivesse essa cabeça, estaria loucamente apaixonado pela fase vocalista da Juliette Lewis, aquela lolita que conhecemos no filme Cabo do Medo. Pena que essas garotas doidinhas já não me assustam mais. (A gente sempre se apaixona por quem nos causa temor y temblor. Ultimamente a Teresa de Ávila me parece infinitas vezes mais espantosa.) Juliette Lewis & The LicksMas até que a banda Juliette & The Licks faz, dentro de seu estilo podreira, um bom som. Lembra realmente a minha aborrescência. E a figura, claro, é das mais performáticas. E gata.

Anne Frank e o mundo menstruado

Assisti por acaso, no Telecine Cult, à parte final da adaptação de O Diário de Anne Frank, cujo livro li ano passado ou retrasado, sei lá. (Para quem não sabe é o diário real da adolescente judia que passou uns dois anos escondida, com outros judeus, em Amsterdam, durante a ocupação nazista. Morreu poucos meses antes do final da guerra num campo de extermínio.) Pois então, no filme, o diálogo final de Anne com um seu amigo reafirma, tal como no livro, e apesar dos pesares, sua fé no ser humano e na bondade de Deus. (Daí, creio, o valor do seu testemunho.) Mas o que me chamou a atenção não foi isto, mas a forma como ela consola seu interlocutor, dizendo que o mundo está apenas passando por uma “fase”, tal como ela e sua mãe passam às vezes. Ou seja – pensei com meus botões -, o mundo está menstruado, daí as cólicas e todo esse derramamento de sangue que vemos no dia a dia. E parece que ela tem razão. Só que atualmente o planeta não está apenas com TPM ou naqueles dias. Anda com diarréia humana, febre vulcânica, sarna florestal, tremores tectônicos, vômitos marinhos e coisas do gênero também. Segundo desconfio, o mundo vai passar por muitos maus bocados ainda. Talvez esteja para dar à luz, vai saber. O que estará para nascer?

Robin Williams no Actors Studio

Comentei ano passado sobre a entrevista dada por Robin Williams ao James Lipton no Inside Actors Studio. Foi fenomenal, nunca ri tanto na minha vida, as lágrimas correram. Mas o que eu não sabia é que um membro do público teve de sair de ambulância daquele teatro: deu tanta risada que lhe acometeu uma hérnia, isto é, quase morreu de rir – literalmente. Preciso dizer algo mais?

Go home? Yes! Yes!!

Nessa última semana assisti a dois filmes de guerra desses que nos deixam em pânico junto com os soldados: Black Hawk Down, do Ridley Scott, e… sim, American Soldiers, de Sidney J. Furie. É óbvio que o Ridley Scott deixa o Mister Furie no chinelo, mas não é este o ponto que me chamou a atenção. O primeiro filme trata de uma missão na Somália durante a qual cai um – e depois mais um – helicóptero americano. O segundo mostra um grupo rastreador de minas terrestres no Iraque, durante esta última guerra. (É foda ser americano. A confa lá nem acabou ainda e os caras já escreveram o roteiro, aprovaram e rodaram o filme. Power!! Power!!) Pois é, nos filmes que costumava assistir com meu pai quando criança – Os canhões de Navarone, A raposa do mar, A Batalha britânica, O Expresso de Von Ryan, etc. – testemunhávamos heróicos soldados levando a cabo, cheios de honra e valor, suas complicadas e perigosas missões. Às vezes o objetivo era um só – fugir – como em Fugindo do inferno, mas isso não porque estavam loucos para voltar pra casa (coisa de frescos), senão porque queriam voltar a combater o inimigo. Mas veio a guerra do Vietnã e… todo mundo já sabe o resto. O Horror! O Horror! Hoje, nos filmes, principalmente nos dois desta semana, a única missão que parece valer à pena, para os soldados, é obedecer aos brados anti-americanos de Go home! Go home! e… sair correndo pra casa. (Ninguém mais quer saber do Alerta ao Ocidente do Soljenítsin, aquele livro onde ele descreve vítimas de totalitarismo esperando em vão a chegada da salvadora cavalaria americana.) Os filmes de Ridley Scott e de Sidney J. Furie só começam depois que suas respectivas missões falham e os soldados, metidos na maior das enrascadas, precisam escapar de seus inimigos: missão lado B – go home!

“Americans, go home!!” e lá vai tiro.

“We’re trying!! we’re trying!!”, respondem os gringos – e sebo nas canelas.

A idéia é boa porque, além de criar uma situação na qual aflora o caráter de cada personagem, qualquer um poderá se identificar com aqueles homens desesperados, até mesmo um membro da Al Qaeda ou um guerrilheiro somali. Sim, porque no final das contas, na tela, a humanidade do inimigo desaparece e só vemos verdadeiros ogros (orcs, se preferir) tentando liquidar com os pobres sujeitos (gente como a gente), os quais obviamente – são americanos – matam muito mais. Para um membro da Al Qaeda, por exemplo, não há humanidade num norte-americano, logo… podem identificar-se também com os soldados norte-americanos do filme! E, cara, que meda, que nóia. A morte – ou pior, a imensa dor de perder um braço, uma perna, um olho – à espreita a cada segundo. Às vezes tenho a sensação de que o campo de batalha é um dos únicos lugares reais deste planeta. Infelizmente. Porque ali as pessoas desabrocham. Como no Amor…

Homenagem ao José Mojica Marins

Uma notícia para o dia de Finados: acabo de falar ao telefone com a Neide – escudeira do José Mojica Marins – e ela me disse que ambos estão viajando esta semana para Brasília, onde o “Zé do Caixão” receberá a medalha de Honra ao Mérito Cultural das mãos do nada honorável Lula. (O “nada honorável” é meu, não dela ou do Mojica.) O fato é que o Mojica merece, já estava passando da hora de ser reconhecido oficialmente. (Se é que isto tem lá alguma importância…)

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